Mesmo em meio a uma inflação persistentemente alta que vem corroendo o poder de compra do brasileiro, o comércio eletrônico apresentou resultados positivos no primeiro semestre do ano. Consolida a impressão de que o consumidor brasileiro vem procurando cada vez mais o comércio eletrônico, o que, por sua vez, impõe mudanças ao comportamento do comércio varejista.
O índice MCC-ENET da Câmara Brasileira da Economia Digital, que monitora o desempenho do varejo online do Brasil, aponta crescimento de 7,73% no volume de vendas pela internet em comparação com o mesmo período de 2021. É um resultado animador.
O número de consumidores brasileiros que fizeram pelo menos uma compra online se manteve estável ao longo do segundo trimestre do ano em relação ao trimestre imediatamente anterior, em 17,5%.
Em maio, a participação do comércio eletrônico nas vendas do varejo restrito, que exclui o comércio de veículos e de materiais de construção, chegou a 11,7%. No mesmo período de 2018, não atingia nem os 5,0%.
No momento mais restritivo da pandemia, a necessidade de isolamento social havia empurrado o consumidor para as compras online, o que obrigou os lojistas a correrem para se adaptar à novidade, que não se restringiu à mudança do canal de compra. Também trouxe importante redução de custos fixos, como redução da área de vendas e de estocagem (e, portanto, também do aluguel) e menor necessidade de contratação de pessoal. A loja passou a ter mais características de showroom do que de área de vendas propriamente dita.
Mas não dá para deixar de reconhecer certos problemas. Embora as vendas pela internet tenham aumentado na comparação anual, o faturamento e o tíquete médio de compra vêm sofrendo com o impacto do sofrível cenário macroeconômico. No primeiro semestre de 2022 cresceram em comparação com o mesmo semestre do ano passado, respectivamente, 2,9% e 4,4%, abaixo da inflação do período, que foi de 5,49%.
Ainda assim, o cenário para o comércio online parece ser mais satisfatório do que no restante do varejo, que acumula alta de 1,8% no volume de vendas no ano até maio e queda de 0,4% no acumulado em 12 meses, como mostram os dados da Pesquisa Mensal de Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o primeiro resultado negativo do setor desde setembro de 2017, quando caiu 0,7%.
Gerson Rolim, representante do Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital, chama a atenção para outro ponto de tensão: os custos logísticos, que cresceram com a disparada dos preços dos combustíveis.
“A logística é o maior custo do e-commerce, responsável por metade das despesas das operações. As incertezas que envolvem o futuro dos combustíveis tornam o cenário imprevisível. E isso vale não só para o Brasil, vale para o resto do mundo.”/COM PABLO SANTANA
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