‘O Brasil é a história de que mais gostamos’, diz executivo do Bank of America

País deve ser o motor da economia na América Latina em 2020 e um dos poucos a acelerarem o PIB, afirma economista

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Foto do author Luciana Dyniewicz

O Brasil é a “história” preferida na América Latina do Bank of America para 2020. Ainda que o País não seja o que vai crescer mais, ele será um dos poucos que apresentarão uma aceleração na comparação com 2019, o que torna essa “história” mais interessante, segundo o chefe de economia para a América Latina do Bank of America, Claudio Irigoyen.

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Com formação na Universidade de Chicago – a mesma do ministro da Economia, Paulo Guedes –, Irigoyen diz se preocupar com a possibilidade de choques atingirem o Brasil em 2020, inviabilizando um crescimento robusto. “Se não houver crescimento, vai ser difícil explicar que se está fazendo as coisas direito.” Ele também afirma que a recuperação da economia neste primeiro momento virá do consumo, já que as empresas ainda mantêm grande capacidade ociosa, o que inibe novos investimentos. A seguir, trechos da entrevista.

Há dois anos, o sr. afirmou que o Brasil não podia continuar tendo o consumo como único motor de crescimento. Isso não mudou até agora. É por isso que não aceleramos?

O Brasil passou por uma recessão forte, então a capacidade ociosa ainda é grande. A recuperação virá do consumo, porque, com capacidade ociosa, não haverá muito investimento. Isso pode durar até 2021. Depois, será preciso mais investimento para crescer de forma sustentável. 

'Tem de fazer reformas microeconômicas para diminuir custos', diz Irigoyen Foto: Felipe Rau/Estadão

O que fazer para acelerar?

Tem de fazer reformas microeconômicas para diminuir o custo de se fazer negócios. Por exemplo: há vários custos intermediários para exportar. Nessa área, há muito para melhorar e isso não é algo muito pomposo, como a reforma da Previdência. Nosso cenário base, por enquanto, é um crescimento do PIB em 2020 de 2,5%, mas pode haver choques. 

É possível o País manter essa taxa de 2,5% depois de 2020? Vários economistas dizem que o potencial do Brasil hoje fica pouco acima de 1%.

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Pode haver três anos de crescimento a 3% por ser uma recuperação cíclica. Se quiser continuar nessa taxa, tem de aumentar o investimento em três ou quatro pontos do PIB e a produtividade em 30%. Hoje, o produto potencial do Brasil pode estar entre 1% e 1,5%. Mas o produto potencial de todos os países caiu, porque a China está desacelerando. Do lado doméstico, as regras do jogo são instáveis e a percepção é de que ninguém consegue estabilizar a economia no médio prazo. Todos os consertos são temporários e não é feita uma poupança fiscal nos tempos de prosperidade para poder viver os tempos difíceis. 

Como aumentar a produtividade e o investimento?

Ao estabilizar a economia, diminui o prêmio de risco que os investidores pedem para colocar dinheiro no Brasil. Já começamos a ver isso. Depois, tem de diminuir a incerteza, porque a pergunta que você poderia fazer é: as taxas de juros vão continuar baixas por 15 anos ou por um ano? Uma coisa é investir em ativos brasileiros como ações, que, se me engano, amanhã os vendo. Outra coisa é fazer investimento físico. Se tenho um investimento de cinco anos, não tenho de pensar apenas se o governo está fazendo as coisas bem, mas também no governo que vai vir depois deste. Mas a sensação de incerteza hoje é global, muito por causa da guerra entre China e Estados Unidos. 

Qual o cenário do banco para o Brasil e para o mundo em 2020?

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Nosso cenário base é que o mundo vai manter a taxa de crescimento, mas vai mudar um pouco a composição. Os EUA vão desacelerar, crescer 1,7%. A Europa vai continuar com 1% e a China vai passar de 6,1% para 5,6%. A América Latina vai crescer 1,5%, tendo como motor o Brasil. O Peru continuará crescendo 3%, mas lá haverá eleição presidencial e não está muito claro o que acontecerá. Para o Chile, esperamos 1,2%. O Brasil é a história de que mais gostamos para 2020 na América Latina.

A instabilidade na América Latina, como a do Chile, pode contaminar o Brasil e reduzir ainda mais o investimento?

É por isso que será necessário haver crescimento no Brasil no ano que vem. Porque, se não houver, vai ser difícil defender o modelo Bolsonaro. As pessoas vão dizer: ‘faz dois anos que temos o modelo Bolsonaro e não crescemos’. Aí vai ser difícil explicar que se está fazendo as coisas direito, mas que acontecem coisas que estão fora de controle e que, por isso, o País não cresce, principalmente quando todos os anos se tem uma desculpa diferente. Apesar de que, agora, já temos alguns números que indicam que a economia vai começar a crescer. Há um ano, porém, tínhamos a projeção de crescimento para 2019 de 3,5% e o País avançou 1%. 

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Para o sr., o que aconteceu neste ano que não se teve 3,5%?

Teve a desaceleração global por causa da incerteza da guerra comercial, o choque da Argentina, o da Vale e o fato de o governo ter decidido, corretamente a meu ver, reduzir o tamanho do Estado. Isso faz com que a economia tenha menos impulso fiscal no curto prazo.

Isso já não era esperado?

Acho que não se havia considerado o impacto de curto prazo. 

Como o investidor estrangeiro vê o governo de Bolsonaro e as polêmicas em que ele se envolve, como a questão ambiental?

Talvez essas polêmicas não ajudem muito, mas também não são algo de primeira ordem enquanto a estrutura econômica for comandada por alguém como o ministro Paulo Guedes. O que o mercado vê de Bolsonaro? Vê que colocou Guedes no poder e lhe deu liberdade para implementar o plano atual. Eu também estudei em Chicago, então não vou dizer nada contra Guedes. Mas ele conseguiu liberdade para implementar seu plano. 

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