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Volatilidade do preço do petróleo deve se manter e demanda fraca freia fortes altas

Opep+ anunciou na semana passada corte da produção da commodity em 2 milhões de barris por dia, o maior desde abril de 2020

RIO - O sobe e desce do preço do petróleo no mercado internacional deve continuar a trazer instabilidade ao mercado de derivados no Brasil, avaliam especialistas. Eles veem muita volatilidade no setor nos próximos meses por conta de variáveis que podem causar impactos no mercado. Após o anúncio, na semana passada, do corte de produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) não surtir o efeito esperado, há quem fale em nova redução para tentar turbinar o preço, uma vez que a projeção da demanda tem indicado risco de recessão em vários países, inclusive os maiores impulsionadores da economia, como China e Estados Unidos, e também na Europa.

O petróleo perdeu o patamar dos US$ 90 por barril (US$/b) em meados de setembro com o temor de recessão global. Temendo a perda de valor, a Opep+ anunciou corte da produção da commodity em 2 milhões de barris por dia, o maior desde abril de 2020, início da pandemia do covid-19. Com isso, a cotação voltou ao patamar anterior e chegou a atingir mais de US$ 97/b no início de outubro, caindo esta semana para abaixo dos US$ 95/b.

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“O medo de recessão está maior do que o corte de produção da Opep. Mesmo com o corte, a perspectiva de recessão da China e da Europa também é vista como bem profunda. A falta de demanda vai impedir que esse preço se mantenha mais alto”, avaliou Matheus Peçanha, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), que prevê a possibilidade de novo corte pela Opep+.

Mesmo com a alta do petróleo, os derivados no Brasil - segmento ainda dominado pela Petrobras -, são negociados nas refinarias a preços inferiores aos do mercado internacional. Nesta sexta-feira, 14, o diesel registrava defasagem de 16% e a gasolina de 11%, segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Ou seja, para se equiparar ao mercado internacional, seriam necessários aumentos de R$ 0,97 por litro para o diesel e de R$ 0,43 por litro para a gasolina.


Sem reajuste no Brasil até o segundo turno

“No Brasil, tem a questão eleitoreira. Porque mesmo com o petróleo subindo no longo prazo, nem eu nem ninguém acredita que a Petrobras vá subir o preço, pelo menos esse mês até o dia 30″, disse o economista.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a Petrobras está sendo pressionada a manter os preços até pelo menos o fim do segundo turno das eleições presidenciais, marcada para o próximo 30 de outubro. Os últimos reajustes da Petrobras, para baixo, ocorreram nos dias 2 (gasolina) e 20 (diesel) de setembro.


Falta isonomia

De acordo com a Ativa Investimentos, quando o preço do petróleo caiu em setembro, a Petrobras rapidamente tomou a decisão de reduzir a gasolina e o diesel nas refinarias em vários momentos - quatro vezes no caso da gasolina e três vezes no caso do diesel. No entanto, agora, quando a cotação da commodity subiu no mercado internacional, não houve o mesmo movimento.

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“Destacamos que tanto a Abicom como o Cbie (Centro Brasileiro de Infraestrutura) apontam no momento a existência de uma defasagem perante o preço da gasolina transacionada no País diante dos preços do Golfo (do México)”, avaliou a Ativa em um relatório, criticando a falta de isonomia nos reajustes.

O Cbie estima defasagem de 6,72% para a gasolina e de 12,40% para o diesel no mercado interno na comparação com o mercado internacional, um pouco abaixo da Abicom, enquanto o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, afirma que os preços da companhia estão próximos do valor médio do mercado.

“Se olhar a sociedade brasileira, a gente (Petrobras) passar mais amiúde a redução e demorar um pouco mais para passar a subida, com isso estamos beneficiando a sociedade brasileira”, justificou em evento online.

O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás Natural (IBP), Roberto Ardhenghy, vê muitas variáveis afetando o mercado do petróleo, que está em plena acomodação após as mudanças trazidas pela invasão da Ucrânia pela Rússia e pela expectativa de queda de demanda em grandes economias mundiais.

Ao mesmo tempo, Ardhenghy percebe sinais contraditórios pois alguns países aumentaram a oferta. Os Estados Unidos aumentou a de petróleo bruto. Nos derivados, houve a entrada em operação de refinarias da Nigéria e o aumento de processamento no México e nos Emirados Árabes, com algumas refinarias subindo em até 50% o processamento. O número de sondas no xisto norte-americano subiu de 30 para 81 sondas.

“Tem muitas variáveis na mesa, o cenário está muito incerto ainda”, disse. Ele acrescentou que tudo pode mudar se a China anunciar medidas de aquecimento econômico no Congresso do Partido Comunista que está sendo realizado. “Existe um cenário de relativa escassez que os analistas reconhecem. Se isso vai se refletir nos preços, vai depender desses movimentos”, concluiu.

Plataformas de exploração de petróleo situadas na Baía de Guanabara, vistas da Ponte Rio-Niterói, região metropolitana do Rio Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO 

Diesel em alta

Para Felipe Perez, estrategista de downstream da consultoria S&P Global, os preços da gasolina devem se manter estáveis no curto e no médio prazos porque espera-se ainda alguma queda seguida de estabilidade no crack spread (diferença de preço entre o petróleo bruto e o derivado). No diesel, a situação é diferente. A expectativa é de alta nos preços e com a manutenção em patamar alto por um bom tempo devido aos altos preços do gás natural, que tem implicações direta e indireta sobre o diesel.

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“Primeiro, o preço do gás interfere no custo de processamento do diesel. Para se fazer diesel de baixo enxofre é preciso hidrogênio, que vem desse gás natural. Se o gás está caro, a produção do diesel encarece e isso é repassado ao preço final. Depois, com a aproximação do inverno no hemisfério norte, o diesel passa a ser usado diretamente em sistemas de calefação como substituto do gás”, disse.

Perez prevê que as sanções impostas à Rússia após a guerra na Ucrânia vão gerar impactos sobre os preços, mas não imediatamente. Para os derivados, as sanções entram em vigor em 5 de fevereiro. “Ainda falta um tempo, mas ninguém quer ser o último da fila. As empresas, compradores e vendedores, já estão se posicionando. Essa previsão já afeta contratos futuros para daqui a três ou seis meses, mas é um fato que, quando chegar a hora, a coisa vai ficar mais complicada”, avaliou.

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Eberaldo de Almeida, consultor e ex-presidente do IBP, estima que os preços do diesel ficarão pressionados nos próximos meses, com cotações estáveis em patamares altos ou em trajetória de alta. No caso do diesel, a demanda não deve ceder em função do inverno, que vai exigir mais diesel para aquecimento. Já a oferta deve seguir restrita em razão das sanções a serem implementadas e de ameaças de atos de guerra, como a explosão do gasoduto Nord Stream I, que levava 155 milhões de metros cúbicos de gás russo por dia à Europa, sobretudo para a Alemanha.

“Esse gás que vai deixar de chegar ou tem fluxo interrompido é substituído por diesel tanto na indústria quanto na casa das pessoas. A conjuntura pressiona duplamente os preços”, diz. Com a elevação das cotações e a disputa por cargas no mundo, os preços do diesel no Brasil também tendem a permanecer em alta, afirmou Almeida.

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