O cancelamento, ontem, do depoimento do advogado Roberto Teixeira à Comissão de Infra-Estrutura do Senado foi uma dupla vitória do Planalto. Na terça-feira, o governo monitorou o tempo todo Teixeira, que é compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e só aceitou que ele confirmasse presença na comissão quando ficou claro que o depoimento não se transformaria em uma sessão de acareação com os empresários Marco Antônio Audi, Marcos Haftel e Luiz Gallo. Caso Varig: entenda as denúncias Audi, Haftel e Gallo, que são os sócios brasileiros do fundo de investimentos norte-americano Matlin Patterson na Varig, comunicaram à Comissão de Infra-Estrutura, no início da noite de terça-feira, que não poderiam comparecer. A prioriade para eles era acompanhar um julgamento no Tribunal de Justiça de São Paulo (ver reportagem na pág. B4). Na ausência dos empresários, o Planalto liberou Teixeira para depor, mas a oposição, ao pedir o cancelamento da sessão, tornou o clima político ainda mais confortável para o governo. A base aliada comemorou a atitude da oposição. Para o senador Delcídio Amaral (PT-MS), vice-presidente da Comissão, a atitude dos adversários acabou enterrando uma crise que, no diagnóstico oficial do governo, era artificial. "Trata-se de uma briga de sócios, uma guerra comercial", argumentou Delcídio. "Depois do que ocorreu, dificilmente esse assunto retornará à pauta, com festa de São João e campanha eleitoral pela frente." Para atender às preocupação iniciais do Planalto, Roberto Teixeira chegou a dizer à comissão que não aceitava ser questionado ao lado dos empresários. O argumento era que o ato de acarear é típico das comissões parlamentares de inquérito (CPIs), e não das comissões temáticas do Senado. Houve vários contatos telefônicos entre Teixeira e emissários do Planalto na véspera do depoimento. O governo temia que o temperamento explosivo do advogado pusesse tudo a perder, expondo Lula e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, acusada por Denise Abreu, ex-diretora da Anac, de pressionar a favor do negócio da transferência do controle acionário da VarigLog para a Volo do Brasil S.A. Um auxiliar direto do presidente Lula telefonou para Teixeira, na terça-feira, e tentou demovê-lo da intenção de comparecer à comissão. O advogado ponderou com razões de caráter empresarial para atender ao convite dos senadores. Disse que queria defender o seu escritório de advocacia das denúncias de Denise Abreu, que o acusou de ter praticado atos "imorais" e até ilegais. Quando ficou claro que não haveria acareação e o depoimento dele, sozinho, não ameaçaria o governo, os interlocutores da Presidência pediram que ele desse ênfase especial à defesa da ministra Dilma, que destacasse que a chefe da Casa Civil não fizera pressão nas negociações para que a Anac aprovasse o negócio. Ontem pela manhã, em uma reunião no Planalto, antes do início da sessão na Comissão de infra-estrutura, o presidente Lula demonstrou tranquilidade diante da iminência do depoimento e teria dito, segundo um assessor que falou com o Estado: "O Roberto gosta disso, do enfrentamento". Munido de uma mala cheia de processos e documentos e de um programa Power Point para ilustrar sua exposição, Teixeira chegou confiante à Comissão de Infra-Estrutura do Senado, na manhã de ontem, certo de que falaria sozinho. Enquanto aguardava o início da audiência pública, na ante-sala da comissão, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ainda tentou convencer Teixeira a ir embora sem depor. Ele bateu o pé. O líder do DEM, senador José Agripino (RN), argumentou no requerimento de adiamento da sessão de Roberto Teixeira, aprovado por unanimidade, que seria "inconveniente" ouvir o advogado sem a contestação dos sócios da operação VarigLog-Volo, de quem ele foi advogado, mas que hoje são seus desafetos. "Não podemos ficar só com uma versão", argumentou. "Nós dispensamos Roberto Teixeira para ele não ter a desculpa de que não voltará porque já depôs", afirmou Agripino, negando ter colaborado com o Planalto. "Ouvi-lo sem as provas na mão seria dar um tiro no pé: ele iria dizer o que quisesse e não haveria como contradizer suas versões." Apenas 2 dos 23 integrantes governistas da Comissão de Infra-Estrutura estavam presentes, os senadores Delcídio Amaral (PT-MT) e Renato Casangrande (PSB-ES). Cinco deles bastariam para derrubar o requerimento de adiamento, mas o que o Planalto queria mesmo era que, depois de evitar a sessão-acareação, nem mesmo o depoimento solitário do advogado fosse levado adiante. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo e um dos articulares do esquema para esvaziar o depoimento de Roberto Teixeira, disse que não se mobilizou "nem para o sim nem para o não". "Esta é uma questão privada, os esclarecimentos já foram dados no reunião anterior (da ex-diretora da Anac, Denise Abreu)", justificou. Hoje, ele acredita que "o assunto morreu". Para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), ficou claro que o governo não queria que Roberto Teixeira se manifestasse. "Achei estranho, eles (governistas) nem mesmo terem dado quórum para o depoimento. Se não fosse a oposição, a reunião nem seria aberta", disse. A oposição disse ontem que vai voltar a convocar Teixeira e os três empresários. A data ainda não foi marcada.
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