Obama chega ao Brasil no sábado para tratar de negócios e estreitar laços

Segundo analista, o presidente norte-americano deve apontar, em seu discurso domingo no Rio, a importância do País no cenário global 

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Por Gabriel Bueno da Costa e da Agência Estado
Atualização:

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega ao Brasil neste sábado em uma visita de dois dias para estreitar laços e tratar de várias questões importantes para os dois lados, entre elas oportunidades econômicas, disseram analistas ouvidos pela Agência Estado. Além disso, um especialista nota que Obama deve, em seu discurso domingo no centro do Rio, apontar a importância do Brasil no atual cenário global. Os analistas não acreditam, porém, que Obama expressará um apoio dos EUA à campanha brasileira por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

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"Obama estará realmente focado em negócios nesta visita", disse, em entrevista por telefone, Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, centro apartidário de análises políticas sediado em Washington. Para justificar sua opinião, Hakim aponta a lista da comitiva norte-americana, que inclui o secretário de Finanças, Timothy Geithner, o de Comércio, Gary Locke, o representante dos EUA para o Comércio, Ron Kirk, e o secretário de Energia, Steve Chu.

"A viagem é fundamentalmente sobre a recuperação dos EUA, exportações dos EUA e a relação crucial que a América Latina tem em nosso futuro econômico e nossos empregos", afirmou em entrevista coletiva na terça-feira Mike Froman, vice-conselheiro nacional de segurança para temas de política econômica internacional. Depois de passar pelo País, Obama visita Chile e El Salvador.

Outra analista consultada, Shannon O'Neil, do Council on Foreign Relations - centro de estudos responsável pela prestigiosa revista Foreign Affairs - disse, por e-mail, que "as oportunidades econômicas são, é claro, importantes para esta visita ao Brasil". Para ela, porém, haverá vários outros temas sobre a mesa. Ela lembra um comentário do assessor sênior da Casa Branca para América Latina, Dan Restrepo, na quarta-feira, segundo o qual os dois presidentes terão a oportunidade de começar a tratar de maneiras de "fortalecer e ampliar nossa relação em uma série de temas no contexto bilateral, regional e global". Restrepo também citou, em sua entrevista coletiva, a convergência de interesses em temas como energia e infraestrutura. Froman disse que a experiência dos EUA no setor de petróleo e na infraestrutura de construção para grandes eventos esportivos pode ser útil para o Brasil, que descobriu recentemente grandes reservas de petróleo, e também sediará nos próximos anos uma Copa do Mundo e uma Olimpíada.

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Nos últimos anos, o Brasil e os EUA tiveram algumas divergências, ainda que não tenha ocorrido nenhuma crise. Durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, houve divergências quanto à crise em Honduras, após a deposição do presidente Manuel Zelaya, sobre a possibilidade de tropas norte-americanas ficarem em bases da Colômbia e também sobre o programa nuclear do Irã. O Brasil defendia negociações com Teerã, enquanto Washington queria o apoio a mais sanções. O País, que ocupa uma vaga temporária no Conselho de Segurança (CS), votou no ano passado contra novas sanções ao Irã no CS, divergindo dos EUA.

Para Shannon, já se nota uma "mudança substancial" na relação bilateral desde a posse da presidente Dilma Rousseff. Segundo a pesquisadora, houve uma redução das tensões em temas como Irã e direitos humanos, por exemplo. Já Hakim não tem certeza se a relação pode mudar muito com a presidente. "Alguns em Washington creem que Dilma pode ser mais pragmática (na política externa)", diz ele. "Mas há uma grande continuidade na política externa do Brasil, não há mudanças dramáticas de direção."

Existe uma expectativa em torno do possível apoio do governo Obama à antiga campanha do Brasil por uma cadeira permanente no CS da ONU. Hakim considera "muito improvável" que Obama declare seu apoio a essa demanda durante a visita. "Eu não espero um anúncio sobre o tema nessa viagem", concorda Shannon.

O momento que deve atrair mais atenção na viagem será, claro, o discurso de Obama na Cinelândia, no centro do Rio. No domingo, o presidente norte-americano tratará do tema da "paz global", adiantaram funcionários da Casa Branca. Além disso, falará sobre semelhanças entre os povos dos dois países.

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"Tem que ser um discurso importante", diz Hakim. Segundo ele, esse discurso deve ser comparado a outro, realizado por Obama na Índia. Em novembro, Obama disse no Parlamento indiano que apoiava a Índia como um futuro membro permanente do CS - os atuais membros são EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha. "Ele deve elevar o papel do Brasil em comparação com o restante da América Latina", diz Hakim. "Mas não deve ser uma grande mudança de direção."

Já Shannon vê o discurso como uma "oportunidade importante para falar aos brasileiros, e aos latino-americanos em geral". De acordo com a pesquisadora, o conteúdo não será o único elemento importante na fala do presidente. "Tanto quanto o que ele disser, o simbolismo de Obama - o primeiro presidente negro dos EUA - falando a brasileiros será uma poderosa imagem e uma mensagem em si." 

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