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Cotação do petróleo recua nesta 3ª; para analistas, mercado pode estar mais ‘resistente’

Avaliação é que guerra em Israel só deve ter impacto maior nos preços se conflito se espalhar pela região do Oriente Médio e atingir os grandes produtores

Por André Marinho e Maria Lígia Barros
Atualização:

São Paulo - Os preços do petróleo no mercado internacional abriram esta terça-feira, 10, em queda, após subirem mais de 4% no primeiro dia de negociações após a eclosão da guerra em Israel. Nesta manhã, o barril (equivalente a 159 litros) do petróleo Brent recuava 0,54%, cotado a US$ 87,67. Já o óleo tipo WTI caía 0,51%, com cotação de US$ 85,94 o barril.

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Para analistas, o fato de a barreira dos US$ 90 por barril não ter sido superada após o início dos conflitos sugere que o mercado pode estar muitos mais resistente a choques geopolíticos do que em 1973, quando uma guerra semelhante impulsionou os preços da commodity.

A Faixa de Gaza - epicentro dos confrontos iniciados após o ataque terrorista do grupo Hamas a Israel, no sábado -, não é um polo indispensável de produção petrolífera. De acordo com o Departamento de Energia (DoE) dos Estados Unidos, o território palestino não tem reservas comprovadas de hidrocarbonetos, apesar de suspeita de que campos subterrâneos israelenses possam se estender pela região. Os israelenses, por sua vez, tinham em 2016 cerca de 14 milhões de barris, mas produzem muito pouco.

Os efeitos nos fluxos de petróleo, portanto, são residuais, conforme afirma o analista Matt Smith, da empresa de dados e análises sobre os mercados de commodities Kpler. “Então, a menos que vejamos uma propagação geográfica das turbulências nos próximos dias, o aumento (nas cotações) provavelmente será de curta duração”, avalia, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Conflito iniciado no sábado pode ter reflexos maiores no preço do petróleo se atingir também outros países da região Foto: Said Khatib/AFP

Neste contexto, a reação de outros atores no xadrez internacional deve ditar os potenciais impactos que o conflito poderá implicar. A Capital Economics lembra que, antes do final de semana, as negociações por um acordo de paz entre Israel e Arábia Saudita estavam bem encaminhadas e incluíam concessões israelenses na questão palestina. Ainda de acordo com a consultoria britânica, as discussões também previam uma possível elevação da produção saudita. “Isso agora parece improvável”, afirma.

Embora ainda não tenham se materializado, há preocupações com a possibilidade de interrupções na produção. “Temos importantes produtores na região, com foco principalmente na Arábia Saudita. Também houve acusações de que o governo iraniano estaria diretamente ligado aos ataques”, diz o analista de Inteligência de Mercado para Petróleo da StoneX Bruno Cordeiro. “Isso acabou engatilhando fortes receios por parte dos agentes financeiros.”

A suspeita sobre o Irã preocupa especialmente, já que, além de ser um dos grandes produtores de petróleo, o país abriga o Estreito de Ormuz, como destaca Cordeiro. O estreito fica localizado entre o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico e é responsável por levar cerca de 20% de todo o petróleo consumido no mundo (aproximadamente 17 milhões de barris por dia), segundo o especialista. Possíveis retaliações de Israel ao Irã poderiam desencadear problemas logísticos para a oferta de petróleo no mundo, à medida que têm potencial para afetar os fluxos comerciais no estreito, diz.

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O Hezbollah, grupo fundamentalista islâmico com sede no Líbano e apoio do Irã, emerge neste tabuleiro como agente essencial para entender os próximos passos. A imprensa local relatou ataques organizados pela organização paramilitar na região da fronteira com Israel, mas ainda não está claro se essas ofensivas significam uma entrada oficial na guerra. “No cenário ainda algo improvável em que o Hezbollah se envolvesse diretamente, o risco de uma guerra mais ampla envolvendo o Irã aumentaria dramaticamente”, alertam analistas do Danske Bank.

Gás natural é preocupação maior

O banco alemão entende que o envolvimento iraniano poderia reverter o aumento na produção que o país persa vinha empreendendo. No entanto, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos teriam capacidade suficiente para mitigar esse movimento, de acordo com a análise. O Danske Bank acrescenta que um aperto ainda maior no mercado de petróleo já não teria o mesmo efeito do que no início da guerra na Ucrânia. “Então, mantemos nossa previsão de que o Brent vai ter média de US$ 85 por barril no quarto trimestre”, projeta.

Mais vulnerável que o petróleo, a disparada do gás natural pode ter implicações mais graves, ainda conforme o banco. Nos últimos anos, Israel avançou fortemente na exploração da commodity e descobriu diversos campos. O país determinou hoje o fechamento de um desses campos, da Chevron, o que levou a uma disparada nos preços. “A guerra entre o Hamas e Israel acrescenta assim uma camada adicional de desconforto à situação global no mercado do gás natural e um potencial prêmio adicional sobre os preços do gás natural”, ressalta.

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