Em se tratando de transição energética, Maurício Metz, vice-presidente da Operação Gerdau Aços Brasil, prefere não crer em uma solução única, como, por exemplo, o hidrogênio. “Não vamos conseguir uma solução baseada em uma bandeira apenas. Olhar tudo é super-relevante. Além do hidrogênio, temos a biomassa, o biometano, e temos também que potencializar o uso do gás natural”, afirma o executivo, um dos painelistas do Prumo Day 2024.
No caso específico da indústria do aço, uma das apostas recai, atualmente, sobre o HBI (Hot Briquetted Iron, na sigla inglês) ou briquete. Na prática, trata-se de um produto intermediário entre o minério de ferro e o aço, obtido em um reator de redução direta movido a gás natural. Em média, é um processo que emite 40% menos de gases de efeito estufa, o que torna esses briquetes detentores de um grande valor agregado, inclusive para a exportação. O processo padrão de produção de aço atualmente apresenta uma relação de duas toneladas de gás carbônico emitidas para cada tonelada de aço produzida. Dentro da chamada rota de redução direta, o uso dos briquetes para a produção dos hot briquetted irons (o HBI é uma espécie de tijolão de minério usado nos altos-fornos ao lado de sucata para sair o aço) faz a mesma relação cair para 1 contra 1. Ou seja, uma tonelada de carbono emitida para cada tonelada de aço produzida.
“Um dos caminhos naturais, atualmente, é você usar os mesmos fornos que utilizam sucata para o HBI. E no Oriente Médio, que tem um gás natural muito competitivo, há fornos elétricos carregados com até 90% de HBI. Ou seja, ele se torna um forno flex. Mas o HBI também pode ser usado nos altos-fornos”, afirma Metz. O que deixa o Brasil em condições de ser competitivo na exportação do produto. “Tanto o gás natural quanto o HBI são importantes em todo esse processo de transição energética.” Internamente, a Gerdau busca aperfeiçoar essas rotas para descarbonizar sua usina Ouro Branco, em Minas Gerais.
Veja também
Desafio duplo
Do aço para o lítio, há necessidade de produzir dentro do conceito de carbono neutro, sendo que o mercado ainda não premia no preço esse tipo de processo, obstáculo que vem sendo enfrentado pela Sigma Lithium, como explica Ana Cabral, CEO da empresa. “Em 2019, imaginávamos que cinco anos depois haveria algum tipo de prêmio verde, mas não há. O que nos obrigou a sermos extremamente eficientes para ter custos baixos. Somos, hoje, o segundo menor custo do setor inteiro e somos carbono neutro”, explica a executiva.
A empresa, que acaba de completar um ano de embarques constantes em escala comercial para o exterior, opera o projeto Grota do Cirilo, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Segundo Ana Cabral, o lítio da empresa é único no mundo, até por causa da preocupação integrada que existe com a produção. “Temos cinco zeros. Somos carbono zero, utilizamos água de reúso e, portanto, zero de água potável, não usamos produtos químicos nocivos, não temos barragem de rejeitos e utilizamos energia renovável”, afirma a executiva. O carbono residual da operação, segundo Cabral, que é de menos de uma tonelada por tonelada de produto produzido, é zerado pela Sigma Lithium com créditos de carbono.
No Brasil, a barra é alta
Em sua participação no Prumo Day 2024, Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, fez questão de frisar que “estamos em uma posição melhor do que a gente imagina”, fazendo referência ao contexto brasileiro para os negócios, dentro, claro, da área de expertise da produção mineral de lítio. “A barra é alta na questão ambiental e trabalhista, mas a regra é clara. As terras indígenas, por exemplo, são definidas, existe segurança jurídica nesse ponto. No Canadá é diferente”, afirma a executiva.
Temos cinco zeros. Somos carbono zero, utilizamos água de reúso e, portanto, zero de água potável, não usamos produtos químicos nocivos, não temos barragem de rejeitos e utilizamos energia renovável
Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium
O lítio, matéria-prima essencial para a produção das baterias do carro elétrico e, por isso, um produto tipicamente de exportação, não pode estar atrelado, por exemplo, ao trabalho escravo ou infantil. Dois pontos que geram muita preocupação no setor automobilístico. “Aqui, damos tranquilidade para os fabricantes de veículos, o que não significa que não temos coisas a fazer, como a questão alfandegária, que ainda é bastante complexa”, afirma Ana Cabral. A Sigma, apesar de criada no Brasil, é de origem canadense.
Cadeia do lítio consolidada em Minas Gerais
O Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é palco para operação de várias mineradoras interessadas na exploração de lítio. De acordo com o governo de Minas Gerais, é uma cadeia que já criou mais de 10 mil empregos diretos e indiretos e superou uma receita gerada de R$ 5,5 bilhões.
Além da Sigma, a Lithium Ionic, também canadense, tem negócios em municípios da região, assim como a Atlas Lithium (Estados Unidos). A brasileira Companhia Brasileira de Lítio (CBL) atua há mais de 30 anos no nordeste de Minas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
Notícias em alta | Economia
Veja mais em economia