Há duas formas de melhorar a vida dos mais pobres. Uma é aumentando sua renda nominal, para que comprem os bens e os serviços que precisam. Por exemplo, ampliando gastos públicos com o Bolsa Família ou salário mínimo. A outra é a agenda da abundância.
E se os bens e serviços custassem menos? Com preços menores, o poder aquisitivo sobe. Em vez de dar dinheiro para encarar o custo de vida, é a redução dele o foco da agenda da abundância.
Em economês, estamos falando da “renda real”, a razão entre a renda e os preços. A esquerda brasileira foca bastante no numerador, mas há também o denominador — que tem recebido atenção dos progressistas gringos. A agenda da abundância é uma alternativa para melhorar o padrão de vida quando o fiscal está estressado.

Para combater preços, a oferta tem que aumentar. A agenda da abundância age aí: no aumento da produção de bens e serviços. Especialmente daqueles em que as restrições à oferta existentes são artificiais e domésticas. Não são dependentes de chuvas ou de decisões da Opep.
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A agenda da abundância não passa pelo orçamento, mas pela regulação. Um exemplo é o custo das moradias. Com mais imóveis sendo construídos, o preço de comprá-los ou alugá-los vai crescer mais devagar. Mas há uma série de obstáculos criados pelo Poder Público, que impede a construção de residências. Em boa parte das principais metrópoles há limites à oferta desses imóveis.
Por exemplo, somente 30% dos moradores de São Paulo vivem em apartamentos. Em grandes cidades da Europa ou Ásia, é o dobro. Se o termo abundante flerta com os evangélicos, a esquerda nos EUA já compra tanto a ideia que Obama, na coroação de Kamala como candidata, discursou: “Se quisermos facilitar que mais jovens comprem uma casa, precisamos construir mais unidades e eliminar algumas das leis e regulações ultrapassadas que têm dificultado a construção de moradias para os trabalhadores neste país”.
Os componentes da inflação que mais cresceram nos últimos 20 anos, depois dos alimentos, foram moradia, saúde, educação e outros serviços. Com a abertura e o milagre chinês, o preço de “coisas” físicas teve deflação (pense Shein). A tendência no Brasil e em outros países é que os serviços sejam o principal problema. Não são mais as etiquetas os símbolos do custo de vida.
Exemplos da agenda da abundância seriam, na saúde, liberar faculdades para que formem mais médicos. Na educação, permitir creches alternativas ou até em casas. Que a crise fiscal seja o gatilho para novas ideias.