Alheios à prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que paralisou os trabalhos da Casa na quarta-feira, filas se formavam nas entradas e nos corredores do Congresso. No saguão do prédio onde fica a maioria dos gabinetes da Câmara, o deputado Tiririca (PR-SP) atendia prontamente aos prefeitos que queriam tirar fotos ao seu lado. No seu gabinete, outra fila de prefeitos o aguardava.
Todos ali eram “caçadores” de emendas. “Atendi hoje mais de cem prefeitos”, disse Tiririca, ao revelar que a sua estratégia era dar um pouco de suas emendas para cada um dos visitantes. Mas não tem para todos: cada deputado ou senador pode indicar até 25 emendas parlamentares individuais no valor total de R$ 15 milhões.
Independentemente de partido e às vésperas dos último dia para apresentação de emendas ao Orçamento de 2017, os prefeitos eleitos que assumem o cargo em 1.º de janeiro faziam uma verdadeira peregrinação nos gabinetes. Boa parte deles em busca de recursos para a área de saúde.
Eleito prefeito da cidade de São Gonçalo do Amarante (RN), Paulo Emílio de Medeiros (PR) foi um dos que buscaram recursos por meio de emendas parlamentares. O interesse especial dele era garantir verbas para a saúde, já que, com o aeroporto internacional no município que vai administrar, as demandas de serviços públicos para a área aumentaram. “O aeroporto trouxe demandas sociais para quem se mudou para lá”, disse Medeiros, que aproveitou a passagem por Brasília para tirar uma foto com Tiririca.
O deputado Arnon Bezerra (PTB-CE), eleito prefeito de Juazeiro do Norte, passou por uma situação particular. Recebeu visitas de 25 prefeitos e abarcou emendas até mesmo de cidades do Ceará que não estão na sua região de “atendimento político”.
Um dos assediados para inscrever emendas, o senador Valdir Raupp (RO), ex-presidente do PMDB, reconheceu: “Eu tenho dó dos prefeitos que já vão assumir a prefeitura com atraso de dois ou três salários.”
Atrás de Raupp, estava a prefeita eleita de Pimenta Bueno, Juliana Roque. A cidade tem 40 mil habitantes, a 580 km da capital Porto Velho. A dupla buscava recursos em emendas para reformar o único hospital público da cidade. Há pouco tempo, chegou um equipamento de raio-x, mas não há impressora para fazer a revelação dos exames. / A.F. e RICARDO BRITO
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