O que espera a economia brasileira nos próximos anos? Veja em 4 gráficos

Brasil deve ter um crescimento modesto nos próximos anos, aquém das necessidades do País para reverter o grau de desigualdade; economista apontam que País tem ampla agenda em melhorar educação e investimento

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Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Atualização:

Nos últimos anos, a economia brasileira surpreendeu os analistas e colheu um desempenho melhor do que o esperado. Mas o que se projeta daqui para frente é um cenário pouco animador. O Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer num ritmo aquém das necessidades do País.

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Entre 2024 e 2033, por exemplo, o crescimento médio do Brasil deve ser de 2,4% nas contas da consultoria Tendências. Num recorte de prazo mais curto, quando se olha para a mediana das projeções de mercado no relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, o cenário é parecido. Neste ano, a previsão para o PIB é de alta de 1,6%. De 2025 a 2027, o avanço anual esperado é de 2%.

“É um crescimento ainda baixo para o que o País precisa, especialmente quando se olha para as necessidades sociais, de redução da desigualdade de renda”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “O Brasil precisaria ter um crescimento acima de 3% para conseguir endereçar essa questão mais rapidamente.”

O que os analistas dizem é que o País tem um diagnóstico claro dos problemas que impedem uma aceleração do crescimento econômico nos próximos anos, mas ressaltam que não há uma agenda clara para endereçá-los. São entraves que passam pelo fraco nível de investimento do País, pela qualidade ruim da educação e, consequentemente, pela baixa produtividade.

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“O Brasil tem diversos problemas. Não há enigma para o nosso baixo crescimento”, afirma Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “O diagnóstico é bem feito e temos o receituário. O problema é seguir esse receituário.”

O que torna o cenário difícil é que o diagnóstico revela que os problemas não conseguem ser resolvidos no curto prazo. E, ao mesmo tempo, se transformaram em urgentes porque o Brasil já contou com impulsos importantes que contribuíram para o crescimento no passado, como o bônus demográfico, mas que já desapareceram.

“O País cresceu até os anos 80, basicamente, trazendo as pessoas da área rural para as cidades”, afirma Naercio Menezes, professor do Insper e coordenador da Cátedra Ruth Cardoso. “Elas vieram para a área urbana e passaram a trabalhar na indústria, no setor de serviço, em qualquer coisa com produtividade maior do que a da área rural. Isso foi um dos principais determinantes do aumento de produtividade até os anos 80.”

Os bons resultados dos últimos anos acabam, em parte, sendo atribuídos a fatores pontuais. Em 2023, o crescimento ficou próximo de 3%, diante de uma contribuição expressiva da agropecuária e do impulso fiscal, com o reajuste real do salário mínimo.

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“Agora, para aumentar a produtividade, precisa de inovação tecnológica, capital humano e estoque de capital. E essas coisas não estão indo bem nos últimos anos.”

Uma produtividade que não avança

De fato, os números da produtividade do trabalhador brasileiro revelam como o cenário do País é preocupante. Quando comparado com um norte-americano, a produtividade brasileira é praticamente a mesma da observada nos anos 1950.

Em 2022, no último dado disponível, a produtividade do brasileiro equivalia a 22,3% da do norte-americano, de acordo com dados compilados pelo Ibre/FGV. Em 1950, essa relação era de 20,9%. No melhor momento, chegou a 36,7% em 1980.

“O nosso trabalhador médio tem cerca de um quarto de produtividade de um trabalhador americano. Esse é o problema”, afirma Silvia. “Ele não consegue gerar o mesmo retorno de um trabalhador de um país desenvolvido.”

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Sem o aumento da produtividade, o crescimento econômico acaba ressaltando as distorções econômicas do País, como inflação.

Educação de má qualidade

O que ajuda a explicar essa baixa produtividade é o desempenho ruim do País nas avaliações educacionais, apesar dos avanços obtidos nos anos de escolaridade da população nas últimas décadas.

No último Pisa, por exemplo, o Brasil até subiu algumas colocações nos exames, mas seguiu nas últimas colocações entre 81 nações avaliadas. Em matemática, o Brasil ocupou a 65ª posição na edição 2022. Em ciências, ficou na 61º colocação. Por fim, em leitura, o País ocupou o 52º lugar.

“O desempenho do Pisa não mudou, principalmente, entre os alunos mais pobres”, afirma Naercio. “As escolas não estão preparando os alunos para questões mais elaboradas.”

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Uma matéria publicada pelo Estadão ajuda a dimensionar o tamanho da desigualdade na educação brasileira. Num recorte entre os alunos mais ricos que estudam em escolas particulares no Brasil, a nota desse grupo de estudantes colocaria o País na quinta colocação em leitura, bem acima, portanto, da classificação geral do País.

“E difícil ter crescimento de produtividade só com uma elite. O Brasil tem uma elite superbem educada e que estuda nas melhores escolas do País. Mas isso não é suficiente para você ter um país com inovações”, afirma Naercio.

Carência de investimento

Para tonar o cenário ainda mais desafiador, nos últimos ano, o País tem sofrido para conseguir elevar os investimentos - não só em infraestrutura, mas também em inovação, tão necessário na nova economia.

Considerada uma dos vetores para a expansão do PIB potencial, a taxa de investimento como proporção do PIB do Brasil tem rodado próximo de 18%, abaixo dos 20%, um patamar observado em países vizinhos, como de Chile, México e Colômbia.

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“Um dos motivos que a gente cresce pouco é que a gente investe pouco”, afirma Silvia, do Ibre. “O País tem uma carência enorme de infraestrutura. E isso não se resolve de uma hora para outra.”

Em infraestrutura, uma série de dificuldades inibe a melhora do cenário - como juros altos, escassez de recursos, e pouca previsibilidade nas regras de contratos.

Investimento brasileiro como proporção do PIB está abaixo do de outros países Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

“O Brasil avançou pouco na questão de segurança jurídica”, afirma Alessandra, da Tendências. “De repente, vem uma decisão judicial do além que suspende pagamento de pedágio, por exemplo.”

A boa notícia, na avaliação dos economistas, é que o Brasil pode crescer mais se adotar as medidas necessárias e endereçar essas questões. A reforma tributária - discutida há décadas - deve ajudar a aliviar o cenário dos investimentos no médio e longo prazo.

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“Superando essas limitações, a gente pode crescer mais”, afirma Silvia. “Mas é um caminho que demanda reformas, inovação, capital humano e investimento.”

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