A economia brasileira voltou a surpreender no segundo trimestre. O crescimento do Produto Interno Bruto de 1,4% em relação aos três meses anteriores veio acima do previsto pelos analistas (0,9%). Como ocorreu em anos anteriores, os bons números desencadearam revisões positivas para as projeções de PIB. Em janeiro, os analistas consultados pelo relatório Focus, do Banco Central, projetavam uma alta de 1,6% para a atividade econômica em 2024. Agora, as previsões saltaram para a faixa de 3%.
Entre os economistas, há um debate se as reformas realizadas pelo Brasil nos últimos governos - como a trabalhista e a da Previdência - contribuíram para o aumento do PIB potencial brasileiro, o que ajudaria a explicar a capacidade que o País tem mostrado de crescer num ritmo mais acelerado.
Essa eventual melhora tem se somado a fatores mais pontuais, como a um mercado de trabalho bastante aquecido. O desemprego está em queda e a renda do trabalhador, em alta. Em julho, a taxa de desocupação recuou para 6,8%, e vários setores têm relatado falta de mão de obra.
Além disso, uma parcela relevante dos brasileiros tem se beneficiado das transferências governamentais. Como promessa de campanha, o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a corrigir o valor do salário mínimo pela inflação do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos antes. O governo também realizou o pagamento de precatórios (dívidas judiciais da União) e antecipou o 13º salário para aposentados.
No segundo trimestre, impulsionado pela força do emprego e por todas essas medidas, o consumo das famílias cresceu 1,3% na comparação com o primeiro trimestre, contribuindo de forma significativa para o bom resultado do PIB do período.
Os analistas chamam a atenção para o fato de que essas medidas fiscais têm efeito pontual na economia. Um crescimento acelerado e sem desequilíbrios - como a volta da inflação, por exemplo - depende dos investimentos. Em 2024, a formação bruta de capital fixo deve voltar a subir, depois da queda observada no ano passado.
No segundo trimestre, a formação bruta de capital fixo marcou 16,8% do PIB - um resultado pouco superior ao observado no mesmo período do ano passado. No auge, entre 2010 e 2013, no entanto, os investimentos chegaram a superar o patamar de 20% do PIB.
No cenário de hoje, a melhora dos investimentos terá de vir, sobretudo, do setor privado. Com a fragilidade das contas públicas, há pouco espaço para o setor público investir.
O Brasil enfrenta um descompasso importante nas finanças públicas. Ao longo dos últimos anos, o País aumentou o tamanho da sua dívida, porque gasta mais do que arrecada. Atualmente, o endividamento brasileiro é elevado para uma economia considerada emergente, o que faz crescer a percepção de riscos dos investidores com o futuro do País.
Em 2024, os analistas consultados pela pesquisa Focus, do Banco Central, projetam que a dívida bruta será de 78,2% do PIB. Ela atingirá o seu pico em 2032, quando chegará a quase 90% do PIB.
Com o arcabouço fiscal, nova regra para controle das contas públicas, a equipe econômica promete entregar um resultado primário zero (equilíbrio entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida) neste e no próximo ano. E alcançar um superávit de 0,25% do PIB em 2026.
Como resultado, uma economia aquecida - tanto pelo mercado de trabalho como pelos estímulos fiscais - tem levado a um aumento das expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Embora os economistas acreditem em alguma moderação da atividade no segundo semestre, uma parte relevante deles avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) terá de subir a taxa básica de juros (Selic) se quiser trazer a inflação para o centro da meta, que é de 3%.
Por ora, as projeções para o IPCA são de 4,26% para 2024, 3,92% em 2025 e 3,60% para 2026. A próxima reunião do Copom está marcada para 17 e 18 de setembro. Atualmente, a Selic está em 10,5% ao ano.
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