Além de exportar álcool para ser usado por veículos japoneses, a Petrobras planeja abastecer usinas termelétricas do Japão com o álcool nacional. Projeto da estatal neste sentido está sendo negociado com representantes de um grupo de usinas térmicas que possuem capacidade equivalente à metade do total de energia gerado no Brasil, ou cerca de 40 mil MW. "É claro que não vamos atender a 100% desta demanda, porque não teríamos álcool suficiente para isso num primeiro momento. Mas queremos atender a este mercado ao máximo possível dentro de nossa capacidade", disse nesta quarta, em entrevista após participar de evento promovido pela Organização Nacional da Indústria de Petróleo (Onip) para empresários do setor no Rio, o gerente geral de Planejamento e Gestão da Área de Abastecimento da estatal, Paulo Maurício Cavalcante Gonçalves. Segundo ele, a idéia é de que apenas uma parte dos 3,5 bilhões que devem ser exportados pela companhia para o Japão a partir de 2008 seja utilizada nos veículos. A maior parte seria mesmo direcionada para o abastecimento das usinas térmicas. "O Japão tem uma série de restrições ambientais com relação a outros combustíveis e o álcool é um combustível que atende as exigências da legislação local", disse. De acordo com o executivo, para que os contratos sejam assinados, as usinas japonesas estão realizando testes hoje no Japão e a própria Petrobras tem feito simulações em sua usina Barbosa Lima Sobrinho (antiga Eletrobolt) para determinar mais claramente o melhor aproveitamento do álcool na geração térmica. "Os testes no Japão estão bem mais avançados e lá eles têm conseguido uma elevada eficiência energética devido a um melhor ajuste de suas turbinas. Por isso, o projeto pioneiro deverá ser implementado antes no Japão do que aqui", comentou, completando que no caso das usinas japonesas, o álcool teve um aproveitamento até maior do que combustíveis mais comuns em térmicas, como o gás natural e o óleo combustível. Bioetanol O executivo também se mostrou otimista com a possibilidade de o Brasil produzir etanol a partir do bagaço da cana-de-açúcar, além do processamento da própria planta. A perspectiva, argumentou ontem, pode dobrar o volume de álcool produzido hoje, sem elevar a quantidade de cana plantada. Ainda segundo ele, os testes neste sentido têm sido "satisfatórios" e já permitiriam a produção em escala industrial dentro de dois a três anos. O executivo admitiu que a utilização do bagaço de cana para outra finalidade poderá reduzir a sua disponibilidade para queima em usinas térmicas movidas com biomassa. "Mas a redução será insignificante perto do ganho obtido com o aumento do volume de etanol", disse.
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