Ensine sua filha a ser mais como Arthur Aguiar. É a minha dica para a semana dos pais. Modelo que venceu o Big Brother, passou a investir na carreira de cantor. Dias depois do fim do confinamento, foi ao programa da Fátima Bernardes para lançar uma canção – cantando ao vivo. Ele cantou de olho fechado, mas foi.
As redes sociais acharam um vexame. Obviamente, houve pouco tempo desde a saída do reality show para que a carreira, ou mesmo a apresentação, fosse desenvolvida – ainda que a música fosse entregue pronta pelos produtores. Passados mais alguns dias, Arthur Aguiar anunciou uma turnê. Apesar de a repercussão da apresentação ter sido ruim, ele insistiu: assim capitalizaria sobre a base de seus fãs do BBB vendendo ingressos – quem sabe, até emplacaria como hit nas baladas a música “Fora da casinha”.
O comportamento do tipo “E daí?” parece mais dos homens do que das mulheres. A academia tem discutido nos últimos anos se o hiato salarial não é, em boa medida, um “hiato de confiança”. O hiato salarial é a intrigante diferença de remuneração entre homens e mulheres – mesmo para níveis equivalentes de qualificação, experiência e aptidões.
Na explicação do “hiato de confiança”, mulheres ganham menos porque não agem como Arthur Aguiar. Elas se arriscam menos e são mais cautelosas, por exemplo, ao se candidatar para vagas, vender seu peixe em entrevistas, dar sua opinião em reuniões ou pedir um aumento. Homens se jogam, mulheres procuram seus defeitos – e, por isso, ficariam para trás no mercado de trabalho.
No fracasso, mulheres, perfeccionistas, tendem a se responsabilizar – homens tendem a culpar os outros. Pesquisas nos últimos anos encontraram o “hiato de confiança” na própria ciência: os estudos de autoria de mulheres usam menos palavras positivas para descrever seus resultados (Lerchenmueller et al., 2019). Elas escrevem seus achados de forma mais precisa e modesta, enquanto seus colegas homens enaltecem o próprio trabalho (original, único, sem precedentes).
O “abismo” de confiança também tem sido detectado entre economistas de elite (Sarsons e Xu, 2021) e entre formandos de engenharia e TI (Sterling et al., 2020).
Especula-se que o hiato comece a partir dos 14 anos. Há ainda uma preocupação de que desenvolver confiança seja mais difícil nas garotas expostas a redes sociais, que prejudicam o bem-estar mais das meninas (Kelly et al., 2019). Devemos, então, não só apresentar a elas referências e cuidar da educação emocional, mas também da educação digital.
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