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Análise|País se move e emprego cresce, mas falta garantir um avanço duradouro

Melhora da imagem do Brasil no exterior poderá depender também das perspectivas das contas públicas, por enquanto marcadas por muita insegurança

Foto do author Rolf Kuntz

Com 102,5 milhões de pessoas trabalhando, a população ocupada bateu recorde no trimestre de junho a agosto e aumentou 2,9% em um ano. Com resultado geral também positivo, a produção industrial cresceu 0,1% em agosto, avançou 2,4% em um ano e superou por 1,5% o patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Mas ainda ficou 15,4% abaixo do recorde alcançado em maio de 2011 e, além disso, 18 dos 25 ramos cobertos pela pesquisa tiveram resultado mensal negativo. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A economia tem crescido, e o desemprego de 6,6% ficou 0,5 ponto abaixo do registrado no período de março a maio. Esse foi o menor nível estimado para um trimestre móvel encerrado em agosto na série iniciada em 2012. O aumento da ocupação anotado na última pesquisa foi impulsionado principalmente pelo comércio, com aumento de 1,9%, ou mais 368 mil trabalhadores em atividade.

O comércio e outros segmentos de serviços continuam sendo as principais fontes de emprego. A indústria ainda se destaca pela qualidade dos empregos e pelo nível de remuneração, mas o setor, apesar de algum avanço recente, mantém o desempenho oscilante observado na maior parte do último quarto de século. Para ficar só no período mais recente: em seis dos dez anos contados entre 2014 e 2023, a produção geral industrial diminuiu. O balanço do setor de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, foi pior que o do conjunto, com recuo em sete anos.

Setor privado e governo têm investido muito menos que o necessário nos vários segmentos da infraestrutura, como rodovias, ferrovias, serviços de água e saneamento, instalações educacionais, centrais elétricas e redes de energia Foto: Filipe Araújo/Estadão

O desempenho do setor de bens de capital é explicável principalmente pelo baixo investimento em ampliação e modernização da capacidade produtiva. Setor privado e governo têm investido muito menos que o necessário no sistema empresarial de produção e também nos vários segmentos da infraestrutura, como rodovias, ferrovias, serviços de água e saneamento, instalações educacionais, centrais elétricas e redes de energia. A aplicação nesses bens e serviços públicos e privados, frequentemente inferior a 18% do Produto Interno Bruto (PIB), tem sido proporcionalmente menor que a registrada em muitas outras economias emergentes.

Juros altos e insegurança econômica são as principais explicações do baixo valor investido pelo setor privado. Internamente, o investimento empresarial tem sido pouco estimulado pelas condições objetivas da economia. Essas condições, também pouco atraentes para o capital externo, talvez comecem a mudar com a melhora da avaliação do País pelas agências de classificação de risco.

Mas a melhora da imagem poderá depender também das perspectivas das contas públicas, por enquanto marcadas por muita insegurança. A alteração desse quadro dependerá principalmente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, isto é, de sua disposição, visível e convincente, de conter gastos e buscar o equilíbrio fiscal. Ele terá de se esforçar mais do que até agora para transmitir essa imagem. Se aceitar esse esforço, contrariando seu partido e parte de seu ministério, poderá mobilizar capitais, estimular investimentos e favorecer uma expansão econômica mais segura.

Análise por Rolf Kuntz

Jornalista

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