RIO – Depois de encolher suas operações internacionais e abandonar o continente africano após 40 anos de atividades, a Petrobras planeja voltar à África, sobretudo se o licenciamento ambiental para explorar a Margem Equatorial for novamente negado. De momento, há uma aposta firme na exploração de reservas ricas em gás descobertas em blocos da companhia na Colômbia. A companhia também não descarta ir à Guiana e ao Suriname para explorar com sócias a Margem fora do País.
A intensidade dessa ida ao exterior vai depender da evolução da licença para explorar a bacia da Foz do Amazonas, atualmente travada pelo Ibama. O movimento tem por objetivo aumentar as reservas da empresa, e assim garantir a continuidade da produção em bom nível na próxima década.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Joelson Mendes, diz que a produção dos reservatórios gigantes do pré-sal vai declinar a partir do pico da produção, em 2032. Segundo ele, se novas reservas não forem descobertas o Brasil começará a importar petróleo a partir de 2040, o que considera um retrocesso num contexto de preocupação global com segurança energética, sobretudo para um País que atingiu a autossuficiência no setor.
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O novo Plano Estratégico da companhia para o período 2024-2028, a ser divulgado em novembro, já terá novamente a internacionalização presente, ainda que de maneira apenas indicativa. Será um pontapé para recompor uma área abandonada pela gestão anterior. Em janeiro de 2020, com a venda de ativos na Nigéria, a Petrobras saiu do continente africano, conhecido por ter geologia similar a da costa brasileira.
“A gente vai colocar de uma forma macro (no Plano Estratégico) a internacionalização. Tem descobertas no mundo importantes, como na Nigéria, Angola, Namíbia. A Petrobras saiu, mas pode voltar. Sim, a gente quer voltar”, afirma Mendes.
A presença da Petrobras na África começou ainda nos anos 1970, com esforços dos governos militares para se aproximar do continente e contornar a conjuntura do choque do petróleo, quando o Brasil ainda era grande importador da commodity.
Depois, somente nos anos 2000, sob os governos Lula e Dilma Rousseff, é que a área de E&P da estatal entrou fundo na África. Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, partindo de Angola e Nigéria, a estatal chegou gradativamente a outros oito países, lista que inclui Líbia, Moçambique, Senegal e Namíbia.
Foco na Margem Equatorial
O plano principal da diretoria de E&P da Petrobras segue sendo a Margem Equatorial, cuja licença ambiental foi negada pelo Ibama. Se esse obstáculo não for superado, com o pedido de reconsideração feito pela estatal e a adaptação às novas exigências, a saída para explorar a província será fazer parcerias com empresas que já atuam na Guiana e Suriname e também são sócias da estatal no Brasil.
No curto prazo, a diretoria de E&P da Petrobras terá de realocar os recursos até então reservados para a exploração da bacia da Foz do Amazonas. Além da Colômbia, candidatas naturais são as outras três bacias da Margem Equatorial onde a Petrobras tem blocos e cuja exploração é encarada pelo governo como menos sensível do ponto de vista ambiental.
É o caso da bacia Potiguar. Nela, os esforços devem se voltar para a exploração do bloco de Pitu, que apesar de estar na Margem Equatorial, dificilmente terá reservatórios do porte da Foz do Amazonas, onde a estatal tenta entrar.
Com relação a esforços no exterior, o executivo lamenta que após programas de incentivo à aposentadoria a Petrobras tenha perdido parte significativa do seu antigo quadro e hoje restem poucos técnicos com experiência internacional.
“Mas vamos retomando aos poucos, de maneira seletiva, e tanto aqui no Brasil, quanto lá fora, o foco será sempre a rentabilidade da Petrobras”, diz. Na África, Mendes não pretende apenas ficar nas áreas onde a estatal já explorou, mas sim desbravar novas fronteiras.
Colômbia
Nos países vizinhos do Brasil, o foco no momento é a Colômbia, que pode inclusive ajudar a solucionar a pressão por mais oferta de gás natural no mercado brasileiro, com futuras exportações de Gás Natural Liquefeito (GNL).
Ele não esconde a satisfação com a frustrada tentativa de venda dos ativos na Colômbia pelo governo anterior, o que permitiu uma “belíssima descoberta de gás” no país vizinho.
Para desenvolver o ativo foi escalado o ex-diretor de Refino e Gás Rodrigo Costa. “É uma pessoa que tem muitas qualidades e que vai poder nos ajudar nesse processo de acelerar a colocação desse gás no mercado de lá. Enquanto isso, em paralelo, a gente vai dando continuidade à campanha exploratória, que estamos nos preparando no ano que vem na Colômbia”, informa Mendes.
O governo colombiano já teria pedido para a Petrobras acelerar ao máximo possível o desenvolvimento do campo. A empresa fez uma descoberta relevante no bloco Tayrona, onde é operadora com 44,44%, em parceria com a Ecopetrol, com a participação de 55,56%.
“Tem uma boa capacidade de colocar gás na malha colombiana, e talvez consiga expandir essas reservas, o que a gente já percebeu por lá, para possivelmente fazer até GNL (Gás Natural Liquefeito)”, disse Mendes, de olho nas exportações para o Brasil.
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