Entre todos os Estados e o Distrito Federal, o Piauí é o que tem observado o maior crescimento dos salários. A alta foi de 21% no segundo trimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, subindo de R$ 1.799 para R$ 2.174.
Com uma taxa de desemprego de 9,7%, o Piauí tem um mercado de trabalho influenciado por uma combinação de fatores. Um deles é o aumento da população fora da força de trabalho, movimento puxado, sobretudo, pelos trabalhadores menos qualificados, o que faz com que a média salarial do Estado suba. Entre o segundo trimestre de 2022 e o mesmo período deste ano, esse contingente cresceu de 1,204 milhão para 1,270 milhão.
“Tem pessoas que saem por causa do Bolsa Família, mas (esse movimento) é só uma parte da explicação. A outra parte tem a ver com o desalento, com uma população que busca emprego, mas, em algum momento, por várias razões, deixa de procurar. E há uma outra questão importante que são as pessoas que acabam saindo da força de trabalho para estudar ou se tornam os ‘nem-nem’”, diz Juliano Vargas, professor de economia e políticas públicas da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
LEIA TAMBÉM
O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, agrega outros fatores a essa explicação. O resultado é reflexo da expansão de programas sociais e aposentadoria no Estado. Segundo ele, o Piauí é o segundo Estado brasileiro com a maior proporção de pessoas que moram com idosos.
Além disso, em 2022, o Estado era o maior Bolsa Família (ou similar) por habitante: R$ 52,38 (a média nacional era R$ 23,42, e o menor era Santa Catarina R$ 4,99). “Na nossa estimativa, cada R$ 1 a mais de Bolsa Família, o PIB cresce R$ 1,78.”
De alguma forma, isso também acaba tendo reflexos indiretos nos salários, já que impulsiona o comércio e o setor de serviços da região, diz Neri. Para completar, a lista de fatores que explicam o resultado do Piauí, ele lembra que o Estado faz parte da fronteira agrícola denominada Matopiba (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia), que tem tido bons resultados nos últimos anos.
Ao mesmo tempo em que o Piauí observou um aumento dos trabalhadores fora da força de trabalho, registrou um movimento migratório importante. Tradicionalmente, o Estado sofre com a saída de mão de obra, sobretudo a mais qualificada, para locais como Brasília e Sudeste. Durante a interrupção das atividades por conta da pandemia de covid, muitos trabalhadores retornaram e permaneceram depois do pior momento da crise sanitária. “Uma parte dessas pessoas que resolveu ficar tem uma qualificação maior, o que tende a elevar a média do salário”, diz Vargas.
Além dessas questões de movimentação no mercado de trabalho, o Estado tem sido beneficiado pelo reajuste dos salários públicos - também na esfera municipal - e pela retomada de obras públicas.
Investimentos privados em energia renovável
O investimento privado também tem participação nesse resultado. O Estado tem hoje quase R$ 27 bilhões em parques eólicos em operação comercial ou teste, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Além disso, há outros R$ 17 bilhões em projetos em construção no Piauí.
“O efeito multiplicador é grande. Para cara R$ 1 investido, o PIB ganha R$ 2,9″, destaca a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum. Segundo Elbia, um estudo divulgado recentemente mostra que houve um amento de 20% no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Nordeste e um crescimento de 21% do PIB na região desde a chegada dos parques eólicos.
Ou seja, as obras acabam movimentando pequenos negócios das cidades, que tendem a gerar mais renda. No caso das eólicas, muitos projetos envolvem o arrendamento das terras onde serão construídas as torres e rendem uma remuneração muitas vezes “polpuda” para os proprietários.
A energia solar é outra que também tem atraído investimentos para o Piauí. Hoje o Estado é o terceiro maior em número de usinas em operação (1.466 MW), atrás apenas de Minas Gerais e Bahia, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar). Outros 1.085 MW estão em construção e 14.808 sem início de obras.
Goiás, o segundo lugar
O avanço dos salários em Goiás está muito associado à riqueza do Agronegócio. A região tem atraído investimento de empresas interessadas em oferecer novos serviços para essa população endinheirada. Isso inclui desde consultorias e empresas de investimentos até construtoras, que querem levar mais luxo e conforto para a região.
Houve no Estado aumento salarial em todas os grupamentos de atividade pesquisados pelo IBGE. A maior alta foi no de Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (avanço de 27%). Na sequência, apareceram construção (25%) e indústria geral (19%).
Marcelo Neri, afirma que o agronegócio tem sido a solução para o País e para a região, com uma elevada geração de emprego. Para ele, o que poderia ser um problema, com aumento da desigualdade social no campo, não tem ocorrido. Pelo contrário, diz o executivo. Hoje o Centro-Oeste, maior produtor agrícola do País, é a segunda região com menor desigualdade do trabalho. “A renda é alta e isso tem provocado um fluxo migratório de pessoas do Sul para essas fronteiras agrícolas.”
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.