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Person signing a Brazilian work card (carteira de trabalho). Employee hiring concept. Foto: Brenda Blossom/Adobe Stock
Foto: Brenda Blossom/Adobe Stock

Por que o número de brasileiros que saem do trabalho por vontade própria tem batido recorde?

Trabalhadores aproveitam o bom momento do mercado de trabalho para trocar de emprego; em 12 meses até agosto, 8,2 milhões pediram demissão de forma voluntária

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Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Foto do author Leonardo Godim
Atualização:

Com o mercado de trabalho aquecido, muitos profissionais estão aproveitando o bom momento para trocar de emprego, buscando melhores salários, mais benefícios, aumento do tempo livre e chances de crescimento e desenvolvimento.

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Segundo levantamento feito pela empresa de recrutamento Robert Half, enquanto o desemprego geral do País está em 6,6%, o de profissionais qualificados, acima de 25 anos e ensino superior completo, é de 3,5%. “Isso está abaixo do pleno emprego, o que acirra a briga pelos talentos”, diz o diretor da companhia, Lucas Nogueira.

Esse cenário ajuda a explicar a elevada rotatividade no Brasil, que está hoje em 34,74%, de acordo com estudo da consultoria Tendências realizado com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que considera o emprego com carteira de trabalho assinada. Isso quer dizer que, para cada 100 funcionários, cerca de 35 deles deixaram a empresa ou foram substituídos por novos trabalhadores nesse período nos 12 meses até agosto.

“Em resumo, uma rotatividade de 34,7% indica que cerca de um terço da força de trabalho foi renovada”, afirma Lucas Assis, economista da Tendências e responsável pelo estudo. “E é importante destacar que a rotatividade acontece majoritariamente no primeiro ano (de vínculo).”

Além disso, em agosto, a quantidade de trabalhadores que pediu demissão de forma voluntária bateu recorde, também de acordo com dados do Caged. Foram 755,2 mil desligamentos a pedido do empregado. Em 12 meses, esse número chegou a quase 8,2 milhões.

“Desde novembro do ano passado, o nível de demissões voluntárias cresceu muito e tem aumentado consistentemente. Se no início deste ano diversos analistas tinham um pé atrás sobre o quanto o mercado estava aquecido, parece não haver mais dúvida hoje”, afirma Janaína Feijó, pesquisadora da área de economia aplicada do FGV/Ibre.

Isabelle Paes, de 25 anos, contribuiu para essa onda observada no mercado de trabalho. Formada em rádio, TV e internet, trocou de emprego duas vezes desde o fim do ano passado. Na primeira agência em que trabalhou, de onde saiu em dezembro, entrou como estagiária e foi efetivada. Permaneceu contratada por quatro anos. “Mas havia uma falta de reconhecimento, de promoção salarial”, afirma.

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Desse primeiro emprego, Isabelle se transferiu para outra agência, mas permaneceu apenas por quatro meses, até chegar ao atual. Um dos motivos que a desestimulou foi a cobrança de atividades que não diziam respeito ao seu trabalho. Ela se candidatou, então, a várias vagas. “Estava em dois processos seletivos quando aceitei a vaga do meu atual emprego. O salário das outras propostas era mais baixo e os benefícios também”, afirma Isabelle.

Desde o fim do ano passado, Isabelle Paes, de 25 anos, trocou de emprego duas vezes Foto: Alex Silva

“Uma das agências, por exemplo, era na Vila Olímpia e oferecia vale-refeição de R$ 20. Não dá para comer com R$ 20. E a alimentação está cara - ainda mais se você quer ter uma alimentação saudável. Isso pesou bastante para mim. A minha agência hoje é na mesma região, mas o benefício é melhor.”

Ana Guimarães, de 33 anos, trocou de emprego em maio. Hoje, trabalha na área de eventos corporativos numa farmacêutica, sediada em São Paulo. Antes, teve uma rápida passagem por um hospital. Permaneceu um ano e seis meses na empresa - o que ela considera pouco, uma vez que tinha ficado sete anos na vaga que ocupou antes. Mudar de emprego não foi uma decisão fácil, conta; mas queria achar um lugar onde pudesse se desenvolver profissionalmente. “Eu ficaria se pudesse, mas não sabia quanto precisava me esforçar para chegar em algum lugar. Então fiquei atenta, até aparecer algo”.

“Migrar de empresa foi uma opção que entendi que era melhor em termos tanto de remuneração quanto de crescimento profissional”, diz Ana. O último ponto foi o mais impactante. Segundo ela, a falta de um plano de carreira na empresa pesou mais que aspectos positivos, como uma equipe acolhedora e projetos estimulantes. Agora, está satisfeita. “Tenho muita oportunidade de aprendizado, atualização, e isso na área de eventos é muito importante. Vejo crescimento para mim aqui”.

Ana Guimarães, de 33 anos, trocou de emprego em maio e agora vê crescimento profissional Foto: Acervo pessoal/Ana Guimarães

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Wellington Melo, do Rio de Janeiro, atuou no comércio, como vendedor, por 11 anos – desde os 18, ele saía de casa seis vezes por semana, incluindo feriados, para trabalhar. Foi em 2024 que ele tomou a decisão que aguardava há muito tempo: saiu do antigo emprego e mudou de área. Hoje, Wellington é assessor de uma pequena empresa no Rio de Janeiro, com 6 funcionários, e não poderia estar mais feliz – mesmo recebendo só metade do ganhava antes.

“Continuo conseguindo pagar as contas, e agora tenho o final de semana livre, posso sair com meus amigos, estudar, aproveitar a praia do Rio de Janeiro, que está sempre um calor… Posso viver minha vida, e não só o trabalho”. Ele descreve em uma palavra sua decisão: “custo-benefício”.

“Foram três empresas de comércio que já trabalhei. Uma delas era em Vila Isabel. Moro em Jacarepaguá. Gastava 1h30 de ida e 1h30 de volta. Chegava em casa 23 horas, às vezes meia-noite, dependendo do ônibus. Vivi dois anos e meio nessa rotina”. Na assessoria, percebe esse salário menor como um início de carreira, e dá muito valor ao ambiente flexível oferecido pela empresa. Se puder, diz ele, ficará lá por muito tempo ainda.

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Salários em alta

Um mercado de trabalho aquecido também tem se refletido em ganhos salariais para os trabalhadores. As negociações salariais têm sido amplamente favoráveis para os profissionais. Em 12 meses até julho, 87,4% das negociações superaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de acordo com o Salariômetro, elaborado pela Fipe.

Apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o INPC mede a inflação para as famílias com renda de até cinco salários mínimos e serve de base para os sindicatos na hora da negociação.

“São duas coisas que se juntam para favorecer a posição dos trabalhadores neste momento. Primeiro, é a inflação baixa para o padrão brasileiro e, segundo, é o nível de atividade, que beneficia os trabalhadores”, afirma Hélio Zylbersztajn, professor sênior da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo. “As empresas precisam aumentar o salário para tentar reter os trabalhadores.”

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