O reajuste dos combustíveis anunciado na quinta-feira pela Petrobrás e o fim da defasagem em relação aos preços internacionais darão fôlego financeiro para a petroleira, mas não serão suficientes para a estatal cumprir o seu plano de investimentos apenas com geração de caixa.
Um estudo feito com exclusividade para o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, pelo professor do Insper e diretor da M2M Consultoria, Eric Barreto, calcula que a Petrobrás precisaria de mais cerca de R$ 10 bilhões para conseguir repetir nos próximos 12 meses o mesmo ritmo de investimento do primeiro semestre deste ano.
“O aumento melhora bastante a situação da Petrobrás, mas não resolve completamente a questão dos investimentos. Para isso, a empresa teria que também gerar mais caixa, o que poderia vir por meio do aumento de produção”, afirmou Barreto.
O atual plano de negócios da Petrobrás prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões de 2014 a 2018. O segmento com a maior fatia de investimentos nos próximos quatro anos é o de exploração e produção, com 70% do total (US$ 153,9 bilhões).
Além do aumento de produção, a Petrobrás pode recorrer também a novos financiamentos e ainda à venda de ativos para tentar fechar o seu orçamento. A estatal já informou que trabalha em um plano de desinvestimento para se desfazer de projetos que não são estratégicos. O problema da alternativa do financiamento é que, ao elevar o endividamento, a companhia iria pressionar ainda mais seu nível de alavancagem.
O estudo feito por Barreto mostra também que o reajuste e o fim da defasagem terão impacto estimado em R$ 16,8 bilhões no lucro líquido da Petrobrás nos próximos 12 meses. Só o reajuste vai gerar uma receita adicional de R$ 8,1 bilhões no mesmo período.
“Mesmo com a rentabilidade baixa, a Petrobrás já estava gerando resultados positivos. A geração de caixa, no entanto, era menor do que o potencial dela.” O professor do Insper faz um paralelo entre a companhia e as concorrentes internacionais. De 2011 a 2013, a margem de lucro era negativa na Petrobrás, enquanto empresas do mesmo setor tinham o porcentual oscilando entre 0,8% e 3,5%.
O especialista em petróleo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Maurício Canedo ressalta que Petrobrás tem um plano de investimento ambicioso, mas, “com o represamento dos preços dos combustíveis por meses, estava em uma situação difícil, a ponto de o preço do petróleo cair e a companhia comemorar, o que é impensável para uma petroleira”. Canedo chama atenção para os efeitos positivos do reajuste no plano de negócios. Com mais geração de caixa, a empresa não terá tanta necessidade de recorrer a dívidas ou de vender ativos para levantar os recursos para desenvolvimento do pré-sal e para concluir, pelo menos, duas refinarias, a Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj, no Rio.
“Não é possível saber o quanto de fôlego a empresa ganha com essa proporção de reajuste, mas a notícia é boa do ponto de vista da capacidade da Petrobrás de cumprir o seu plano de negócios, exatamente em um momento em que acaba de ter a nota rebaixada pela Moody’s”, disse Canedo. Além disso, diz que o reajuste não resolve completamente o problema da estatal, “mas sinaliza na direção correta” de que reajustes serão concedidos periodicamente.
Tiago Biscuola, economista da RC Consultores, diz que o tamanho do alívio que o reajuste trará à companhia está condicionado ao retorno ou não da cobrança da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) no preço da gasolina. A expectativa é que o governo retome o imposto para aumentar a arrecadação.
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