EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Doutor em Economia

Governo deveria focar na defesa da família

Expressão, sequestrada ideológicamente, deveria ser resgatada para a política econômica

PUBLICIDADE

Foto do author Pedro Fernando Nery
Atualização:

Em vez da guerra contra o BC, o governo deveria focar na defesa da família. A expressão está sequestrada por parte do espectro ideológico, dentro de uma agenda cultural, mas deveria ser resgatada para a política econômica. Famílias com crianças seguem sendo domicílios mais vulneráveis à pobreza. Além disso, nossas famílias estão encolhendo, e um “inverno demográfico” se aproxima com consequências negativas para a economia. O que realmente deve ser defender a família?

PUBLICIDADE

Creche para o filho, emprego para a mãe. São políticas com evidências favoráveis, beneficiando a produtividade no longo prazo via desenvolvimento do capital humano na infância. O aumento da renda de mães, propiciado por maior participação no mercado de trabalho, é por si uma potência para o alívio da pobreza em curto prazo.

A família anda em baixa. Contrariamente a um senso comum, as brasileiras não têm muitos filhos, nem as pobres – em média. E têm cada vez menos. A população encolherá, inclusive a força de trabalho, desafio para o PIB.

Outros países incentivam a família pela lógica econômica: reduzindo o custo de tê-la. Ter filhos ficou mais caro? Há alguma evidência que sim. Se o crescimento da economia mundial barateou a produção de produtos e de alguns serviços (ex: comunicação), isso não ocorreu com serviços intensivos em cuidado.

O avanço da tecnologia também não se faz sentir: o 5G, o ChatGPT ou a Alexa não ajudam a trocar fraldas nem a botar para dormir. Para os EUA está bem colocado que, apesar da ausência de ganhos de produtividade, os custos de serviços como educação infantil crescem. É que compete por mão de obra com setores onde produtividade – e salários – aumentam. É a chamada Doença de Custos de Baumol.

Publicidade

Seria ótimo se o IBGE monitorasse a evolução da “inflação da infância”. Ainda não entendemos bem esse custo – estudos como o do Insper, divulgado pelo Estadão, são poucos.

O governo acerta em priorizar a reforma tributária, que reduzirá a carga tributária sobre as famílias pobres, e ao consertar o Bolsa Família para que a transferência seja maior quando houver crianças.

Lula durante anúncio de retomada do programa Minha Casa, Minha Vida, no início de fevereiro Foto: Arisson Marinho/AFP

Uma agenda de defesa da família deveria incluir ainda uma expansão vigorosa das creches; desoneração e flexibilidade para o emprego das mães; a universalização do benefício infantil do Bolsa; e mudança ambiciosa na regulação das cidades para expandir a oferta de imóveis residenciais (principal custo de muitos lares).

A família é importante demais para ser pauta de quem não se importa com ela.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.