RIO - Após meses de espera, a Petrobras anunciou nesta terça-feira, 16, a nova estratégia comercial para combustíveis, promessa de campanha do presidente Lula de “abrasileirar” os preços praticados pela estatal. Num primeiro momento, as mudanças não alteram radicalmente o que vem sendo feito: na verdade, o teste acontecerá quando o preço do petróleo subir, na avaliação de analistas. Para parte do mercado, porém, a principal novidade da nova política é que a transparência e a previsibilidade foram abandonadas.
Em comunicado ao mercado sem grandes elementos para análise, a estatal disse que abandonou o preço de paridade de importação (PPI) para a gasolina e o diesel, implantado pela Petrobras em 2016, que considerava o preço do petróleo no mercado internacional, o câmbio e o custo da importação.
Adotará como parâmetro, a partir de agora, o custo alternativo do cliente e o valor marginal à própria estatal. Ou seja, a Petrobras vai olhar mais para dentro do que para fora, o que reduz a transparência dos reajustes nas refinarias da empresa.
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“Quando fala que vai levar em consideração o custo dela (Petrobras), está dizendo que não vai levar em conta o preço internacional, ou seja, o preço passou a ter parâmetro apenas nacional, e isso é negativo”, diz o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman.
Para ele, não houve nenhum “cavalo de pau”, como um anúncio de subsídio ou represamento de preços, como ocorreu em 2015, o que está fazendo as ações da companhia subirem expressivamente no pregão de hoje na Bolsa de Valores.
“A gente tem de dar um tempo para ver como será, na prática, quando o preço do Brent tiver mudanças mais bruscas”, afirma. “O teste da nova política vai ser quando o Brent (petróleo) alcançar US$ 100 (o barril).”
Previsibilidade
Na avaliação do sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Pedro Rodrigues, a nova estratégia acaba com a previsibilidade dos reajustes de preços, e ainda fica a dúvida de como a Petrobras vai operacionalizar as mudanças.
“Com o PPI, havia previsibilidade sobre a tendência do que acontecia”, diz Rodrigues. “Essa previsibilidade acabou.” Segundo ele, haverá impacto principalmente para os importadores, que antes conseguiam enxergar com antecedência possíveis reajustes baseados no comportamento do petróleo no mercado internacional.
Já o economista e CFO da Somus Capital, Luciano Feres, não vê impacto para o consumidor final nos postos de abastecimento, mas prevê maior influência política na empresa e queda no lucro. “Uma política que não segue a paridade, não tem como ser positiva”, disse.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, nada ficou claro no comunicado da Petrobras e existem ainda muitas dúvidas.
“Eu li até duas vezes o fato relevante e, para mim, não está muito claro não, tem coisas muito subjetivas: como vai ponderar a melhor alternativa do cliente na formação de preço, a margem por refinaria, o preço do produto alternativo. Na minha visão, o que tem de concreto é que a transparência acabou”, afirma.
Rentabilidade
Junto à estratégia, a Petrobras anunciou a queda do preço de combustíveis, com a alegação de já ser resultado dessa nova visão. Porém, segundo dados da Abicom, que considera o PPI, a gasolina estava 15% mais cara no mercado interno desde meados de abril e poderia ter queda de R$ 0,42; o diesel era negociado 9% acima do preço internacional, com margem para redução de R$ 0,28. Já o gás de cozinha, segundo o Cbie, estava 63% mais caro, com janela para uma queda de R$ 1,25.
Em Brasília, ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o presidente da Petrobras anunciou a queda da gasolina em R$ 0,40 por litro; o diesel, em R$ 0,44 por litro, e o GLP, em R$ 0,69 por litro.
Segundo o comunicado da estatal, a nova estratégia “permite à Petrobras competir de forma mais eficiente, levando em consideração a sua participação no mercado, para otimização dos seus ativos de refino, e a rentabilidade de maneira sustentável”.
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