Com mais emprego, mais dinheiro e mais consumo para os trabalhadores, a economia brasileira cresceu 1,4% no segundo trimestre e 2,5% em 12 meses. Mas o investimento continuou insuficiente para garantir dinamismo e segurança por vários anos.
Governo e setor privado só investiram em obras, máquinas e equipamentos o valor de R$ 484,4 bilhões, soma equivalente a 16,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, no acumulado de quatro trimestres, o valor diminuiu 0,9%. Para manter uma expansão econômica na vizinhança de 4% ao ano, o País deveria investir pelo menos 20% do PIB, taxa frequentemente alcançada em outros emergentes.
Nos últimos dez anos, considerando-se apenas os segundos trimestres, essa proporção nunca foi atingida no Brasil. Antes disso, havia sido ligeiramente superada três vezes neste milênio, com o melhor resultado, 21,1% do PIB, alcançado em 2013.
Uma longa queda começou no segundo ano de mandato da presidente Dilma Rousseff. A partir daí a inflação subiu, as contas públicas foram esburacadas, a produção encolheu e o investimento despencou. A arrumação da economia começou no breve governo do presidente Michel Temer, entre 2016 e 2018, com Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central (BC).
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Investimento produtivo depende principalmente da orientação governamental, dos juros e da confiança dos empresários. Quando se juntam essas condições, empresários nacionais e estrangeiros se dispõem mais facilmente a imobilizar capital em projetos de expansão e de modernização de negócios.
A ação governamental pode facilitar e estimular a atividade empresarial, com a aplicação de recursos em infraestrutura, em serviços variados e em políticas de estímulo a setores estratégicos. Mas a participação do governo só será segura e sustentável se as suas finanças forem bem administradas. Não se deve confundir política de estímulo com gastança e voluntarismo, mas esse detalhe parece de vez em quando ignorado, ou esquecido, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O voluntarismo se manifesta — para lembrar apenas algumas situações — quando o presidente interfere ou tenta interferir na gestão de grandes estatais, como a Petrobras, ou na administração de grandes companhias privatizadas, como a Vale. Manifesta-se também quando o governante procura reeditar, desnecessariamente, experiências superadas, como a participação do Estado na indústria naval.
A prudência, juntamente com a experiência, também recomenda cautela quando surge a tentação de apoio a indústrias selecionadas. Ações dessa natureza podem produzir algum efeito positivo, mas políticas de favorecimento podem mais facilmente resultar em estímulos errados, em investimentos mal dirigidos e em desperdício de recursos públicos. Nenhum governante deveria esquecer as lições da desastrosa política dos campeões nacionais.
O presidente Lula usaria o tempo de modo mais produtivo se discutisse formas de conter o gasto público, de tornar o Orçamento menos engessado, de separar recursos para investimentos de grande valor social, como saneamento e educação, e tentasse aumentar a cooperação com o setor privado em grandes projetos de infraestrutura.
O setor público poderia contribuir para uma taxa de investimento superior aos lamentáveis 16,8% do segundo trimestre, mas para isso o governo deveria estudar e propor ações de reforma das finanças federais. Por que não aproveitar esta fase de razoável prosperidade para avançar na discussão de temas importantes e politicamente difíceis?
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