O diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, Paulo Roberto Costa, negou hoje que a crise financeira mundial tenha afetado "drasticamente" a demanda por combustíveis no País. Segundo ele, o primeiro trimestre de 2009 fechou com alta no consumo, de 0,4%, puxada por um crescimento nas vendas de nafta, querosene de aviação e gás liquefeito de petróleo.O diesel e a gasolina, disse o diretor, tiveram praticamente um empate com relação ao mesmo período de 2008. Mas no caso do diesel há uma particularidade: o combustível que foi utilizado fartamente nas usinas termelétricas no início do ano passado não teve a mesma função em 2009, já que as térmicas não foram acionadas devido ao elevado nível dos reservatórios das hidrelétricas.Se considerado o consumo nas usinas térmicas em 2008, o consumo de diesel caiu 2,5% no primeiro trimestre deste ano. Se descontado este destino, a queda foi de 0,5%. Segundo ele, o não consumo nas usinas térmicas, aliado ao aumento do processamento de óleo pesado nas refinarias - que gera elevação no volume de diesel produzido no País -, deve fazer com que em 2009 a estatal atinja uma importação histórica abaixo dos 10%."Tradicionalmente temos nos mantido numa faixa importando entre 10% e 15% do diesel total consumido no País. É provável que este ano isso seja menor", disse em entrevista coletiva à imprensa na sede da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Baixada Fluminense. Ele não arriscou um palpite sobre os valores envolvidos na balança comercial deste ano."Tudo vai depender do preço do barril internacional do petróleo", disse.DieselO Brasil vai importar este ano em torno de um bilhão de litros de diesel do tipo S 50 (com 50 partes de enxofre por milhão) para atender à determinação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O volume importado vai representar dois terços do consumo total previsto para 2009 deste tipo de diesel menos poluente neste mês.Em acordo firmado no ano passado com diversas entidades governamentais, a estatal se comprometeu a fornecer este tipo de diesel às frotas cativas de ônibus urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com o cronograma do acordo, a previsão é de que toda a frota abastecida com diesel de Fortaleza, Recife e Belém deverá ter o S 50 até o final do ano. O diesel S 50 é algo em torno de 10% mais caro do que o produto hoje importado pela Petrobras."Estas três capitais foram escolhidas por questões logísticas e receberão o diesel S 50 ainda importado", disse Costa, que anunciou hoje oficialmente o início da produção do S 50 na Refinaria Duque de Caxias. A unidade já processou este mês 10 milhões de litros e terá sua capacidade gradativamente elevada até atingir 360 milhões de litros este ano. Outros 22 milhões de litros já foram importados no primeiro trimestre para abastecerem as frotas de São Paulo e Rio.Também começarão a produzir o S 50 ainda em 2009 a Replan, Regap e RPBC. Até o final de 2010, todas as unidades estarão produzindo o diesel S 50 e também a gasolina 50 ppm (partes por milhão), com exceção da refinaria de Manaus. A maior vantagem para a Petrobras com relação à melhoria na qualidade da gasolina é que a estatal voltará a acessar o mercado americano, que estava fechado para a importação de combustíveis com emissões superiores a 50 ppm.ComperjAinda deve demorar alguns meses para que a Petrobras anuncie seus sócios no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), disse Costa. Segundo ele, "há vários interessados". "É um empreendimento gigantesco e não é de uma hora para outra que se fecham acordos deste porte. As negociações estão em andamento", disse o diretor, completando que acredita que as sociedades estarão fechadas até o final do ano.Além dos investimentos nas novas refinarias - Abreu e Lima, Comperj e Premiuns - o diretor destacou que a Petrobras está transformando as demais refinarias para aumentar o processamento de óleo pesado no País, visando uma diminuição da importação de diesel. Segundo ele, a expectativa é de chegar a 2012 com o País autossuficiente em derivados.SuperfaturamentoO diretor negou veementemente qualquer possibilidade de superfaturamento na contratação das obras de terraplenagem na Refinaria Abreu e Lima, no Porto de Suape (PE). "Estamos absolutamente tranquilos com relação à contratação dos serviços. Não temos qualquer dúvida ante uma possibilidade de superfaturamento", afirmou.O superfaturamento foi apontado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e já estaria próximo a R$ 100 milhões no total da obra, que é orçada em torno de R$ 10 bilhões. Apesar de o TCU ter indicado a suspensão do pagamento das empreiteiras contratadas, Costa acredita que não haverá qualquer atraso na obra. "Nós vamos discutir com o TCU, mas ao que parece há um equívoco. O TCU está equivocado ao comparar as obras que estão sendo feitas na refinaria com as que seriam feitas em estradas. A complexidade é completamente diferente", disse o diretor.Segundo ele, há expectativa de que as negociações com a venezuelana PDVSA - sócia da Petrobras no empreendimento - caminhem para serem encerradas no final do prazo previsto, no dia 25 de maio. O prazo de 90 dias foi negociado entre as duas companhias em março para que fossem negociadas as pendências que impediam a formalização da sociedade. Costa disse que esta semana as duas empresas voltam a se reunir. Ele negou-se a fazer qualquer comentário sobre a perspectiva de a Petrobras continuar sozinha nos investimentos caso a PDVSA deixe o negócio.
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