Um dos auxiliares mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, Pedro Guimarães pilotava a Caixa Econômica Federal a todo vapor a poucos meses das eleições presidenciais. Nos últimos meses, o banco acelerava as concessões de crédito imobiliário e agrícola, dois dos mais importantes setores da base de apoio a Bolsonaro, na contramão dos pares, que adotaram cautela diante da deterioração da economia e piora da inadimplência. O presidente busca a reeleição em outubro e está em segundo lugar nas principais pesquisas de intenção de voto.
Guimarães deixou a Caixa no dia do anúncio do Plano Safra 2022/2023, que era citado por ele com frequência. Por sua iniciativa, a Caixa passou a participar do programa do governo, e neste ano, pleiteava um volume maior de recursos para abrir espaço no setor.
Capitalizada, em parte por causa das vendas de ativos feitas por Guimarães desde 2019, a Caixa abriu os cofres na primeira metade do ano. No mercado imobiliário, o banco relançou o chamado Plano Empresário e reeditou benesses aos compradores de imóveis.
Também concedeu descontos em algumas taxas, mesmo diante da subida da Selic pelo Banco Central. Para tanto, vinha apostando no crédito com recursos da poupança, enquanto o financiamento via Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) esbarrava no aumento dos custos do setor.
"Se alguém botar o pé no freio, nós vamos botar o pé no acelerador", disse Guimarães na semana passada, em evento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic).
No agronegócio, o objetivo era desbancar o líder Banco do Brasil até 2024. Guimarães afirmava que a Caixa havia saltado da oitava para a segunda posição no setor, informação questionada por concorrentes, como mostrou o Estadão/Broadcast Agro. Em fevereiro, o banco antecipou linhas subsidiadas de custeio mesmo diante do esgotamento de recursos do Tesouro para a equalização das taxas de juros.
Em outros bancos, a ação de Guimarães gerava incômodo. Fontes relataram que a Caixa não atuava em sinergia com os pares públicos, o que prejudicaria o próprio governo. Publicamente, Guimarães afirmava que a aceleração no agro era uma questão meramente de negócio.
Ao Estadão/Broadcast, o executivo afirmou no ano passado que, em 2022, a Caixa lucraria menos. Em outras ocasiões, disse que não fazia sentido o banco ter resultados tão altos quanto os que vinha tendo, ao mesmo tempo em que Bolsonaro questionava os lucros elevados de outra estatal, a Petrobras.
Defesa
Guimarães é egresso do mercado financeiro, no qual atuou em uma série de aberturas de capital de empresas e foi analista de bancos. Presidia a Caixa desde 2019, sendo um dos poucos executivos que chegaram ao comando das "joias da coroa" da União na posse de Bolsonaro e que ainda estavam no governo.
Em entrevistas, defendia privatizações, seguindo o receituário liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. Para a Caixa, sua visão era distinta. "Falar de privatização da Caixa sendo presidente Bolsonaro é inexistente, porque é uma determinação do presidente. E eu concordo, porque a desigualdade é muito grande", disse em janeiro, à rádio Jovem Pan.
A proximidade com Bolsonaro o levou a liderar um movimento para retirar a Caixa e o BB da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) no ano passado, que não prosperou. A tentativa veio após a entidade participar de discussões de um manifesto liderado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que pedia harmonia entre os Três Poderes. A versão publicada não contou com a assinatura da Febraban, que disse que o assunto estava "encerrado".
Procurados, Guimarães e a Caixa não retornaram os contatos até o fechamento desta reportagem.
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