A economia brasileira conseguiu dar uma acelerada no primeiro trimestre. Saiu de uma queda de 0,1% no quarto trimestre do ano passado para uma alta de 0,8% agora. Os dados divulgados nesta terça-feira, 4, pelo IBGE mostram um crescimento do PIB puxado pelos Serviços (o setor que detém a maior fatia da atividade econômica), com alta de 1,4%. A agropecuária mostrou mais uma vez sua força, com aumento de 11,3%. E a indústria voltou a decepcionar - queda de 0,1%.
O número veio mais ou menos dentro da previsão dos analistas, e corrobora as projeções feitas para o crescimento do ano - as estimativas atuais apontam para algo como 2,1% ou 2,2%. Mas esse é um bom número para um país como o Brasil? Tudo depende muito do ponto de vista.
O governo, por exemplo, provavelmente comemore. Um crescimento acima de 2% em 2024 seria muito acima do que o mercado financeiro apontava lá atrás. No Boletim Focus, do BC, de um ano atrás (02/06/2023), a expectativa era que este ano terminasse com crescimento de 1,28%. Nessa ótica, é claramente um avanço.
Em entrevista recente ao Estadão, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que o mercado vem olhando a economia brasileira sob um novo ângulo no que se refere à possibilidade de crescimento. “Só de a gente ter uma perspectiva de crescimento em torno de 2,5% e 3% nos próximos anos, é uma mudança qualitativa muito grande em relação ao que a gente viu na última década”, disse.
O problema é que mesmo esse nível de crescimento seria completamente insuficiente para levar o Brasil a um outro patamar. E talvez jamais alcancemos o status de país desenvolvido continuando nessa toada.
Uma estimativa feita a pedido do Estadão pela equipe de economistas do C6 Bank traz um dado que pode ser revelador da nossa situação. Na lista de 41 países considerados “desenvolvidos” pelo FMI (levando em conta o PIB per capita pela paridade do poder de compra), o mais “pobre” seria a Grécia. O PIB per capita grego em 2022, nesse ranking, era de US$ 37,2 mil. O do Brasil, no mesmo ano, era de US$ 18,8 mil.
Para atingir o mesmo nível do PIB per capita grego de 2022, o Brasil precisaria crescer 2,3%, em termos reais, durante 30 anos ininterruptos. Se pretendesse chegar ao nível da Grécia em 20 anos, essa taxa de crescimento precisaria ser de 3,5% ao ano, todos os anos. E todos sabemos o quão difícil isso é.
Talvez falte ao Brasil um pacto de país, um plano de desenvolvimento e crescimento que extrapole os governos de plantão. Os diagnósticos até estão dados, mas as soluções são as mais díspares possíveis, não têm continuidade e não apontam para caminho nenhum.
Muito se tem falado, por exemplo, das possibilidades abertas para o Brasil com a emergência das mudanças climáticas. É uma oportunidade que praticamente caiu do céu para o País. Como disse também em entrevista recente ao Estadão a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, que tem atuação destacada na questão climática global, o Brasil tem todas as condições de assumir a liderança nessas discussões, e foi até mais longe: “O mundo anseia por isso.”
Mas vemos pouca coisa nesse sentido. Como estamos preparando, por exemplo, nossa mão de obra para toda a mudança que vem pela frente? Como os jovens vão lidar com um mundo cada vez mais exigente, com o avanço de tecnologias complexas como a inteligência artificial, em um país que ainda convive com números absurdos de analfabetismo e analfabetismo funcional em pleno século 21?
Os números do PIB mostram, no fim das contas, um pedaço pequeno dos nossos desafios.
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