RIO - No mês de setembro, 43% das pequenas e micro indústrias brasileiras não tinham capital de giro suficiente para manter os negócios. Uma das consequências da falta de recursos foi a inadimplência: uma em cada quatro empresas tinha contas em atraso. Os dados são de uma pesquisa encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo (Simpi) ao Datafolha, obtida com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
No estado de São Paulo, quatro em cada dez pequenas indústrias funcionavam sem capital de giro suficiente para manter os negócios. No Nordeste, o problema foi relatado por mais da metade das indústrias locais, 55% queixaram-se de capital de giro aquém do necessário.
“A falta de dinheiro é tão grande que está repercutindo nos pagamentos, que estão deixando de ser feitos”, alertou o presidente do Simpi, Joseph Couri.
Entre os entrevistados, 25% deixaram de pagar ao menos uma conta no mês anterior à pesquisa. As dívidas com impostos ou taxas estavam em atraso para 19% dos entrevistados, mas também havia inadimplência em contas de consumo (7% deixaram de pagar boletos como energia, água, telefonia etc.), despesas em geral (8% relataram atrasos), dívidas com bancos ou financeiras (9% não pagaram) ou fornecedores (5% estavam inadimplentes).
No Nordeste, a proporção de inadimplentes entre as pequenas e micro indústrias subia a 39%, enquanto no Sul era de 20%. No estado de São Paulo, que concentra 42% das cerca de 700 mil micro e pequenas empresas industriais brasileiras, 23% dos estabelecimentos estavam inadimplentes.
Na ausência de financiamento adequado, um em cada dez industriais ouvidos pela pesquisa precisou recorrer ao cheque especial como fonte de capital de giro. Somente 6% obtiveram empréstimo como pessoa jurídica.
“O dinheiro não está chegando na ponta”, frisou Couri.
O presidente do Simpi afirma que as linhas de financiamento ao capital de giro não têm chegado a contento ao microempresário via bancos privados, portanto deveria haver uma negociação na esfera federal para que esse crédito fosse distribuído via bancos públicos, especialmente num cenário de custo de crédito elevado.
“Os juros estão sim elevados, não devem cair no curto prazo. Todos os economistas falam que só na metade do ano que vem haverá inversão ou uma redução das taxas de juros. Então é um cenário que se não houver políticas públicas que incentivem o sistema financeiro a colocar dinheiro para o setor privado micro e pequeno, o cenário será extremamente difícil”, disse Couri. “O custo do dinheiro sobe, mas isso (movimento de alta) não está previsto no custo dos produtos das empresas.”
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Em São Paulo, 13% dos empresários industriais precisaram lançar mão do cheque especial para capital de giro em setembro, e apenas 5% tiveram acesso a um empréstimo via pessoa jurídica.
O uso do cheque especial para capital de giro foi igualmente elevado para micro e pequenas empresas, alcançando 10% dos estabelecimentos nos dois grupos. O alcance ao empréstimo para pessoa jurídica, porém, ainda é significativamente mais restrito para microempresários: apenas 5% deles tiveram acesso a essa modalidade, contra uma fatia de 13% entre os donos de pequenos negócios.
São consideradas microindústrias aquelas com até nove trabalhadores ocupados. As pequenas indústrias ocupam de 10 a 50 trabalhadores.
A pesquisa do Simpi coletou informações de uma amostra de 709 empresas entre os dias 8 e 30 de setembro em todas as regiões do País.
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