BRASÍLIA – O pacote do governo para baratear o preço dos carros no Brasil terá um repasse “à la Dilma” com potencial mais forte de repasse para os preços e impacto da inflação. A avaliação é do especialista em inflação, Carlos Thadeu Gomes Filho, economista sênior da Asset1. Ele projeta uma queda 0,27 ponto porcentual no IPCA deste ano com a medida anunciada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
A referência à ex-presidente Dilma Rousseff foi feita pelo economista porque, em 2012, o governo desonerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis e o impacto foi muito significativo na inflação.
Gomes Filho avalia que o cenário econômico brasileiro atual potencializa o repasse, o que não aconteceu quando o então ministro da Economia, Paulo Guedes, reduziu o IPI. Naquele momento, o câmbio estava depreciado, as commodities em alta e havia problemas na cadeia suprimento devido aos efeitos da pandemia da covid-19.
Ele fez uma pesquisa no mercado e verificou uma previsão de cerca 0,12 ponto porcentual de impacto na inflação do ano. Segundo o economista, o mercado está cético porque “olha para trás e vê o repasse da redução do IPI do Bolsonaro e acha que pode se repetir.”
Agora, a realidade virou. É tudo ao contrário. “Temos commodities para baixo, real apreciando, cadeia de suprimento já resolvida e a política monetária (de juros altos) atuando com defasagem boa”, avalia. Com esse cenário, projeta Gomes Filho, o efeito da política do governo para reduzir os preços será potencializada pela conjuntura. Para ele, a pressão sobre o BC para começar a reduzir os juros, hoje em 13,75% ao ano, vai aumentar.
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No cálculo da redução do IPI na inflação, Gomes Filho usou um desconto médio de 7% nos preços dos automóveis – segundo o governo, os descontos vão de 1,5% e 10,96%. O economista da Asset1 destaca que os automóveis têm peso elevado no IPCA, de 5%. Para ele, o programa do governo tem também como alvo forçar a queda da inflação e uma corte mais rápido da taxa Selic pelo Banco Central.
”É um mix de bondade pós-eleição, geração de emprego e o objetivo de aproveitar o momento, já que os mercados não estão punindo o governo por aumentar os gastos”, ressaltou. No curto prazo, a medida pode até ser deflacionária, previu. Gomes Freitas chamou atenção para o fato de que, normalmente, num anúncio como esse, haveria uma depreciação de câmbio – ou seja, alta do dólar.
Mas como a taxa Selic está elevada e as contas externas brasileiras, em boa situação, o presidente Luiz Inácio da Lula tem um “waiver” (licença) para gastar e fazer um política econômica mais diferenciada, avalia o especialista. ”Ninguém consegue apostar contra o real. O governo tem feito uma política mais expansionista de gastos se não tem sido punido com depreciação cambial”, ressaltou o economista sobre o quadro do momento.
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