BRASÍLIA – Nas searas econômica e política, a semana começa com a expectativa de um desfecho para a crise que se instalou na Petrobras e evidenciou o racha dentro do governo. O presidente da estatal, Jean Paul Prates, aguarda um aceno de Luiz Inácio Lula da Silva para tentar se segurar no cargo, em meio à ofensiva do ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira.
O nome do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, lidera a longa lista de cotados para uma eventual substituição de Prates, mas o tema segue em aberto, inclusive com a possibilidade de construção de um meio-termo.
O arranjo alternativo, como revelou o Estadão/Broadcast, preveria Mercadante na presidência do conselho da estatal, mediando conflitos entre a diretoria e demais integrantes indicados pelo governo, enquanto Prates manteria o cargo, mas com foco na parte operacional da companhia. De quebra, Prates ainda tiraria do colegiado o atual presidente, Pietro Mendes, que é secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME e braço direito de Silveira.
Neste domingo, 7, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava em São Paulo, foi chamado de última hora por Lula para uma reunião no Palácio da Alvorada. O chefe da área econômica chegou a voar para Brasília, mas o encontro foi cancelado. Segundo aliados, o presidente se irritou com o vazamento da informação à imprensa e decidiu cancelar o compromisso. A conversa, de acordo com a agenda oficial, foi remarcada para esta segunda-feira, 8, às 18h.
O Estadão apurou que o ministro da Fazenda vem tentando se manter distante do duelo político entre Silveira e Prates. A pessoas próximas, disse que só vai opinar sobre o tema quando for solicitado pelo presidente Lula, e com base em argumentos técnicos – o que inclui a pauta da distribuição dos dividendos extraordinários da companhia, que gerou um racha.
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Na reunião de março, o conselho da empresa decidiu pela retenção dos valores, frustrando investidores e deixando evidentes as divergências dentro da gestão petista. À época, Silveira e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, se colocaram de forma contrária à distribuição, enquanto Prates defendeu o pagamento de 50% dos valores.
Na ocasião, Haddad se alinhou a Prates, sustentando o pagamento dos proventos desde que não houvesse prejuízo aos investimentos da empresa. Apesar disso, o ministro relatou a interlocutores estar incomodado com a avaliação de que teria “largado a mão” do presidente da Petrobras, que vem sofrendo uma fritura pública.
Segundo essas pessoas próximas, o ministro “não largou porque nunca segurou”. Ou seja, tratou-se de algo pontual, já que havia convergência de pensamentos.
Na última quinta-feira, Haddad, Costa e Silveira acertaram, em reunião fechada, a distribuição dos valores extraordinários. A proposta, porém, ainda precisa do aval de Lula e da chancela do conselho de administração da companhia. Se o pagamento se confirmar e ocorrer em sua totalidade, isso significará R$ 43,9 bilhões, sendo R$ 12,6 bilhões devidos à União, que é a principal acionista da estatal.
Nas conversas internas da Fazenda, como mostrou o Estadão, o clima é de torcida: tanto para que a distribuição se confirme como para que ocorra o mais rapidamente possível.
Isso porque o valor servirá para tapar o “buraco” deixado pela desoneração da folha dos pequenos municípios, uma derrota imposta a Haddad pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como consequência, isso aumentará as chances de o governo abrir espaço para gastos extras de até R$ 15,7 bilhões neste ano. Em um período de três anos, até 2026, isso significará R$ 50 bilhões a mais no Orçamento.
A principal exigência do governo é de que a distribuição não prejudique o plano de investimento da empresa, com o qual o Planalto espera gerar empregos e turbinar a economia. Na visão de analistas do mercado, porém, os indicadores da companhia estão fortes e a decisão de reter os recursos foi estritamente política, já que a empresa teria capacidade de investir, gerar lucro e remunerar os acionistas ao mesmo tempo.
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