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O 'vale tudo' contra a crise das grandes livrarias

Com Saraiva e Cultura em recuperação judicial, editoras buscam criar canais alternativos para evitar a perda de vendas no fim de ano

Foto do author Fernando Scheller

Em menos de um mês, duas das maiores livrarias do País entraram em recuperação judicial, com dívidas que, somadas, chegam perto de R$ 1 bilhão. A Cultura recorreu à medida no fim de outubro. Na sexta-feira foi a vez da líder Saraiva seguir o mesmo caminho. Ainda que editoras e outros varejistas do setor insistam que não se trata de uma crise de demanda por livros – que está em discreta expansão –, os problemas das duas varejistas obrigam o mercado editorial a desarmar uma bomba a poucas semanas do Natal: a missão agora é convencer o cliente acostumado a comprar livros nessas duas empresas a procurar o produto em sites, clubes de assinatura ou outras redes.

Cultura é uma das maiores livrarias do País Foto: Amanda Perobelli/Estadão

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Não se trata de um volume pequeno: Saraiva e Cultura respondem por cerca de 35% das vendas do setor. Diante da necessidade, redes regionais, grandes sites de varejo eletrônico – do Brasil e dos EUA – e até as próprias editoras estão virando opções para ajudar os livros a chegar às mãos do consumidor. “Vivemos um paradoxo, pois não se trata de falta de leitores – esse é um problema crônico, mas que não se agravou”, diz Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta. “Mas vamos passar por essa travessia do deserto, porque existe demanda pelo livro.”

Embora a estratégia da Planeta seja evitar concorrer a sua rede de distribuição, há grandes editoras que pensam diferente. Um dos grupos mais tradicionais do País, a Record vai estrear um e-commerce próprio antes do Natal. A ideia era estrear a novidade na Black Friday, mas a vice-presidente da companhia, Sônia Machado Jardim, diz que a opção foi resolver falhas técnicas, para evitar problemas em dezembro.

Além do novo site, a Record – que concentra 15 selos, em diferentes segmentos – também está lançando um clube de assinaturas, com curadoria de escritores. Nesse sentido, a empresa segue o caminho da Intrínseca, que lançou em outubro o Intrínsecos, em que assinantes têm acesso a edições especiais, em capa dura, de obras que só serão lançadas posteriormente. “É mais uma opção de receita”, disse Jorge Oakim, fundador da Intrínseca, que insiste que a crise é das varejistas, e não dos livros. De janeiro a outubro, a Intrínseca acumulou alta de 23% em vendas, na comparação com o mesmo período de 2017.

Venda na web

Além dos testes de venda direta pelas editoras, os grandes sites de e-commerce também devem abocanhar parte das vendas da Saraiva e da Cultura, segundo fontes do setor. Para algumas grandes editoras, a americana Amazon já representa cerca de 15% do faturamento – e oferece a vantagem de comprar livros, em vez de pegá-los em consignação. Neste fim de ano, gigantes brasileiras, como Americanas.com e Submarino, também reforçaram aquisições de títulos. Procurada, a B2W não quis comentar.

Amazon, gigantena venda de livros digitais, trata Taiwan como país independente Foto: Mike Segar/Reuters

Embora a Amazon não revele sua participação de mercado, o diretor da área de livros da gigante americana no Brasil, Mário Meirelles, diz que a receita com o segmento foi recorde na Black Friday 2018. “O crescimento está relacionado ao aumento do número de títulos oferecidos e também ao atendimento”, diz. “A Black Friday é a nossa data de maior volume em vendas. Começamos o planejamento no início do ano, para garantir que a disponibilidade de produtos e a experiência de atendimento fossem as mesmas de um dia comum.” 

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Rivais

Embora a venda direta e a busca pelos canais online sejam opção às redes tradicionais, há empresas que no varejo físico também conseguem obter bons resultados. Uma das companhias vistas pelo mercado editorial como candidata a assumir parte do espaço da Saraiva é a Leitura, hoje vice-líder do setor, com 70 lojas. Em entrevista ao Estado na semana passada, o presidente da Leitura, Marcus Teles, disse já ter iniciado negociações com shopping centers para assumir até cinco lojas que a Saraiva encerrou.

Outra rede de médio porte, a Livrarias Curitiba, atualmente com 29 lojas, a maior parte delas no Paraná e em Santa Catarina, começa a ocupar espaços em São Paulo sem medo da concorrência já estabelecida. 

“Buscamos espaço ainda não ocupado, com aluguel mais barato do que o cobrado nos shoppings de primeira linha”, explica Marcos Pedri, diretor comercial da Livrarias Curitiba e membro da família que fundou o negócio há 55 anos. A Curitiba chegou em solo paulista pelos shopping Aricanduva e Tucuruvi, na capital, e por Taboão da Serra. A empresa também abriu uma unidade em Diadema.

Todas essas áreas tinham um ponto em comum: eram “território virgem” para livrarias. Pedri diz que o fato de o preço do livro ter caído nos últimos anos acabou abrindo uma oportunidade para o produto cair no gosto da classe C. “Seremos beneficiados pelos problemas enfrentados pela concorrência.”

Para garantir um discreto crescimento – de 5% a 10% –, tanto a Leitura quanto a Curitiba vêm apostando em lojas simples, de porte médio e longe dos endereços “classe A”. O modelo das chiques megastores virou coisa do passado, segundo Teles. O nome do jogo, na atual situação, é a austeridade.

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