Puxada pelos setores de serviços e indústria, a economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 3.
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) ficou dentro do esperado pelos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, cujo intervalo variava de alta de 0,5% a 1,2%. Mas veio um pouco acima da mediana das previsões, que era de alta de 0,8%.
Na comparação com o mesmo trimestre de 2023, o PIB avançou 4%.
O desempenho do terceiro trimestre mostra uma desaceleração em relação ao segundo, quando a economia brasileira avançou 1,4%, mas ainda é apontado como um bom resultado, considerando que se esperava um crescimento mais modesto para o período - as projeções, no início do trimestre, estavam abaixo de 0,5%.
“O terceiro trimestre mostra uma desaceleração no ritmo de crescimento, mas a economia ainda cresce em cima de um primeiro e segundo trimestres que foram robustos”, diz Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital. “É uma economia que está forte, crescendo acima do potencial.”
Ao longo de 2024, as projeções para o desempenho do PIB têm sido revisadas com frequência para cima - como já ocorreu em anos anteriores. Em janeiro, os analistas projetavam que o PIB iria crescer pouco mais de 1,5% em 2024. Agora, as previsões estão próximas de 3,5%.
“As informações acabaram mostrando uma economia mais forte do que imaginávamos para o terceiro trimestre”, diz Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da Tendências Consultoria.
No período de julho a setembro, o crescimento foi impulsionado mais uma vez pelos bons números do mercado de trabalho, que combina baixa desocupação e aumento da renda do trabalhador. No trimestre encerrado em outubro, a desocupação foi de 6,2%, a mais baixa série histórica da Pnad Contínua, do IBGE.
O avanço da economia também pode ser explicado pelos impulsos fiscais, como os efeitos do reajuste real (acima da inflação) do salário mínimo, que reverberam nos benefícios sociais e na Previdência e ajudam a impulsionar a demanda interna.
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No terceiro trimestre, pelo lado da demanda, a taxa de investimentos na economia (ou formação bruta de capital fixo) continuou a crescer e avançou 2,1%. O consumo das famílias cresceu 1,5% e o do governo subiu 0,8%. Houve queda nas exportações (-0,6%) e alta nas importações (1,0%).
“Há aumento de investimento público, as concessões andando e mais desembolso do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em relação ao que tínhamos nos anos anteriores”, diz Alessandra. Na comparação com o terceiro trimestre de 2023, os investimentos cresceram 10,8%.
No terceiro trimestre, a taxa de investimento foi de 17,6% do PIB, um número melhor do que os 16,4% registrados no terceiro trimestre de 2023. O número é o maior para o período desde 2022 (18,3%). A taxa de poupança foi de 14,9%, abaixo dos 15,4% do mesmo trimestre de 2023.
Pelo lado da oferta, houve um crescimento da indústria (0,6%) e do setor de serviços (0,9%). Com o resultado da safra concentrado no primeiro trimestre, a agropecuária recuou 0,9%.
“Na nossa avaliação, o que surpreendeu foi a indústria. Ela acabou crescendo até mais do que esperávamos (no início do trimestre)”, afirma Natália Cotarelli, economista do Itaú.
Economia deve desacelerar
A avaliação dos analistas é a de que a economia deve seguir em desaceleração no quarto trimestre, mas ainda apresentará algum crescimento. O que ajuda a explicar a expectativa pelo ritmo mais fraco do avanço do PIB é a piora dos ativos brasileiros.
A incerteza fiscal subiu de patamar com a apresentação do pacote de contenção de gastos e o projeto de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o que provocou uma desvalorização do real - a moeda americana fechou acima de R$ 6 pela primeira vez - e a subida dos juros.
Por causa das medidas, boa parte de bancos e consultorias começou a rever as projeções para a taxa básica de juros, atualmente em 11,25%. Com base na mediana do sistema de expectativas, que dá base para o relatório Focus, do Banco Central, a previsão dos analistas consultados é a de que a Selic deve chegar ao patamar de 13,25% até maio de 2025.
“Essa situação de política monetária mais apertada e um impulso fiscal menor deve resultar numa desaceleração’, diz Tatiana.
Há ainda uma grande incerteza com a economia internacional depois da vitória de Donald Trump na eleição presidente dos Estados Unidos. O republicano promete impor tarifas de importação e restringir a imigração, o que deve tornar o mercado de trabalho ainda mais apertado. São medidas, portanto, que podem dificultar uma queda mais acentuada dos juros nos EUA.
“As medidas defendidas por Trump na campanha devem trazer um adicional (de fortalecimento) para o dólar em relação às principais moedas”, afirma Alessandra. “E ele caminhando seja na parte das tarifas, seja na parte dos impostos, seja na parte da deportação, isso também deve refletir em mais inflação e um Fed que reduz menos os juros em 2025″, diz. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias emergentes e mais arriscadas, como é o caso da brasileira.
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