‘Sem as pequenas empresas, transição verde não irá se concretizar’, diz presidente do Sebrae

Para Décio Lima, participação do segmento de pequenos negócios na agenda climática é fundamental para que as metas globais de redução de emissões sejam alcançadas

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Foto do author Shagaly Ferreira
Foto: Ascom Sebrae/Divulgação
Entrevista comDécio LimaPresidente do Sebrae

Tornar concreta uma transição para economia verde no Brasil sem a participação das pequenas empresas é possível? Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, a resposta é não. Segundo o gestor, a integração de representantes do setor de pequenos negócios na agenda da sustentabilidade é fundamental para que o País tenha sucesso na jornada rumo a uma economia de baixo carbono.

De acordo com Lima, o grande desafio para que essa participação seja bem-sucedida é ampliar o alcance dos pequenos negócios às práticas que contribuam para uma transição verde. Dados do Sebrae citados por ele mostram que seis em cada 10 dos donos dessas empresas acreditam que podem contribuir com a agenda da sustentabilidade.

“Os pequenos negócios têm papel crucial na transição verde. Fato é que, sem esses empreendedores, essa transição não se concretiza”, afirma Lima. “A semente está plantada. Precisamos apenas fornecer os subsídios e o apoio necessário para que as boas práticas germinem.”

O Sebrae está à frente de uma série de iniciativas para engajamento dos pequenos negócios em relação à 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), incluindo um site próprio sobre o evento. Lima defende a necessidade de que esses empreendedores sejam considerados “atores centrais nas políticas climáticas e ambientais”.

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Abaixo os principais trechos da entrevista:

A pesquisa “Negócios Sustentáveis: A Contribuição das Pequenas Empresas Brasileiras na Agenda 2030 da ONU” mostrou que apenas 35% dos pequenos negócios pesquisados conhecem as práticas sustentáveis. Por que isso acontece e qual o cenário da agenda ESG dentro das pequenas empresas?

A verdade é que, sem os pequenos negócios, a transição verde não se completa. Basta perceber que 95% das empresas brasileiras são de pequenos negócios. Eles já aderiram à prática da sustentabilidade em suas rotinas. Nossas pesquisas, inclusive, mostram que cerca de 70% dos pequenos negócios realizam controle de consumo de energia, 67% realizam a separação do lixo para coleta seletiva, 65% fazem controle do consumo de papel e 64% já realizam controle no consumo de água. O grande desafio que temos neste momento é ampliar o alcance de empreendedores e empreendedoras nas práticas que contribuam para a transição verde. Neste sentido, o Sebrae, com a sua capilaridade, tem atuado para permitir que os pequenos negócios estejam cada vez mais inseridos no desenvolvimento da cultura ambiental, social e de governança (ESG). Inclusive, assinamos recentemente um protocolo de intenções com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para viabilizar a certificação dos pequenos negócios em todo o País com o selo do ESG. A iniciativa é pioneira e tem inicialmente o objetivo de preparar 10 mil micros e pequenas empresas, incluindo os microempreendedores individuais (MEIs). A expectativa é mobilizar os pequenos negócios como exemplo de boas práticas para a COP de 2025.

Décio Lima, presidente do Sebrae Foto: Ascom Sebrae/Divulgação

Quais têm sido as barreiras para que essas empresas estejam mais conectadas ao tema?

Primeiro, já temos clareza de que esse conceito não tem mais volta. Nós não podemos permitir modelos econômicos que sejam agressivos ao meio ambiente e coloquem em risco o futuro da humanidade. Temos uma clara consciência de que todo modelo econômico que abraçamos está inserido no conceito da sustentabilidade. E os nossos produtos e serviços que chegam aos pequenos negócios seguem esta lógica. Os pequenos são os grandes exemplos da economia sustentável hoje no País. Além disso, todo o cenário em torno favorece. O presidente Lula lidera o Brics. Estamos no Mercosul. A ex-presidenta Dilma Rousseff está à frente do nosso Banco de Desenvolvimento (Banco do Brics). O Brasil teve o papel preponderante quando da liderança do presidente Lula no G20, e agora iremos sediar a COP-30. Estamos diante de uma nova ordem econômica global, que é uma integração marcada pelo resgate dos valores humanitários, da sustentabilidade, da inovação, principalmente pela solidariedade e inclusão. Sabemos que o empreendedor quer melhorar. Segundo o estudo, 6 em cada 10 empresas acreditam que podem contribuir com a agenda da sustentabilidade. A semente está plantada. Precisamos apenas fornecer os subsídios e o apoio necessário para que as boas práticas germinem.

O que um evento como a COP-30 pode trazer em benefícios para as pequenas empresas no Brasil?

Os pequenos negócios têm papel crucial na transição verde. Fato é que, sem esses empreendedores, essa transição não se concretiza. O universo que representa a pequena economia brasileira é extremamente plural, seja no campo, na cidade, no comércio, na indústria da transformação, no turismo, seja na prestação de serviços. O pequeno negócio é o grande retrato econômico do nosso País. Ele está em todos os setores econômicos, produzindo e transformando realidades. Portanto, trazê-lo para a cultura da sustentabilidade é construir um planeta saudável. O Sebrae defende a integração dos pequenos negócios às agendas dos negociadores e das iniciativas da sociedade civil relacionadas às conferências climáticas. Além disso, é essencial a liderança do Sebrae na prestação de apoio e orientação a esses empreendedores, especialmente no que diz respeito à transição energética, descarbonização e oportunidades emergentes na área de serviços ambientais. Outro fator muito importante é a estimativa de que a COP-30 atraia cerca de 80 mil visitantes de todos os cantinhos do mundo, gerando novos negócios e empregos, deixando um legado importante, principalmente para os Estados da Amazônia Legal. A realização de um evento de grande porte traz benefícios econômicos significativos. Isso inclui geração de empregos, incremento do turismo e fortalecimento da infraestrutura local. Além disso, haverá oportunidades de investimentos para projetos de sustentabilidade em toda a região. Temos que mostrar que investir na Amazônia é apostar em um futuro, no qual empreendedores progridem, e a floresta, principalmente, permanece de pé.

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E como o Sebrae tem trabalhado para engajar essas empresas para o evento?

A COP-30 é uma grande oportunidade para os pequenos negócios do Brasil. Embora venha sendo denominada “a COP da floresta”, é fundamental reconhecer que o Brasil abriga seis biomas distintos: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, cada um com seu papel vital para a biodiversidade e segurança alimentar global. Esta diversidade de ecossistema representa não apenas um patrimônio ambiental, mas também um potencial extraordinário para o desenvolvimento sustentável, por meio, evidentemente, dos pequenos negócios. O Sebrae tem atuado em duas frentes estratégicas: preparar os pequenos negócios para enfrentar os impactos climáticos e capacitá-los para serem agentes ativos na redução de emissão de gases de efeito estufa. Esta abordagem reconhece que os extremos climáticos afetam principalmente as populações e negócios mais vulneráveis, tornando urgente a necessidade de adaptação e resiliência. A relevância dos pequenos negócios é inquestionável. Eles representam mais de 90% das empresas em praticamente todos os países. Por isso, a participação deles na agenda climática é fundamental para alcançarmos as metas globais de redução de emissões. O Sebrae está empenhado em levar esta pauta para a COP-30, destacando o papel crucial deste segmento na transição para uma economia de baixo carbono. Nossa atuação para a COP-30 está estruturada em três eixos convergentes: o posicionamento institucional, consolidando a representatividade dos pequenos negócios na agenda climática global; o fomento ao empreendedorismo, estimulando novos negócios alinhados com economia verde e a bioeconomia em todos os biomas brasileiros; e apoiando os pequenos negócios, oferecendo suporte para a jornada de descarbonização e adaptação às mudanças climáticas.

Sala do Sebrae em Belém Foto: Sebrae/Divulgação

Haverá algum trabalho específico para os empreendedores de Belém?

Já estamos trabalhando ao longo de todo esse tempo numa jornada de preparação até Belém, tanto do ponto de vista de ampliar a consciência para agenda climática, quanto para que os pequenos negócios entendam os desafios e as oportunidades que essa agenda apresenta para o Brasil. Teremos ações ao longo do ano, como eventos, feiras, cursos e consultorias. Estamos preparando um conjunto de iniciativas em espaços dentro e fora da estrutura oficial da COP-30, de modo que possamos mostrar para o mundo o quantos pequenos negócios já estão preparados para essa agenda, com vitrine tecnológicas, feiras e encontros durante a programação da conferência. Por outro lado, estamos construindo o posicionamento estratégico da instituição sobre o tema, levando em consideração as múltiplas vozes dos empreendedores dos pequenos negócios, de modo que possam ser ouvidos e considerados nas negociações da COP-30.

Para o período do evento, o Sebrae pretende lançar algum tipo de programa que possa dar suporte a essas empresas em sua jornada sustentável?

O Sebrae já está com um plano de trabalho em exercício em parceria com os Estados. Estamos atuando de forma ativa e sistêmica na temática com a sala de integração, que inclui outros órgãos da esfera estadual, municipal e federal. É necessário que esses empreendedores sejam considerados atores centrais nas políticas climáticas e ambientais. Neste contexto, o Sebrae defende a integração dos pequenos negócios às agendas dos negociadores e das iniciativas da sociedade civil relacionadas às conferências climáticas. Além disso, é essencial a liderança do Sebrae na prestação de apoio e orientação a esses empreendedores. Especialmente no que diz respeito à transição energética, descarbonização e oportunidades emergentes na área de serviços ambientais. Também estamos alinhados às ações do governo federal. Estamos acompanhando passo a passo as linhas gerais de atuação do governo federal para que possamos atuar em seus desdobramentos. Além disso, lançamos duas jornadas de capacitação: descarbonização da indústria e economia circular. Para os pequenos negócios, temos um polo de referência nas energias renováveis. No Rio Grande do Norte, coordenado pelo Sebrae local, nos dois últimos anos, foram quase mil ideias em desenvolvimento e mais de 400 ideias aceleradas. O País possui seis biomas e um só Brasil em 2025. Nossa prioridade, portanto, é lançar programas para todos eles. Com isso teremos ainda mais inclusão, sustentabilidade e inovação.