‘Petrobras ter sete presidentes em oito anos é muito nocivo’, diz conselheiro da empresa

Representante dos acionistas minoritários, Marcelo Mesquita afirma que apenas privatização da companhia acabaria com a instabilidade

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Foto: leblonequities via Instagram
Entrevista comMarcelo MesquitaEconomista e conselheiro da Petrobras

RIO - No próximo dia 19, o economista Marcelo Mesquita participa da sua última reunião no Conselho de Administração da Petrobras. Representante dos acionistas minoritários de ações preferenciais, o sócio cofundador da Leblon Equities defende a distribuição total dos dividendos extraordinários da estatal. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o conselheiro fala também dos malefícios que as especulações em torno da queda do presidente da empresa, Jean Paul Prates, causam na companhia. Segundo ele, somente a privatização vai conseguir acabar com a instabilidade na cadeira do presidente da empresa.

“Foram sete presidentes em oito anos”, observa ele, afirmando que se não fossem as sucessivas trocas, a petroleira poderia estar produzindo o dobro do que produz atualmente. Mesquita deixa o cargo que ocupa há oito anos depois da Assembleia Geral Ordinária (AGO) da estatal, no próximo dia 25, quando serão eleitos os novos membros do Conselho. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual o impacto na empresa das especulações sobre a saída de Prates?

Gera uma instabilidade muito nociva no dia a dia da empresa. Todo mundo para. Os diretores começam a procurar emprego, os gerentes gerais executivos sabem que vão ser trocados quando entrar uma pessoa nova. Todos ficam paralisados, ficam assistindo um debate político em vez de tocar o dia a dia, que é o importante para a empresa produzir petróleo a baixo custo.

Foi a instabilidade política que atrapalhou a evolução da produção da Petrobras?

É claro que foi a questão política. É a instabilidade política que atrapalha a vida da empresa e a curva de produção. A empresa poderia ser hoje bem maior e mais rentável se fosse uma corporação brasileira pública e não uma corporação brasileira estatal.

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A discussão sobre a distribuição dos dividendos extraordinários também tem conturbado o dia a dia da empresa. Por que o sr. defende o pagamento total dos proventos?

Quando a empresa gera resultado, caixa, normalmente qual o caminho normal? Ela procura todos os investimentos que tem retorno maior do que o custo de capital dela, ou seja, que cria um valor para os acionistas e faz esses investimentos. O que sobra depois disso é um dinheiro que não tem utilidade, e o ideal é que seja devolvido aos acionistas, porque o retorno é baixo. Ficando no caixa da empresa, o investimento é no CDI, que é um retorno baixo.

E para os acionistas minoritários, qual o impacto se o governo decidir manter os dividendos no caixa da empresa?

Do ponto de vista dos minoritários, os acionistas ao receber o dinheiro vão procurar investimentos que rendam mais do que o CDI, vão investir em outras ações, em outras empresas, outros projetos, porque é onde vão achar retorno superior ao custo do capital que é o CDI.

Mas o governo alega que quer mais investimentos da Petrobras. É possível utilizar esses dividendos para isso?

Esse é um debate maluco, porque assume que a Petrobras ao pagar dividendos não está investindo, e isso não é verdade. A Petrobras não deixa de fazer hoje nenhum investimento que ela quer, ela faz todos os investimentos possíveis que ela consegue administrar, gerir e que tenha retorno. Não é verdade (dizer que poderia investir esses recursos), ela já investiu tudo o que ela queria e o que sobrou é o que está sendo discutido. Então o que sobrou você poderia distribuir 100%. No passado, quando ela estava com uma dívida de US$ 120 bilhões, ela não pagava dividendos porque usava o dinheiro que sobrava para reduzir a dívida. Só que agora já pagou a dívida e a dívida está relativamente baixa, em US$ 60 bilhões, que é um tamanho normal para uma empresa do tamanho dela. Dado que, a dívida já está do tamanho correto e ela já investiu tudo o que ela quer, o que sobra tem de distribuir.

A solução que vem sendo especulada é de um pagamento da 50% dos dividendos extraordinários, a proposta inicial da diretoria da Petrobras. Isso contenta os minoritários?

É melhor do que nada. Mas o correto é distribuir 100% e não só 50%.

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O aumento de investimentos da Petrobras tem no horizonte a transformação da empresa em uma empresa de energia, não apenas de petróleo, com diversificação para as fontes renováveis. O que o sr. acha desse caminho?

Eu votei contra o Plano Estratégico (2024-2028). Eu acho ruim a empresa diversificar, perder o foco. Eu prefiro que empresa invista na exploração de petróleo e não em atividades onde ela não tem vantagem competitiva, nem de custos. Acho ruim também ficar grande no refino, o ideal seria manter só 50% de market share. Quando é muito alto, faz mal a ela.

Para o sr., que está saindo agora, qual seria o melhor cenário para a Petrobras do ponto de vista do acionista minoritário?

Quanto mais a gente assiste a Petrobras nas páginas dos jornais na área política, mais fica claro que ela tem de ser privatizada, porque a causa de todos esses problemas nesses oito anos é sempre a questão política. Essa insatisfação com os presidentes da empresa a cada ano, sete em oito anos, é muito nocivo se você quer produzir petróleo. Tem de privatizar, se privatizar acaba essa instabilidade de gestão que é nociva para a empresa.

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