SÃO PAULO - A retração econômica e o consequente aumento do desemprego levaram muitos brasileiros a buscar alternativas de renda. Uma das atividades que têm crescido é a de dogwalker, profissional contratado para passear com os cachorros de outras pessoas.
De olho nesse mercado, empreendedores apostam em inovações para o público-alvo e cursos para os interessados na prática da atividade. No mercado desde 2014, a Pet Anjo, dos sócios Carolina Rocha e Thiago Petersen, conecta passeadores a donos de pets. “Nós resolvemos criar algo que reunisse facilidade de encontrar profissionais e suporte ao cliente”, diz Carolina.
A empresa já formou mais de 250 profissionais. O candidato a dogwalker precisa pagar uma taxa de R$ 120 e ser aprovado em provas teóricas – que abordam comportamento animal e maneiras de conversar com os donos dos bichos – e exames práticos – dedicados a ensinar como lidar com os cachorros e agir em caso de possíveis complicações.
De acordo com Carolina, o movimento na empresa se intensificou no ano passado. “Chegamos a ter um aumento de até 300% na procura. Alguns clientes deixaram de contratar o serviço para virarem ‘anjos’.”
Treinamento reforçado. A procura pelos cursos da Dog Walkers do Brasil, da veterinária e cocriadora das lições Thieska Ramos, tem crescido desde 2012. “Temos lotação máxima todos os meses. Tanto que precisamos abrir novas datas aos poucos, para que as vagas não lotem de uma vez só.”
A cada mês, 12 alunos recebem orientação sobre cuidados com a saúde e a maneira correta de manejar os bichos, com foco na prevenção de acidentes. “Até temos alguns aposentados, mas a maioria são estudantes e jovens atrás de emprego ou querendo fugir de rotinas estressantes de trabalho.”
Sem conseguir um emprego fixo, a engenheira elétrica Tamires Nascimento, de 26 anos, acabou se tornando uma dogwalker. Ela terminou a faculdade no fim de 2014 e, depois de sete meses à procura de trabalho, decidiu se dedicar à atividade. Dona de um gato e de uma labradora, Tamires encontrou na profissão uma forma de ganhar dinheiro. “Eu consegui o meu primeiro cliente no meu bairro. Depois, passei a distribuir material de divulgação, usar as redes sociais e as indicações começaram a chegar.” Tamires diz que costuma fazer oito caminhadas por semana. A maioria dos donos fecha pacotes e, no fim do mês, ela consegue tirar entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil.
Mudança de carreira. Apesar de ter 20 anos de experiência na área de administração, a ex-secretária bilíngue Luciana Benvengo, de 46 anos, não conseguiu encontrar outro emprego após ser demitida no fim de 2012. A dificuldade de recolocação fez Luciana se dedicar integralmente ao passeio com cachorros, atividade que exercia como hobby, levando pets de amigos e parentes para passear.
Para transformar o hobby em emprego, Luciana fez cursos de adestramento e dogwalking na Dog Walkers Brasil. Junto com os cartazes, que começou a espalhar pela região sul de São Paulo, a ex-secretária contou com o “boca a boca” para acumular um número razoável de “fregueses caninos”. Cobrando uma taxa média de R$ 40 por hora de caminhada, chega a ganhar R$ 2,5 mil por mês se dedicando exclusivamente à profissão.
Nas caminhadas, além de exercitar os companheiros de quatro patas, a passeadora ensina os bichinhos a se comportarem quando encontram outros animais e obedecerem ordens. “Eu tento ensiná-los a andarem juntos. Às vezes, as pessoas não sabem que tem tudo isso por trás da profissão.”
Após dois anos se dedicando ao dogwalking, Luciana comprou com a irmã um imóvel próximo ao Aeroporto de Congonhas e abriu uma hospedagem para cachorros no local. O empreendimento é sua principal fonte de renda. “Não tem um fim de semana sem cachorro no hotel.”
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