Petrobras avalia que alta do petróleo ainda não pressiona gasolina e aumento é improvável

Para a companhia, situação continua sob controle e há outros fatores a se considerar além de corte na produção anunciado pela Opep+

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Atualização:

RIO - Apesar da apreensão de agentes econômicos com relação aos efeitos da recente alta do petróleo no preço dos combustíveis, fontes da companhia disseram ao Estadão/Broadcast que o movimento ainda não pressiona os preços da Petrobras.

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Mesmo com os cortes anunciados na produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) no domingo, não estaria no horizonte da estatal aumentar os preços da gasolina e muito menos do diesel, ainda vendido nas refinarias da estatal com prêmio ante os preços externos.

O Estadão/Broadcast apurou que a situação da gasolina é mais “apertada”, mas ainda assim considerada sob controle pelos técnicos da companhia.

“O clima aqui é de ‘muita calma nessa hora’. Os cortes da Opep só começam efetivamente em maio e não têm volume significativo. A subida do barril sem dúvida tira de cena a perspectiva de baixar o preço da gasolina, mas falar em salto nos preços internacionais é especulação”, diz fonte próxima das discussões.

Conforme noticiado pelo Estadão/Broadcast na semana passada, a companhia já acompanhava com atenção os preços da gasolina e descartava reduções no valor do insumo pelo menos até maio, para não se colocar em situação difícil à frente, caso as cotações internacionais subissem. A posição dos técnicos com relação à precificação da gasolina é definida como de “cautela redobrada” no momento. E os últimos acontecimentos reforçam a estratégia.

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Petrobras anunciou mudança no modo de cálculo dos preços nesta quarta Foto: FERNANDO FRAZAO/AGENCIA BRASIL

O fator por trás dessa cautela ainda não é a cotação do óleo bruto em si, mas a demanda do mercado dos Estados Unidos no curtíssimo prazo. Até maio, deve haver formação de estoques para a chamada “driving season”, a temporada de férias americanas entre meados de maio e julho, quando as famílias viajam de carro e há pico de consumo do combustível, elevando os preços naquele país e no mundo. A Petrobras espera que o momento de maior pressão nos preços da gasolina se dê ainda entre abril e maio.

Não por outra razão, a Petrobras reduziu o preço da gasolina uma única vez em 1º de março (3,9%), enquanto já praticou três reajustes no diesel, cujo preço nas refinarias da empresa já caiu 14,6% no acumulado em menos de dois meses.

O analista de óleo e gás da consultoria StoneX, Pedro Shinzato, diz que os fundamentos de oferta e demanda de combustíveis no mundo estão “relativamente estáveis”, mas há “ligeira perturbação” nos estoques dos Estados Unidos. As reservas americanas de gasolina fecharam março pouco acima dos 220 milhões de barris, abaixo do registrado em 2022 e da média dos últimos cinco anos, quando estava mais próximo dos 240 milhões de barris a essa altura do ano.

“Vamos adentrar as férias americanas com patamar de estoque de gasolina menor que o habitual, o que inspira atenção. Nos EUA, a gasolina já voltou a ficar mais cara que o diesel, o que não acontecia desde meados de 2021″, diz o especialista.

Mas, ainda que requeira atenção à volatilidade, resume Shinzato, o cenário ainda é tranquilo para a Petrobras, já que o mercado de combustíveis segue muito mais estável do que em 2022. Isso porque os produtos russos têm encontrado mercados apesar dos embargos ligado à guerra, que começou em fevereiro, e há demanda modesta devido à baixa atividade econômica em cenário de juros altos e ausência do “efeito China”. A esperada recuperação da economia chinesa e o aumento da importação de petróleo bruto para refino ainda não se impuseram este ano.

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A StoneX calcula defasagem de apenas 1,3% (ou R$ 0,04 por litro) para a gasolina da Petrobras ante o preço de paridade de importação (PPI) hoje. Como, habitualmente, a estatal só faz reajustes quando a defasagem porcentual ultrapassa dois dígitos, sua direção não deve aumentar preços nas refinarias.

Divergência

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Em que pese a conjuntura, parte dos analistas e associações discordam da tese de conforto para os preços da estatal, ao menos na gasolina. Nas contas da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina da estatal estava 5% ou R$ 0,16 por litro abaixo do preço de paridade de importação (PPI) no fechamento do mercado de ontem. Adotada desde 2016, a política do PPI, está em xeque na Petrobras. Essa não foi a maior defasagem das últimas semanas para a gasolina apontada pela Abicom. Segundo a entidade, a Petrobras pratica preços defasados desde 1º de março, com um pico de R$ 0,41 por litro de diferença para o PPI no dia 7 daquele mês.

Para o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria do engenheiro Adriano Pires, a defasagem da gasolina após o anúncio de corte da Opep+ é ainda maior, de 11,13% ou R$ 0,40 ante o PPI. Nesse cenário, de defasagem consolidada há algumas semanas, a Petrobras seria instada a aumentar o preço do insumo, quisesse seguir o preço de importação ou simplesmente acompanhar parcialmente a referência internacional.

O presidente Jean Paul Prates já disse que não vai seguir o preço do importador (PPI), mas pretende manter a referência externa. Grosso modo, significa dizer que ainda serão observados cotação do petróleo e câmbio, mas que outros fatores do PPI, como frete e seguro marítimo, tendem a ser eliminados ou reponderados.

A magnitude dos cálculos de defasagem é questionada, dentro e fora da Petrobras. O método de cálculo da Petrobras é diferente do utilizado pela Abicom, por exemplo. O fato já foi explorado por ex-diretores da estatal no passado. Segundo eles, a estatal trabalha com escala e estoques superiores aos dos importadores, cujas realidades balizam as contas da Abicom. A companhia também não repassa imediatamente as flutuações do mercado ao preço doméstico, considerando uma banda de preços e a média de períodos maiores, em que prêmio e defasagem se equilibram.

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Reação desproporcional

Com relação aos cortes da Opep+ em si, o Estadão/ Broadcast apurou que a direção da Petrobras avalia ter havido uma reação desproporcional do mercado, o “overshooting”, que repercutiu nos preços do petróleo, mas nem tanto dos derivados. Essa leitura, compartilhada por analistas, como Marcelo de Assis, da consultoria Wood Mackenzie, chegou a ser vocalizada pelo ministro da economia, Fernando Haddad (PT), na segunda-feira.

De fato, a diminuição efetiva na oferta mundial de petróleo é inferior aos 1,1 milhão de barris diários anunciados, porque a produção dos países da Opep+ já vinha abaixo da meta, esta sim alvo da redução. Além disso, o novo corte foi em parte encarado como medida preventiva para reduzir um possível superávit no balanço de petróleo para a segunda metade do ano.

Entre o anúncio dos cortes da Opep+ e ontem, o barril tipo Brent assistiu a uma apreciação de 6,48%. Na segunda-feira, 3, porém, o preço de referência para o diesel no mercado americano subiu 1,6%, e o da gasolina, 2,9%, variações bem abaixo do óleo bruto. Ontem, o preço de referência do diesel no mercado americano subiu apenas 0,2% e o da gasolina chegou a cair 0,7%, novamente descolados do óleo bruto.

A leitura na Petrobras é que esse descasamento entre petróleo e derivados se deve à percepção de enfraquecimento da economia mundial e, portanto, baixa demanda por combustíveis.

Ao mesmo tempo, a taxa de câmbio teve uma queda de 4,1% desde a sexta-feira, 24. Essa valorização do real frente ao dólar na última semana também alivia o impacto das flutuações externas no preço doméstico dos combustíveis.

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