RIO - Símbolo da industrialização do País, o apoio do governo ao setor automobilístico chegou aos 60 anos no centro do debate sobre as políticas industriais. Para os defensores, seu impacto na economia justificaria os incentivos, garantindo empregos e produção em outros setores da cadeia, como siderurgia, fabricação de tintas, autopeças etc. Para os críticos, os custos do apoio não compensam e os resultados apresentados são pequenos.Na visão de Bernardo Castro, gerente do Departamento de Indústria Pesada do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) responsável pelo setor automobilístico, a indústria é estratégica."A indústria automotiva tem cadeias longas e complexas. Por isso, ter um peso elevado no PIB industrial é natural", afirma Castro, completando que o setor é um empregador relevante, com cerca de 150 mil trabalhadores.Em entrevista ao Estado em dezembro, Wolfgang Sauer, presidente da Volkswagen de 1973 a 1989, falecido na última segunda-feira aos 82 anos, reagiu às críticas de excesso de apoio. "O que é dado aqui é igual em qualquer outro país. Não tem nada de vantagem. Só falam isso por razões políticas".Há também um potencial para impulsionar as economias regionais.Segundo o economista William Figueiredo, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a formação do polo automotivo na região Sul Fluminense acelerou o crescimento local. O Produto Interno Bruto (PIB) da região aumentou 68% entre 2000 e 2011, o dobro da média do Estado do Rio no período (30%). No período, foram criadas 24 mil vagas de trabalho.Na visão dos críticos, com a proteção, os fabricantes saem ganhando, mas empregos e produção são garantidos com baixa competitividade internacional, sem benefício para as exportações. No lado dos custos, todos os consumidores arcam com carros de preços mais elevados, na comparação com outros países.Alívio no caixa. Além disso, em janeiro, o Estado revelou que o governo aliviará os fabricantes de veículos em R$ 12,2 bilhões de impostos até 2017, sem contar os R$ 2,2 bilhões mais (só neste ano), após a prorrogação do IPI reduzido anunciada no feriadão de Páscoa. É o dobro da alta de R$ 5,5 bilhões nos investimentos no mesmo período, segundo cálculos do governo. "São 60 anos de política industrial para o setor. A indústria automotiva é um adulto que não saiu de casa ainda", afirma Maurício Canêdo Pinheiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para quem as políticas industriais devem ser adotadas de forma temporária, com foco na expansão das exportações.De janeiro a março deste ano, as vendas externas de automóveis cresceram 5,18%, em relação a igual período do ano passado, enquanto as importações caíram 32,01%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.Segundo Rodrigo Baggi, economista da consultoria Tendências, o apoio do governo não foi capaz de desenvolver o setor de intermediários, contribuindo para os veículos brasileiros não serem competitivos no exterior. "As autopeças não têm vantagem competitiva", disse ele.O Sindipeças, entidade representante dos fabricantes de autopeças, tem cobrado do governo um "Inovar-Peças", uma política de incentivo específica para o setor. Outro alvo de críticas é o vaivém das políticas, mesmo pelo lado dos defensores. Em publicação sobre os principais setores da economia, organizada pelo BNDES, o capítulo sobre a indústria automotiva critica a descontinuidade."As medidas (de 1950 a 1970) não estavam inseridas em um planejamento estratégico de longo prazo e, apesar de relevantes, não tiveram continuidade", afirmou a instituição, no relatório.
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