RIO - O Produto Interno Bruto (PIB) per capita brasileiro vinha crescendo acima da média global nos últimos três anos, reduzindo assim sua distância para o patamar médio mundial, segundo cálculos do pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. Entretanto, se as previsões atuais para o crescimento da atividade econômica do Brasil e do mundo se confirmarem, a defasagem do PIB per capita do Brasil para o do mundo voltará a aumentar em 2025.
Em 2024, o PIB per capita do Brasil subiu a um ápice histórico de US$ 19.594 — segundo a conversão em paridade de poder de compra em dólares —, resultado 7,3% menor que os US$ 21.139 da média mundial. Essa defasagem chegou a -8,6% em 2021, descendo a -8,5% em 2022, -7,9% em 2023, até os -7,3% de 2024.
“Em 2025, a elevação dos juros tem a intenção de desacelerar o crescimento e a expansão do emprego, o que tende a exigir mais da produtividade para o PIB não parar de crescer. Voltamos a crescer mais do que o mundo nos últimos anos e seria lamentável se interrompêssemos essa tendência antes de voltarmos a alcançar pelo menos o PIB per capita mundial”, avaliou Hecksher.

Em meio às elevadas incertezas globais, agravadas pelo tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a estimativa de alta para o PIB global neste ano está, por ora, em 3,1%, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para o PIB brasileiro, a projeção é de um avanço de 2,1%.
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“Se as duas previsões acertarem, nossa distância para o mundo volta a aumentar”, explicou o pesquisador do Ipea.
Os cálculos de Hecksher têm como base os dados das Contas Nacionais Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informações do Banco Mundial e projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). A conversão pelo método de Paridade de Poder de Compra (PPC) não considera a cotação da taxa de câmbio de mercado, mas sim o valor necessário para comprar a mesma quantidade de bens e serviços no mercado interno de cada país em comparação com o mercado nos Estados Unidos.
Antes de ceder para abaixo da média global, em 2016, o PIB per capita brasileiro rodou acima do patamar médio mundial por pelo menos 16 anos, entre os anos 2000 e 2015, aponta a série histórica calculada por Hecksher. No ano de 2011, o PIB per capita brasileiro chegou a ser 12,9% superior ao global: US$ 18.545 para o resultado brasileiro ante US$ 16.420 da média mundial.
Em 2016, o PIB per capita brasileiro começa a perder para a média global, ficando 3,3% inferior. Após anos de piora contínua, a defasagem do PIB per capita brasileiro chegou a uma distância máxima de 8,6% abaixo da média mundial, em 2021.
“Somos classificados como país de ‘renda média alta’, mas nosso PIB per capita está abaixo da média mundial desde 2015. Chegamos a ter um PIB per capita 12,9% maior que o mundial em 2011, mas passamos a crescer menos do que a média mundial, que nos ultrapassou em 2015, quando nosso PIB per capita estava em queda. No pior momento, em 2021, chegamos a ficar 8,6% abaixo da média. Nos três anos seguintes, crescemos mais do que a média e reduzimos nossa desvantagem para 7,3%”, resumiu Hecksher.
O pesquisador justifica que o Brasil enfrentou uma sucessão de crises entre os anos 2014 a 2021.
“Mesmo quando recuperamos algum crescimento, em 2017, 2018, 2019 e 2021, crescemos sempre em ritmo mais lento que o mundial. E em 2020, a pandemia prejudicou mais a saúde e a economia no Brasil do que no resto do mundo. Só em 2022, 2023 e 2024 voltamos a crescer mais do que a média mundial. O ideal seria mantermos essa aproximação pelo menos até voltarmos a superar a média mundial”, defendeu.