Após a economia ter ficado parada no quarto trimestre de 2023, o mercado financeiro projeta um crescimento de 0,7% no primeiro trimestre deste ano, segundo a mediana das estimativas dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) vão de um crescimento mínimo de 0,4% a um teto de 1,2%. O número será divulgado pelo IBGE nesta terça-feira, às 9 horas.
Para o ano, as estimativas apontam para um crescimento de 2,1% - com projeções que vão de 0,8% a 2,5%.
Na avaliação dos economistas, o aumento da renda disponível deve impulsionar o consumo das famílias e garantir essa alta no primeiro trimestre.
“O consumo resiliente é algo que estamos destacando há algum tempo”, diz o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos - que prevê uma alta de 0,6% para o PIB no trimestre. “É reflexo de um mercado de trabalho sólido e da alta real dos salários. Houve também transferências fiscais adicionais com o pagamento de precatórios, o que impulsionou o consumo, sobretudo no comércio varejista.” No final do ano passado, o governo quitou precatórios cujo pagamento havia sido postergado, injetando dinheiro na economia
Margato chama atenção ainda para a expectativa de recuperação do investimento no período. Ele projeta alta de 4,5% para a Formação Bruta de Capital (FBCF, a conta dos investimentos na economia), após avanço de 0,9% no último trimestre do ano passado. “É importante pontuar que houve retomada da produção de caminhões, que tombou quase 40% em 2023″, afirma o economista, que também atrela a alta prevista para a FBCF ao nível mais baixo da taxa Selic.
O economista Gabriel Couto, do Santander Brasil, prevê um avanço ligeiramente maior, com projeção de alta de 0,8% para o PIB do primeiro trimestre. “A questão dos precatórios é bastante relevante porque vimos um impulso na renda das famílias”, diz. Couto também cita a influência do mercado de trabalho aquecido e da perspectiva de início da recuperação dos investimentos para esse prognóstico.
Pelo lado da oferta, acrescenta, o principal destaque deve ser a agropecuária, apesar da safra menor que a registrada no ano passado. “O agro terá um efeito bem positivo nesse começo do ano, embora em 2024 ele tenda a apresentar uma variação ligeiramente negativa”, afirma.
O economista-chefe do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, também destaca o impulso da renda disponível para as famílias em sua projeção de crescimento de 0,9% para o PIB do trimestre, e ressalta a importância do setor de serviços para o desempenho do período.
Ele pondera que a previsão é que, a partir do segundo trimestre, os estímulos à renda percam um pouco de força, mas destaca que, em uma visão do ano inteiro, a renda deve ser protagonista no crescimento da atividade econômica no primeiro semestre. Para o segundo semestre, os setores mais dependentes do crédito devem ganhar fôlego, como a indústria e o comércio de bens duráveis, sob os efeitos defasados do processo de afrouxamento monetário.
Ano fechado
O Santander revisou recentemente a projeção de crescimento do PIB de 2024, de 1,8% para 2%. Segundo Couto, o aumento foi motivado pelo mercado de trabalho mais aquecido, mas foi parcialmente compensado pelo efeito de baixa estimado como consequência da situação no Rio Grande do Sul.
O MUFG, por enquanto, mantém projeção de crescimento de 2,1% para o PIB do ano. Pedroso, porém, cita os desdobramentos das enchentes no Rio Grande do Sul como principal risco para uma possível revisão da estimativa.
A XP também conservou a projeção para o PIB do ano, de 2,2%, mas adicionou viés de baixa recentemente. Além das consequências do evento climático, Margato afirma que a perspectiva de um nível mais restritivo de Selic do que o antes imaginado também pode contribuir para moderar a atividade. A XP projeta a taxa básica de juros em 10% no fim do ciclo de cortes, mas reconhece a possibilidade de uma Selic ainda mais alta.
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