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O coronel que dedica a vida ao Pantanal

Ângelo Rabelo combateu por anos o tráfico de animais e hoje lidera um instituto de preservação do bioma

Foto do author Cleide Silva
Atualização:

Quando era recém-formado pela Academia da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, em 1983, o mineiro Ângelo Rabelo foi enviado ao Pantanal para atuar em um grupo de operação especial de combate ao tráfico de couro de jacarés e pesca predatória. A caça, ilegal no País desde 1967, tinha voltado com força à região na década 1980.

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Em uma das operações, Rabelo, então com 24 anos, foi atingido por um tiro no ombro, disparado por um integrante de um grupo de traficantes de peles de jacarés.

O bando atuava na região de Corumbá (MS) e ameaçava a população ribeirinha para evitar denúncias. O piloto do barco onde estava Rabelo foi atingido na testa e morreu na hora.

Rabelo foi socorrido no meio da mata com forte hemorragia. Sua equipe precisou acender tochas para sinalizar uma pista de pouso para um helicóptero resgatá-lo no meio da noite e levá-lo a um hospital em Campo Grande.

O braço direito perdeu os movimentos, e ele foi se tratar no Hospital do Servidor Público, em São Paulo, onde permaneceu por dois anos, passou por dez cirurgias e recuperou parte dos movimentos.

Tiro de caçador feriu Rabelo, mas ele recusou aposentadoria Foto: Vagno Valêncio/GM - 26/6/2022

Ao retornar a Corumbá, o comando militar queria aposentá-lo, mas Rabelo insistiu em seguir carreira – era canhoto e provou ser capaz de manusear armas. “Foram quase dez anos de guerrilha”, lembra ele. “Em 1991, ocorreu a última troca de tiros com os traficantes, e a caça ilegal foi finalmente extinta na região.”

Nesse período, milhares de animais foram mortos para abastecer especialmente o mercado europeu de casacos e calçados. “Quase 5 milhões de jacarés, 2 mil onças-pintadas e 3 mil araras azuis e vermelhas saíram do Pantanal para atender à demanda da moda na Europa”, afirma Rabelo.

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Quando se aposentou, entendeu que seu trabalho ainda não tinha acabado. Em 2002, fundou o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização da sociedade civil que hoje é referência na conservação de uma área de 300 mil hectares na Serra do Amolar, no Pantanal mato-grossense, a mais preservada do bioma.

Em 2008, foi criada a Rede Amolar, parceria do IHP com organizações donas de terras e instituições envolvidas com o trabalho de conservação da natureza em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

O instituto atua em várias frentes, desde o monitoramento ambiental, pesquisas científicas, preservação de nascentes, de animais silvestres – em especial a onça-pintada –, até o ecoturismo sustentável e programas socioeducacionais.

Fogo

No incêndio de 2020 que atingiu 90% da Serra do Amolar, o IHP criou uma brigada formada por pantaneiros que conheciam a região e que teve importante papel no combate ao fogo, no resgate de animais e de moradores.

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Aos 62 anos, Rabelo, que recebeu o título de coronel em reconhecimento aos serviços prestados, é onipresente em todas as ações do instituto e incansável batalhador de parcerias com as iniciativas pública e privada para manter os projetos do IHP, que consomem em média R$ 1,5 milhão por ano.

Agora, o instituto se prepara para iniciar a venda de créditos de carbono “baseado na onça-pintada e no desmatamento evitado”, explica ele, que na segunda-feira participou do Jaguar Parade em São Paulo.

Trata-se de um movimento em que artistas de todo o País customizaram esculturas de onças. O objetivo é conscientizar as pessoas sobre a urgência de conservar a onça-pintada e seu hábitat. Após um período de exposição em São Paulo, as esculturas foram enviadas ontem para Nova York, onde serão leiloadas. O valor será revertido para entidades que atuam na proteção do felino.

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