Os apelos e as pressões para o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzir a taxa básica de juros (Selic) são muitos. A principal dessas vozes é a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, desde o início do seu terceiro mandato, tornou-se um crítico da gestão de Roberto Campos Neto no comando do Banco Central.
Na quarta-feira, 21, o Copom manteve novamente a Selic em 13,75% ao ano e, ao contrário do que boa parte do mercado esperava, não indicou um início do corte dos juros para a próxima reunião, em agosto. Com a melhora do quadro inflacionário, os analistas esperavam, pelo menos, uma sinalização de algum afrouxamento monetário.
“O Copom foi muito mais duro do que as pessoas esperavam”, disse Fabio Kanczuk, ex-diretor do BC. “A mediana das pessoas estava esperando alguma sinalização de que haveria um movimento para baixo em agosto, mas (o BC) não deu sinal nenhum”, afirmou ao Estadão.
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No comunicado divulgado depois da reunião, o Copom afirmou que a “manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.
Em Roma, na Itália, Lula voltou ao ataque nesta quinta-feira, 22. Disse que a taxa de juros é irracional e que Campos Neto — escolhido por Jair Bolsonaro para comandar o BC — joga contra o País. “É irracional o que está acontecendo no Brasil, uma taxa de 13,75% e inflação de 5%”, afirmou.
Se antes restritas ao governo, as críticas ao BC também passaram a vir do setor produtivo com mais força nas últimas semanas. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, afirmou que “não há no Brasil nenhuma atividade econômica que possa pagar os juros tão elevados como estamos vendo hoje”. No varejo, a empresária Luiza Trajano disse ter ligado ”mais de 20 vezes para Campos Neto” por causa da Selic alta.
Projeções para a inflação
“O Banco Central está vendo um risco com a inflação futura que faz com que ele tenha essa decisão bastante cautelosa e conservadora”, afirmou Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
O que os analistas dizem é que o Copom tenta levar as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 e 2025 para mais próximo da meta, que é de 3%. No último relatório Focus, as expectativas dos analistas consultados para esse biênio estavam em 4% e 3,8%, respectivamente. No comunicado, depois da reunião do Copom, o Comitê indicou que a inflação no seu cenário de referência é de 3,4% para este ano.
“Idealmente, o Banco Central quer que a projeção dele e as expectativas da pesquisa Focus convirjam para a meta”, afirma Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank. “Quando a projeção dele estiver mais perto da meta, eu acho que o BC vai ficar mais confortável em cortar juros.”
CMN e arcabouço
As próximas semanas devem ser fundamentais para pavimentar esse caminho de redução das expectativas e abrir um caminho para, enfim, reduzir Selic.
Na quinta-feira, 29, o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne para decidir qual será a meta de inflação a ser cumprida em 2026, mas também poderia usar o encontro para rever a dos anos anteriores (2024 e 2025). O órgão é composto pelo presidente do Banco Central, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.
O debate sobre mudar as metas de inflação chegou a ganhar força no governo, mas perdeu força e se dissipou. “Se houver alguma mudança na meta, você muda o patamar da discussão para pior”, afirma Vale.
O segundo ponto importante é a cara final do arcabouço fiscal, que estabelece regras para as contas públicas do País. O texto foi aprovado no Senado, mas vai voltar para a Câmara dos Deputados. A votação deve ocorrer em julho.
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