A frustração com o pacote de ajuste fiscal apresentado entre quarta e quinta-feira pelo governo convenceu o mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) terá de aumentar a Selic em, pelo menos, 0,75 ponto porcentual na próxima reunião, em 11 de dezembro. Nesta quinta-feira, 28, durante o dia, várias instituições revisaram suas projeções para o juro básico da economia.
O Copom já havia intensificado seus apelos por medidas de aperto fiscal recentemente, declarando em sua reunião no início deste mês que queria ver “a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal”. Na reunião mais recente, o comitê elevou de 0,25 para 0,5 ponto o ritmo de alta dos juros. E agora esse aumento pode ir a 0,75 ponto.
Em evento, na noite de quinta-feira, 28, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, ao ser questionado sobre o pacote do governo, esquivou-se com a declaração de que “o papel do BC não é dar sugestão de política fiscal”. Na mesma ocasião, afirmou que, pelos indicadores da economia, é lógico supor que a taxa de juro precisará ficar em nível mais “contracionista”.
Na opinião de economistas, o pacote fiscal foi ofuscado pelos planos de aumentar a isenção do imposto de renda de quem ganha até R$ 5 mil. Segundo o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, isso limitou os ganhos de credibilidade da Fazenda e impôs uma resposta mais firme na condução da política monetária pelo Banco Central.
Por isso, o banco elevou suas estimativas para a taxa Selic no fim do ano, apostando agora em uma aceleração no ritmo de aperto monetário, para uma alta de 0,75 ponto em 11 de dezembro, levando o juro básico a 12% (ante estimativa anterior de 11,75%). A taxa terminal (ao final do ciclo de alta) também foi elevada, de 12,75% para 13,50%, com riscos para cima. “Considerando a resposta dos ativos locais até agora e a persistente incerteza no front fiscal, agora esperamos que o BC acelere o ritmo do aperto monetário pela segunda vez consecutiva.”
O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, segue a mesma linha de Secemski. Segundo ele, a reação negativa do mercado ao pacote fiscal demonstrou que uma aceleração do ritmo de altas da Selic, de 0,5 para 0,75 ponto, é o piso do que pode ser esperado no próximo Copom. Leal incorporou ao cenário uma alta de 0,75 ponto da Selic no próximo dia 11.
O principal empecilho a uma elevação mais intensa, de 1 ponto, seria a decisão do Copom de janeiro, quando Galípolo, hoje diretor de Política Monetária, poderia querer — na sua primeira reunião como presidente do BC — optar por manter o ritmo de dezembro. Um aumento total de 2 pontos porcentuais em apenas duas reuniões, diz Leal, poderia ser excessivo.
Galípolo participou de reuniões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para debater o pacote de cortes de gastos. Ele até teria explicado ao mandatário o impacto que das medidas no mercado.
Para o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, a reação do mercado ao pacote deixou claro que o BC precisará acelerar o ritmo de aperto monetário. Ainda existe a chance de que a Selic terminal — hoje estimada pelo mercado em 13,0% — fique mais próxima de 14,0%, especialmente se o dólar se acomodar em um nível próximo de R$ 6,0, que teria impactos inflacionários.
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Os economistas aguardam alguma sinalização dos dirigentes do BC sobre os rumos da Selic, sobretudo de Galípolo. Uma declaração dele é especialmente importante porque os dirigentes do BC têm apenas seis dias até o início do silêncio do Copom, na próxima quarta-feira, 6, quando ficarão impedidos de falar sobre a política monetária.
Os diretores deram poucas declarações públicas sobre conjuntura econômica desde a publicação da última ata, em 12 de novembro. Mas, nos últimos meses, têm reforçado tanto a preocupação com a desancoragem das expectativas, como com o papel da política fiscal nesse processo. “Com o dólar batendo R$ 6,0 e a taxa de juros real de cinco anos em 7,15%, alguma coisa ele (Galípolo) vai ter de falar”, diz Leal. “Se ele disse que ‘não, não é isso tudo’, o mercado vai para cima, mas é uma situação complicada, dizer que tem de segurar na âncora monetária o que perdeu na âncora fiscal.”
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