O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou nesta sexta-feira, 1º, ser preciso encontrar maneiras para que o risco do parcelado sem juro no cartão de crédito seja remunerado.
“O assunto tem envolvido a indústria bancária, e falta a racionalidade econômica nesse debate”, disse durante almoço de fim de ano dos dirigentes de bancos.
“Nunca defendemos o fim do parcelado sem juro e estamos preocupados com o empilhamento de parcelas (de compras parceladas sem juros)”, completou.
Ele acrescentou, entretanto, que confia no avanço na interlocução com a Fazenda. “Vamos encontrar um caminho para que o juro seja remunerado e estamos defendendo a limitação do parcelado sem juro”, disse.
O presidente da Febraban afirmou ainda que os bancos estão preocupados com o produto e não em remunerar os acionistas das instituições financeiras.
Crédito rotativo
Sidney disse ainda esperar que o Banco Central olhe de forma “prudencial” a questão do crédito rotativo. Ele afirmou que, apesar do prazo apertado, até o final deste mês espera que o setor encontre uma solução de consenso para autorregular o produto, evitando o teto de juros imposto pelo Congresso, de 100% do valor original da dívida.
“Minha expectativa é de que o próprio BC, como regulador, possa endereçar esse tema sob a ótica prudencial”, disse a jornalistas. “Se os elos da cadeia tiverem a compreensão para que nós encontremos um caminho e todos percam um pouco, podemos achar um caminho.”
Ele voltou a dizer que as empresas de maquininhas que não pertencem a bancos, as chamadas independentes, têm defendido o modelo do parcelado sem juros porque ganham com ele, ao levar os comerciantes a anteciparem recebíveis mediante taxas que, segundo ele, são altas. A Febraban afirma que para que os juros do rotativo caiam, é necessário limitar o parcelado sem juros, que, segundo a entidade, é remunerado pelo rotativo.
“Hoje, no Brasil, 75% dos recebíveis não são remunerados. Nós temos uma inadimplência de 50% nessa linha (o rotativo)”, afirmou ele. Sidney disse que não necessariamente o BC vai aceitar uma limitação do parcelado, sugerida pela Febraban, mas que espera uma decisão técnica.
Ainda de acordo com ele, a autorregulação não deve ter taxa acima da imposta pelo Congresso, embora possivelmente traga pontos que, na visão do setor, serão menos rígidos.
“Essa foi a opção do legislador, de fazer com que o rotativo tenha um cap. Eu acho isso ruim, mas de toda sorte, não estamos com uma proposta finalizada.” Os bancos esperam que uma proposta esteja finalizada nas próximas semanas, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN), que terá de validar a autorregulação, se reúne pela última vez neste ano.
Se até lá uma proposta não for aprovada, passa a valer o teto criado pelo Congresso, visto pelo setor como pouco detalhado, o que abre margem para insegurança jurídica.
Intervenção estatal
O presidente da Febraban afirmou ainda ser importante que o Brasil tenha um mercado de crédito com menos intervenção estatal. “Emprestar dinheiro custa dinheiro”, disse em debate com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Ele disse que 80% do spread bancário no Brasil vem dos custos da intermediação financeira. “Andamos casas importantes no tabuleiro com marco de garantias”, disse.
“Vamos trabalhar no Congresso (em vetos ao marco de garantias)”, disse. No marco das garantias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o trecho que permitia a retomada de veículos pelos bancos sem processo judicial, o que, segundo as instituições, impediu uma melhoria na retomada de garantias no financiamento automotivo.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.