RIO E BRASÍLIA - A Petrobras prevê aumentar em 160% a capacidade de processamento da refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, daqui a quatro anos. As obras de ampliação da unidade terão início no segundo semestre deste ano e deverão ser finalizadas em 2028, segundo anúncio dos executivos da companhia feito nesta quarta-feira, 17. O valor dos investimentos não foi divulgado.
A refinaria passará a ter uma capacidade de processamento de 260 mil barris de petróleo por dia, segundo a gerente executiva de projetos de desenvolvimento da produção da estatal, Mariana Cavassin. Atualmente, sua produção é de 100 mil barris processados diariamente.
A unidade, cuja construção foi inaugurada há 18 anos com a presença dos então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez (Venezuela), tornou-se um dos símbolos das investigações da Operação Lava Jato no escândalo do “petrolão”, esquema de desvio de recursos da estatal durante as gestões petistas. O projeto foi pensado em parceria com a estatal venezuelana PDVSA.
Sua construção se arrastou de 2005 a 2014, com um atraso de três anos para o início da operação parcial, antes previsto para 2011. Com um custo inicial de R$ 7,5 bilhões, as obras do empreendimento, que deveria ser o início da independência para o refino de petróleo brasileiro, consumiram quase R$ 60 bilhões.
Nesta quinta-feira, 18, está prevista a visita de Lula ao porto de Suape, para marcar a retomada de investimentos e ampliação de Abreu e Lima, localizada no município de Ipojuca. A cerimônia contará com as presenças do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e de representantes da Casa Civil e do Ministério de Minas e Energia (MME).
A expansão da capacidade é defendida pelos técnicos da Petrobras. As obras vão acrescentar cerca de 13 milhões de litros de Diesel S10 (de baixo teor de enxofre) por dia à capacidade de produção nacional, informou a Petrobras.
Prates disse por meio de nota que a estatal estima um aumento de produção de diesel da ordem de 40% nos próximos anos. Ele não especifica qual é o período da estimativa.
O presidente da Petrobras destaca ainda que os investimentos em refino podem “contribuir de forma rentável” para tornar o Brasil “autossuficiente na produção de combustíveis, reduzindo a demanda por importação”. Hoje o País importa entre 20% e 30% do diesel que consome e uma quantidade menor, por vezes inferior a 5%, da gasolina de que precisa.
Segundo a gerente executiva de projetos de desenvolvimento da produção da Petrobras, Mariana Cavassin, o montante total a ser investido no projeto Rnest nos próximos cinco anos ainda não pode ser revelado porque as licitações de construção do Trem 2, uma das três etapas do projeto, estão em fase de recebimento de propostas até fevereiro. Depois disso, as cifras devem ser reveladas.
Cavassin esclareceu que a partida do Trem 2 da refinaria, a unidade efetivamente nova, está mantida para 2027. “Como estamos falando de várias unidades, um sistema muito complexo, vamos ter entregas parciais, que vão passar a operar gradativamente”, disse.
Etapas
Ainda em 2024 devem começar as obras para a ampliação da produção do Trem 1 da Rnest, já existente. O processo, chamado de “revamp”, objetiva aumento de carga, melhor escoamento de produtos leves e maior capacidade de processamento de petróleo do pré-sal. A expectativa de conclusão dessa ampliação do Trem 1 é no primeiro trimestre de 2025.
Então, disse Cavassin, a capacidade de processamento já será aumentada em 30%, para 130 mil barris por dia.
Além do Trem 2, o projeto prevê a construção da primeira unidade Snox do refino brasileiro, responsável por transformar óxido de enxofre (SOx) e óxido de nitrogênio (NOx) em um novo produto para comercialização. Essas obras especificamente já estão em andamento, informou a Petrobras. A unidade vai começar a operar em 2024.
Investimento
Os executivos da Petrobras não mencionaram os montantes a serem investidos em cada uma das etapas da expansão da Rnest, sobretudo do Trem 2, porque os contratos de construção ainda estão sendo licitados no momento, com recebimento de propostas até fevereiro.
Por esse motivo, disseram, só então os dados econômicos poderão ser tornados públicos. Ainda assim, a previsão inicial de investimento no revamp do Trem 1 foi de US$ 2 bilhões. Esses investimentos estão inscritos na previsão de R$ 17 bilhões para a área, que conta do plano estratégico 2024-2028, informaram.
“Essa ampliação passou por um processo muito detalhado e rigoroso de avaliação econômica. Foi aprovado pelo conselho de administração da Petrobras em 2023. Nós avaliamos o projeto em todos os cenários econômicos que a Petrobras tem na carteira. E avaliamos isoladamente cada uma das etapas e também em conjunto para garantir que o projeto é robusto e viável economicamente, com retorno positivo para a companhia”, disse Cavassin.
Ainda conforme ela, as obras devem ter um pico de atividade em 2025, com geração de 30 mil empregos, sendo 10 mil empregos diretos.
Segundo o gerente geral da Rnest, Márcio Maia, atualmente a refinaria já responde por 6% de toda a capacidade de refino da Petrobras, o que pode chegar a 10%. Esse porcentual, no entanto, vai depender do crescimento paralelo da atividade de outras refinarias da Petrobras.
Histórico
Abreu e Lima foi lançada em 2005, no primeiro mandato do presidente Lula. A Petrobras seria responsável por 60% dos investimentos, e os 40% restantes seriam aportados pela Venezuela, o que nunca aconteceu. Com a desistência do país vizinho, a Petrobras decidiu construir sozinha, inicialmente, apenas um dos dois conjuntos (trem) de refino.
A unidade começou a operar em 2014, ficando no centro das investigações da Operação Lava Jato por superfaturamento, fato confessado pelo então diretor de refino da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
A Rnest foi a primeira refinaria construída no Brasil após 34 anos. A unidade está localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape, a 45 quilômetros de Recife. É a mais moderna refinaria da estatal, com a maior taxa de conversão de óleo bruto em diesel, combustível que responde por 70% da produção da unidade. Atualmente, a capacidade da Rnest é de 100 mil barris de óleo processado por dia.
Com as obras, que envolvem a construção do segundo trem e um revamp (melhoramento) do Trem 1, a refinaria vai contar com mais duas unidades de destilação atmosférica (UDA); duas unidades de coqueamento retardado (UCR); duas unidades hidrotratamento de diesel (HDT-D); duas unidades hidrotratamento de nafta (HDT-N); duas unidades de geração de hidrogênio (UGH); e duas unidades de abatimento de emissões (SNOX). O projeto também prevê unidades de utilidades auxiliares e facilidades logísticas.
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