Menos calote: número de famílias inadimplentes em SP recua em 2024, com aumento do trabalho e renda

Segundo pesquisa da Fecomércio-SP, 124,2 mil famílias da capital paulista que não conseguiam pagar dívidas em dia deixaram situação nos últimos 12 meses

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Foto do author Márcia De Chiara
Atualização:

O ano de 2024 terminou com a uma melhora significativa na solvência dos paulistanos. Mesmo com um grande número de famílias endividadas, a fatia daquelas que ficaram inadimplentes e não conseguirão pagar as dívidas em dia nos meses seguintes caiu no final do ano passado em relação a dezembro de 2023.

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A melhora do mercado de trabalho, com o desemprego na mínima histórica e o ganho real de renda, funcionou como uma espécie de antídoto contra o aumento do calote, apesar da escalada da taxa básica de juros, atualmente em 12,25%, e com tendência de alta.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio- SP), que consulta mensalmente mais de 2 mil consumidores na cidade de São Paulo, 19,5% das famílias estavam inadimplentes na capital paulista em dezembro de 2024. É um resultado 3,2 pontos porcentuais abaixo do de dezembro de 2023 (22,7%). Em números absolutos, 124,2 mil domicílios deixaram o calote nos últimos 12 meses.

Comprometimento da renda das famílias paulistanas com todos os financiamentos, inclusive o imobiliário, encerra dezembro abaixo de 30% Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Também houve um recuo, no mesmo período, dos domicílios que consideravam que não iriam conseguir honrar os compromissos em dia ao longo dos meses seguintes. Eram 10,1% das famílias em dezembro de 2023, e a parcela diminuiu para 8,9%. Ou seja: 45 mil famílias conseguiram sair dessa condição nos últimos 12 meses.

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Endividamento mantido

A pesquisa mostra ainda que, no ano passado, a parcela de domicílios endividados praticamente se manteve na faixa de 70%. “No último ano, não houve mudanças significativas na parcela de famílias endividadas, e a inadimplência caiu”, observa Guilherme Dietze, economista da Fecomércio-SP. Ele atribui a melhora da solvência ao aumento do emprego e da renda real dos trabalhadores.

Na sua análise, se o mercado de trabalho está forte, a tendência é de redução do calote, mesmo com o financiamento tendo ficado mais caro devido à subida da taxa de juros. “A inadimplência depende muito mais se a parcela do financiamento cabe no bolso”, afirma o economista, ressaltando que, neste caso, o emprego e a renda pesam mais do que a taxa de juros.

Dietze diz que a inflação atual, que encerrou o ano passado em 4,83% e furou o teto da meta (4,5%), não afetou a inadimplência porque o desemprego está baixo e houve ganhos reais de renda, isto é, descontada a inflação. “Neste momento, a inflação tem impacto residual na inadimplência porque o emprego aquecido mantém um certo padrão de consumo, e é a grande base para que não haja descontrole do calote.”

Comprometimento da renda

Outro resultado da pesquisa que revela a condição financeira mais saudável dos paulistanos diz respeito ao comprometimento da renda com dívidas. Em dezembro do ano passado, 29,4% da renda das famílias estavam comprometidas com dívidas. Esse porcentual inclui todos os financiamentos, inclusive o imobiliário.

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Em alguns meses do ano passado, o comprometimento da renda passou de 30% e encerrou 2024 abaixo desse patamar. Em dezembro de 2023, por exemplo, chegou a 31,8%.

Normalmente, a regra para ter uma boa saúde financeira é o consumidor não comprometer mais do que um terço da renda (33%) com dívidas. Os resultados de dezembro de 2024 mostram uma condição ainda melhor do que a recomendada pelos especialistas em finanças pessoais.

Diante desse cenário, Dietze acredita que a perspectiva é que a inadimplência das famílias continue baixa ao menos no primeiro semestre deste ano.

Entre os fatores apontados pelo economista para a manutenção desse quadro favorável estão o ritmo acelerado de atividade e o vigor do mercado de trabalho. “Pode haver desaceleração no segundo semestre deste ano, mas sem impactos significativos na inadimplência e no endividamento.” Ele lembra que, ao final de 2025, se avizinha um ano eleitoral e, muito provavelmente, haverá estímulos à atividade, mantendo a economia aquecida.

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