Como o valor do barril de petróleo pressiona a Petrobras a ‘abrasileirar’ os preços

Barril pode chegar a US$ 100 no segundo semestre, segundo analistas; novo Conselho de Administração da estatal tem missão de acabar com a paridade de importação

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Atualização:

RIO - A volta do crescimento das economias da China e da Índia, somada aos cortes de produção pela Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), pode levar o preço do petróleo a alcançar US$ 100 o barril no segundo semestre, na avaliação de analistas desse mercado. A alta da commodity colocará pressão sobre os preços da Petrobras e será um teste para a gestão da estatal, que estará completa a partir de maio após a eleição do novo Conselho de Administração, em 27 de abril, com a missão de acabar com a política de paridade de importação (PPI) para “abrasileirar” os valores dos combustíveis.

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Desde o início do ano, a estatal vem se beneficiando do preço do petróleo em torno de US$ 80 o barril e de um dólar mais fraco, o que ajuda a evitar reajustes. Mas esse cenário deve mudar com a chegada do verão no Hemisfério Norte e a volta da demanda na Ásia, depois que China e Índia divulgaram crescimento maior do que o esperado. A previsão do Fundo Monetário Nacional é também que o Produto Interno Bruto (PIB) da Índia dê um salto de quase 7% este ano. Esta semana, a China anunciou alta de 4,5% no PIB do primeiro trimestre de 2023 ante igual período do ano passado. O número ficou acima do esperado pelo mercado, o que fez consultorias elevarem a projeção de crescimento para 6%.

O último reajuste da gasolina nas refinarias da Petrobras foi uma redução de 3,9% há 51 dias. No caso do diesel, também uma queda (-4,5%), há um mês.

“A tendência é que o preço do petróleo se mantenha em um patamar alto no segundo semestre, exatamente pelo aumento da demanda chinesa e indiana. Agora, neste momento, os preços não devem crescer tanto, pelo menos até julho, pela preocupação com a demanda global, principalmente Estados Unidos e Europa”, afirma o analista de petróleo da Stonex Bruno Cordeiro.

Os sinais para a previsão foram dados nas últimas semanas, com o registro de recordes de refino tanto na China como na Índia. Já nos Estados Unidos, a expectativa é com o aumento do consumo de gasolina nas férias de verão, a partir de junho. Mas assim como em relação à Europa, ainda existem dúvidas sobre o real desempenho da economia norte-americana.

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No último reajuste, Petrobras reduziu preço da gasolina nas refinarias em 3,9%; no caso do diesel, queda foi de 4,5% Foto: Fabio Motta/Estadão

“Os Estados Unidos são o x da questão. A gente já esperava que ia ter queda de demanda de diesel, mas a gasolina vem surpreendendo, está operando acima da média dos últimos cinco anos e tem as férias de verão, quando há maior consumo de gasolina”, observa Cordeiro.

Segundo ele, existe uma preocupação acerca da capacidade dos produtores de petróleo em responder a um eventual crescimento acelerado da demanda, já que há alguns anos as petroleiras vêm investindo menos na produção da commodity, com os recursos agora divididos com energias renováveis. “Esse é um problema que vejo mais para frente. A falta de investimentos no mercado de petróleo. Nos próximos anos, teremos problemas de fornecimento de combustíveis”, alerta.

China e Opep

Também o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), do engenheiro Adriano Pires, projeta o preço médio do barril do tipo Brent em 2023 a US$ 87,61. Esse valor é 9,9% inferior ao preço médio de 2022 (US$ 97,20), mas superior à cotação atual. No segundo semestre, a previsão é de que o barril possa chegar aos US$ 100.

Para o sócio e diretor do Cbie, Bruno Pascon, o último corte na meta de produção da Opep+ (1,5 milhão de barris por dia, mas que é menor na produção efetiva) não afeta essa projeção, mais influenciada pelo movimento de demanda da economia chinesa, provavelmente concentrado no segundo semestre. “Projetamos um preço do barril entre US$ 80 e US$ 85 no primeiro semestre e entre US$ 90 e US$ 95 no segundo semestre com o esse preço passando pontualmente da barreira dos US$ 100, mas resultando em média de 87,61 no ano”, diz ele.

Nas contas do Cbie, se a China crescer 5% como projetado pelo governo local, e com um corte adicional real de 500 mil barris por dia na produção efetiva, esse preço deve ficar em torno de US$ 89,36. Nas mesmas condições, se a China crescer mais um ponto porcentual (6%), esse preço já salta para US$ 97,01.

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Caso o cartel promova mais cortes e a China tenha uma performance ainda melhor, as previsões da consultoria para o barril de óleo bruto ultrapassam os US$ 100 na média anual. Como o preço atual ainda está na casa dos US$ 80, isso significa um fim de ano pressionado para o barril, necessariamente acima de US$ 100.

Preço ajustado

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Para Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, antes de subir o preço deve cair nos próximos meses, o que motivou o corte de 1 milhão de barris anunciado pela Opep no início de abril. Ele observa que junto com o corte de outubro (2 milhões de barris), a Opep “tirou quase um Brasil do mapa da oferta de petróleo no mundo”, referindo-se à produção de petróleo do País (3,262 milhões de barris por dia em fevereiro). Ele afirma que com isso a Opep tem demonstrado que não vai deixar o preço cair.

“A Opep vai fazer de tudo para manter o preço ajustado. A gente segue acreditando que dificilmente vamos ter preços de petróleo abaixo de US$ 70, vai ficar mais para US$ 80 e US$ 100. Dificilmente um dos dois lados (oferta e demanda) vai sobressair de forma tão forte no curto prazo. As forças tendem a se equilibrar”, avalia.

Por esse motivo, Arbetman prevê que o preço do petróleo continuará em patamar elevado e, com exceção da Petrobras - que deve passar por mudança na política de preços -, outras petroleiras com ações na bolsa devem ter um desempenho positivo em função dessa alta.

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