O dólar, nesta segunda-feira, 16, fechou em alta de 1,03%, a R$ 6,0934, a terceira consecutiva, e renovou a cotação recorde em três décadas do real. O salto na cotação ocorreu apesar da intervenção do Banco Central (BC). Pela manhã, a autoridade monetária realizou leilão com compromisso de recompra e venda de moeda à vista, em operações que somaram US$ 4,628 bilhões (R$ 28,2 bilhões, ao câmbio do fechamento).
É o terceiro dia útil com leilões do câmbio desde que o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, aumentou a taxa básica de juro (Selic) para 12,25%. em esforço para tentar frear a inflação diante da desconfiança do mercado sobre a disposição do governo federal de conter os gastos públicos.
Além da demanda por divisas típica de fim de ano, para remessa de lucros e dividendos por empresas, analistas afirmam que o real continua a sofrer com a deterioração do sentimento de risco local. Ao temor de desidratação do pacote fiscal no Congresso, há uma piora contínua das expectativas de inflação, apesar do aviso de mais altas da taxa Selic pelo BC. Leia mais abaixo a explicação de cada fator.
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Risco de desidratação do corte de gastos
Segundo operadores, o real sofre com as incertezas fiscais, diante do risco de desidratação das medidas de contenção de gastos durante a tramitação no Congresso.
O governo Lula anunciou um pacote de cortes de gastos com o objetivo de dar uma sobrevida ao arcabouço fiscal (o instrumento que substitui o teto de gastos aprovado pelo Congresso em 2016 e introduzido no governo Temer) e retomar a confiança no equilíbrio das contas públicas.
A equipe econômica estima uma economia de R$ 327 bilhões em cinco anos com as medidas, enviadas ao Congresso Nacional. Entre as propostas estão a limitação do crescimento do salário mínimo e mudanças nas regras do abono salarial e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), além de combate aos supersalários do funcionalismo público e ajustes na previdência dos militares.
Ainda não convencido de que esse plano sairá do papel, há quem prefira investir em dólares, em vez em papéis sensíveis à política econômica brasileira.
Piora da percepção do mercado sobre a economia
Nesta segunda-feira, 16, o Boletim Focus, com a síntese do sentimento do mercado em relação aos próximos seguintes, evidenciou o agravamento da deterioração das expectativas de inflação, apesar de o Copom ter acenado com mais duas altas de 1 ponto porcentual da taxa Selic na tentativa de controlar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva críticas ao aumento da taxa de juros feito pelo BC, veiculadas em entrevista ao Fantástico, na véspera, contribuíram para ampliar entre investidores a desconfiança sobre o compromisso do governo em cortar despesas.
Ainda nesta segunda-feira, o Tesouro Nacional divulgou levantamento em que aponta piora da dívida pública e atribui essa deterioração ao novo ciclo de alta do juro e ao aumento do saldo negativo entre as despesas e a arrecadação do governo (o chamado déficit primário). Prevê que a dívida bruta pública chegue feche 2024 em 77,7% do Produto Interno Bruto (PIB) — a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pelo País —, avance para 79,7% em 2025 e chegue a 81,7% em 2026, quando se encerra o atual mandado.
Busca de ‘proteção cambial’ diante da incerteza
Analistas veem uma demanda por proteção cambial que reflete o aumento da percepção de risco fiscal. Além de serem consideradas insuficientes, as medidas de contenção de gastos do governo podem ser diluídas no Congresso, que tem prazo exíguo para aprová-las ainda neste ano. O recesso parlamentar começa no dia 23 e vai até 1º de fevereiro de 2025.
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Demanda reprimida pela moeda americana
Conforme operadores do câmbio, o leilão de venda à vista não chegou a ser uma surpresa, tendo em vista que há uma demanda reprimida por divisas neste fim de ano. Havia empresas e fundos esperando o dólar cair para comprar. Como isso não aconteceu, vieram ao mercado agora para fazer as remessas de fim de ano porque esta é a última semana com liquidez de fato no mercado. /Com Antonio Perez
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