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Paralisação no IBGE: entenda o que está por trás do protesto de 24h nesta terça-feira

Ato é organizado por servidores da unidade da Avenida Chile, que concentra as principais diretorias do órgão, no Rio; questionada, a direção do IBGE não se manifestou sobre a paralisação

RIO - Servidores da principal unidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizam uma paralisação de 24 horas, a partir da 0h desta terça-feira, 15. O ato, convocado pelo chamado Núcleo Sindical Chile do sindicato de servidores (Assibge-SN), reúne trabalhadores alocados na sede da Avenida Chile, no Rio de Janeiro. É mais uma manifestação contra medidas da atual gestão, comandada por Marcio Pochmann (leia mais abaixo), em um conflito interno que extrapolou as paredes do instituto e já impactou operações no mercado financeiro ao envolver o órgão responsável pelos principais indicadores econômicos do País.

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Além da paralisação, decidida em assembleia na quinta-feira, 10, os servidores convocaram um novo ato de protesto, a partir das 9h, à frente do edifício que abriga o IBGE na Avenida Chile, no centro do Rio. Questionado pela reportagem, o IBGE não se manifestou sobre a paralisação dos servidores até a publicação desta reportagem.

A unidade da Avenida Chile é a maior do IBGE. Concentra cerca de 700 trabalhadores responsáveis pelo funcionamento das principais diretorias do órgão: Pesquisas, Geociências e Informática. As instalações abrigam os servidores responsáveis pela análise e pela divulgação dos principais indicadores macroeconômicos do País.

Segundo Bruno Perez, diretor da executiva nacional da Assibge-SN, mais 700 servidores, aproximadamente, atuam na capital fluminense em outros seis endereços.

“Ainda que a paralisação não tenha adesão coletiva dos servidores, trabalhadores de outras unidades estarão presentes no ato de amanhã (terça, 15)”, prevê Perez.

Os servidores já tinham protestado em frente à sede do órgão, na Avenida Franklin Roosevelt, no Rio, no dia 26 de setembro, e voltaram a protestar na terça-feira passada, 8, desta vez durante uma coletiva de imprensa para a divulgação dos preparativos para uma pesquisa.

Os servidores reclamam de falta de diálogo na elaboração de medidas que impactam a imagem do instituto e a rotina de sua equipe. Essas medidas incluem a criação da fundação IBGE+ (apelidada de “IBGE Paralelo”), a alteração no estatuto do instituto, o plano de entregar a sede da Avenida Chile, mudar o local de trabalho e extinguir o trabalho totalmente remoto.

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Entenda as queixas dos servidores:

’IBGE Paralelo’

Um dos alvos dos servidores é o que tem sido chamado de “IBGE Paralelo”. A Fundação IBGE+, entidade de direito privado criada em julho deste ano no Rio de Janeiro, poderá captar recursos para financiar as pesquisas do instituto, por exemplo. Os servidores apontam um “risco institucional”, afirmam que não houve uma comunicação sobre a criação da fundação e que há um desconhecimento em relação ao papel que ela vai desempenhar.

O sindicato vê riscos de prejuízo à imagem do IBGE por conta de a fundação ter nome idêntico ao do instituto, além de temer aparelhamento do órgão com nomeações pela direção, implicações de constituir uma fundação sem projeto de lei e a captura do IBGE pela iniciativa privada, por meio de venda de pesquisas.

Nas últimas semanas, sede do IBGE no centro do Rio de Janeiro foi alvo de manifestações de servidores  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Mudança de local trabalho

Em cartas abertas, emitidas entre o fim de agosto e início de setembro e assinadas de responsáveis pelas pesquisas que apuram os principais indicadores econômicos do País, o corpo gerencial da Diretoria de Pesquisas (DPE) se opõe ao retorno de todos os servidores ao regime híbrido (previsto para outubro/2024), à entrega do prédio da Avenida Chile (até dezembro/2024), à realocação do corpo funcional e a uma regra de “exceções” do retorno ao trabalho híbrido.

Em junho deste ano, Pochmann já havia afirmado, por meio de publicação em uma rede social, que o IBGE estava devolvendo imóveis alugados na capital fluminense, mirando a redução de custos com a locação de “unidades alugadas a peso de ouro”, que permaneceram parcialmente ociosas após o regime de trabalho remoto implementado no órgão durante a pandemia de covid-19. Os servidores estariam sendo deslocados para o trabalho presencial de escritórios no centro do Rio para outros bairros. Os servidores reagiram com questionamentos sobre a oferta reduzida de transporte público e o custo mais elevado com logística, por exemplo.

Os servidores reclamam não terem sido consultados nem informados sobre a Fundação IBGE+. Em cartas abertas, gerentes e coordenadores mencionam sugestões para “a melhoria do ambiente institucional, hoje claramente conturbado”, defendendo também a necessidade de aprimoramento na comunicação da direção atual com os servidores.

Carta assinada pelos coordenadores e gerentes da Diretoria de Geociências expõe que: “A ausência de um processo decisório institucionalizado compromete a efetividade das ações e, sobretudo, a harmonia do ambiente de trabalho e o engajamento das equipes com a missão institucional do IBGE. A falta de participação ativa dos/as coordenadores/as, gerentes e equipes em discussões fundamentais e no processo decisório do Instituto enfraquece o sentido de responsabilidade compartilhada e impede que as decisões contemplem a realidade e as especificidades de cada área”.

A entidade representante dos trabalhadores solicitou reunião com Pochmann em ofício, mas o encontro ainda não foi agendado pela direção.

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