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Opep: Vemos equilíbrio no mercado de petróleo, mas podemos seguir com cortes, diz Al-Ghais

Secretário-geral da organização dos países exportadores, que participa no Rio de Janeiro da maior feira de petróleo do Brasil, aponta ‘excesso de preocupação’ com a economia chinesa

Atualização:
Foto: PEDRO KIRILOS
Entrevista comHaitham Al-GhaisSecretário-geral da Opep

RIO - No Rio de Janeiro para a maior feira de petróleo do País, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham Al-Ghais, disse ao Estadão/Broadcast que o mercado global de petróleo segue equilibrado. Segundo ele, a organização e os países produtores vão zelar por isso, eventualmente esticando os cortes de produção em seus países-membros por mais tempo, de maneira a evitar excesso de oferta.

O secretário reconhece o aumento de produção fora da Opep, sobretudo por EUA, Guiana, Brasil e Canadá e falou que existe “excesso de preocupação” com a economia chinesa, que segue crescendo a boas taxas. Para além disso, lembrou que outros países como a Índia devem manter a demanda global em alta e que a urbanização crescente até 2030 também vai pesar para sustentar o consumo de combustíveis fósseis. Para Al Ghais, a solução não é redução de investimento na indústria, mas sim uma lógica mais sustentável apoiada em tecnologia. A seguir, trechos da entrevista:

Relatórios mais conservadores falam em aumento da demanda global de 1 MMbpd (milhão de barris de petróleo/dia) em 2025 com aumento maior da produção fora da Opep e possível fim de cortes na organização, o que poderia levar a um desequilíbrio, com queda de preços. Como o sr. vê?

Entendemos que a economia global está indo muito bem, vai crescer 2,9%, 3% e, com isso, a demanda por petróleo vai crescer mais ou menos 2 milhões de barris por dia na comparação com 2023, o que vai nos permitir alcançar uma média de 104,5 MMbpd, o que é ótimo. Por outro lado, temos sim mais oferta de Estados Unidos, Guiana, Brasil e Canadá. Mas isso não significa que teremos um desbalanceamento, porque a Opep e Opep+ vão equilibrar esse mercado. Por isso, estamos continuando com os cortes de produção.

Esses cortes na produção da Opep podem ser estendidos novamente?

Sim, podem. Porque nós operamos com muita flexibilidade. Dessa vez estendemos por dois meses, mas temos sempre a possibilidade de continuar como planejado ou continuar estendendo os cortes, dependendo da situação do mercado.

Qual é a tendência?

Ninguém sabe agora exatamente, porque ainda está cedo. Vamos nos reunir em 1º de dezembro e avaliar a situação. Esses cortes em vigor envolvem oito países — Arábia Saudita, Iraque, Emirados, Kuwait, Lúcia, Cazaquistão, Oman e Argélia e são cortes voluntários — extras, e equivalem a 2,2 milhões de barris por dia.

'Precisamos investir mais, mas de forma mais sustentável, mais amigável ao meio ambiente, com tecnologias que temos hoje e outras que virão para reduzir emissões', diz Al-Ghais Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Há rumores de que alguns países não gostariam de manter os cortes. Há resistência?

Não vou chamar de resistência. Quando nos reunimos, nós discutimos tudo, mas vemos a fotografia maior. Se um país tiver uma opinião diferente dos outros, não significa que há um problema de resistência. Isso é normal, operamos com espírito de família. Você pode pedir uma coisa, seu irmão pede outra e a irmã uma terceira coisa. É normal.

Então um país pode passar a vender um pouco acima do previsto?

Não. Todos os países que fazem este acordo têm de cumprir a cota que está definida. Às vezes têm aspectos logísticos que forçam o país a aumentar um pouco a produção em um mês, mas depois, no mês seguinte, abaixam para ficar em linha com a cota.

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O barril do Brent chegou a US$ 68 e vem se recuperando. Como vê o equilíbrio do mercado?

Acreditamos que o mercado está bem equilibrado. Quando você compara o mercado de petróleo com o de outras commodities, ele está bem mais balanceado, não tem a mesma volatilidade afetando consumidores, como nos mercados de minério, gás e carvão. O mercado está forte, com demanda crescente.

Mas esse último movimento de queda nos preços não foi ruim?

A gente não fecha a visão por preço. Têm muitos fatores que influenciam esse preço, às vezes, interesses dos mercados financeiros, especulação. Para nós, o importante é o equilíbrio entre demanda e oferta. Nós não olhamos essas coisas (queda de preço), porque são como interrupções em um caminho. Tem um semáforo aqui e ali. Você para no sinal vermelho e depois continua.

Analistas dizem que a demanda chinesa decepciona...

Temos ouvido muito que a China está desacelerando, mas temos de colocar isso em contexto: 4,5% de crescimento para o segundo maior mercado do mundo não é lá uma desaceleração. Não tem mercado que esteja crescendo assim. A exceção é a Índia, mas o mercado indiano ainda é bem menor do que o mercado da China. Hoje (terça-feira, 24), o governo chinês anunciou mais estímulos para acelerar a economia, com um ‘target’ de crescimento de 5%. Então, eu acho que muita gente está ‘overthinking’ (pensando demais) sobre o desempenho da China. Vemos uma China forte. Assim como a Índia, demanda de petróleo na Índia, outros países da África e do Oriente Médio.

O senhor menciona a Índia, que pode compensar eventual queda na demanda da China. A Índia pode ser o fiel da balança no futuro?

Esse é um bom ponto. A Índia está crescendo muito rápido e estão construindo muitas refinarias novas consumindo mais petróleo. A aviação da Índia vai comprar mais de 800 aviões daqui até 2030. O ministro de energia da Índia estava aqui no Brasil. Eles também têm boa relação com os nossos países membros, muitos contratos para fornecer petróleo. Então estimamos que a Índia vai responder por 30% do crescimento na demanda por energia até 2050, que vai chegar a 120 milhões de barris por dia ou mais. E, além da Índia, isso também vai crescer no Oriente Médio, África e América Latina, principalmente fora da OCDE.

Por isso o sr. se refere à ideia de eliminar gradualmente o consumo de petróleo como uma fantasia?

Sim, é uma fantasia. Daqui até 2030, quase 600 milhões de pessoas vão entrar em cidades no mundo inteiro, uma grande urbanização. Isso é quase 60 vezes a população do Rio de Janeiro. Como vão reduzir o consumo de petróleo daqui a 2030?

Esses cenários são colocados, por exemplo, pela Agência Internacional de Energia (IEA)...

Sim, e nós não concordamos. Nossas previsões são mais realistas. Precisamos de mais realismo, pragmatismo no que dizemos a chefes de Estado e ministros mundo afora. É errada a mensagem de que não se precisa investir em O&G (óleo e gás) e refinarias, porque depois quem paga o preço é o consumidor. O que precisamos é investir mais, mas de forma mais sustentável, mais amigável ao meio ambiente, com tecnologias que temos hoje e outras que virão para reduzir emissões.

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