Por que o preço do ovo subiu?, questiona Lula em discurso; especialistas explicam

Aumento no preço chega a 20% mesmo em regiões produtoras e tem como causas desde a demanda da exportação até a procura como alternativa à carne, também mais cara; entenda

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Os preços dos ovos comercializados no atacado e no varejo no Brasil têm registrado altas expressivas de janeiro para fevereiro, tendo acumulado acréscimos de 15% a 20% em regiões produtoras dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, os maiores fornecedores. A inflação desse alimento se tornou um problema nacional, a ponto de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ter afirmado nesta sexta-feira, 14: “Ovo está caro, e até hoje não encontrei explicação sobre o preço do ovo. Estou querendo descobrir onde tem ladrão que roubou o direito de comer ovo do povo”, disse o petista. “Estão jogando a culpa em cima das galinhas [...] não aceitamos isso.” Ao fim, ele chegou a dizer “Queremos encontrar quem é o pilantra que aumentou o ovo tanto” (veja vídeo).

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Uma das explicações, segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), é a grande demanda de ovos pelos Estados Unidos, que vêm enfrentando um surto de gripe aviária. No mês de fevereiro, os americanos adquiriram mais que o dobro do volume de ovos processados do que o registrado em janeiro.

Os Estados Unidos se tornaram o principal destino dos embarques brasileiros dessa categoria de produtos. No mês passado, foram exportadas 2,53 mil toneladas de ovos in natura e processados, alta de 7,2% em comparação com janeiro e 57,5% ante fevereiro de 2024.

Essa, porém, não é a única explicação, até porque as exportações representam pouco mais de 1% da produção brasileira. Em 2024, a produção de ovos registrou volumes recordes e o aumento da oferta fez com que os preços recuassem por seis meses consecutivos, de abril a setembro.

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Ao mesmo tempo, o custo de insumos como milho, farelo de soja e embalagens aumentou muito acima da inflação, tornando cenário crítico para os produtores. Com isso, houve menos reposição das matrizes, o que ocasionou uma oferta menor de ovos no período atual.

O custo do ovo está pesando mais no orçamento das famílias e se tornou tema de discurso do presidente da República Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Para o economista Fernando Iglesias, coordenador técnico a consultoria Safras & Mercado, a demanda está aquecida devido ao alto preço de outras fontes de proteína, como as carnes de frango, suína e bovina.

A demanda por carnes também está aquecida no exterior, o que deve manter os preços, tanto das carnes, como dos ovos, em patamar mais alto. “Para aumentar a produção, temos de respeitar o ciclo das aves poedeiras, então 2025 vai ser um ano difícil, pois os preços vão continuar caros.”

Com menos ovos no mercado interno, mais exportação e maior consumo, os preços dispararam.

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Contribui também o fato de estarmos no período de quaresma, na qual as pessoas normalmente reduzem o consumo de carne e consomem mais ovo. “As carnes estão mais caras, e a população migra para o ovo, isso é um processo natural”, diz Iglesias. O problema é que as altas temperaturas no verão brasileiro afetaram o conforto térmico das aves e o ritmo de postura caiu.”

A quaresma termina em 17 de abril, quando a temperatura também se torna mais amena. O calor excessivo também prejudicou a produtividade das aves. Assim, a previsão é de que haja uma queda nos preços dos ovos para níveis anteriores a janeiro.

‘Baixar alíquota de importação não vai resolver’

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Paulo Antônio Pusch Bertolini, avalia que a medida adotada pelo presidente Lula de zerar a alíquota de importação do grão para baratear o preço do ovo é inócua.

“Não vai resolver porque não temos de onde trazer o milho. E não é o milho que está encarecendo o ovo. O preço do milho é regulado internacionalmente e, se a gente exporta para mais de 100 países, significa que o preço é favorável para quem compra.”

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Para ele, faria mais sentido baixar o custo de importação dos insumos da agricultura. Ele lembra que o Brasil importa 85% dos adubos que consome.

“O milho hoje é afetado em função da precificação internacional e do câmbio, mas não dá para dizer que está caro. Este ano, vamos exportar de 30 a 40 milhões de toneladas, mas em 2023 exportamos 50 milhões. Não dá para pôr a culpa do preço alto do ovo no milho, embora seja um alimento importante e saudável para as aves.”

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