Possível reação da economia chinesa terá pouco impacto no Brasil

Economistas avaliam que estímulo à ecnomia brasileira no segundo semestre virá dos juros mais baixos e do maior acesso ao crédito

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Por Bianca Ribeiro e da Agência Estado
Atualização:

Sinais recentes de reação econômica da China podem refletir positivamente na atividade brasileira, mas a recuperação esperada no País para o segundo semestre deste ano deve vir mesmo do juro baixo e dos estímulos ao consumo concedidos na primeira metade deste ano. Ainda assim, os economistas acreditam que essa retomada deverá ser menos robusta do que o necessário - e pouco sustentável.

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Conforme dados divulgados no domingo, as exportações da China cresceram 15,3% em maio e as importações cresceram 12,7%, números bem superiores ao de abril e às estimativas de mercado. Para o Brasil, o dado é importante, pois trata-se de um grande parceiro comercial, mas os economistas acreditam que a recuperação neste primeiro momento virá do mercado interno e não, do externo.

O economista-chefe do Sul América Investimento, Newton Rosa, avalia que maiores compras da China podem reduzir o impacto restritivo gerado pela crise europeia que enfraqueceu as importações por parte do bloco, mas ainda não está claro a proporção do benefício ao Brasil. "Não sei se poderemos contar muito com isso", diz.

Mauro Rochlin, economista do Ibmec, acredita que um crescimento econômico da ordem de 8,5% a 9% na China deixa o Brasil em condições mais confortáveis para crescer 3% neste ano, variação que seria impraticável diante de uma desaceleração brusca, com expansão de 7,5%, do país asiático.

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Depois de um primeiro trimestre praticamente estagnado, com expansão de 0,2% do PIB ante os três meses finais de 2011, Rosa acredita que a atividade econômica pode crescer a uma taxa anualizada de 4% a 5% no segundo e terceiro trimestres. "Mas é aquele crescimento que dura pouco. Estamos amarrados à síndrome do voo da galinha", diz Rosa, que estima 1,9% para este ano.

Além do juro básico em queda, o mercado acredita que o estímulo adicional ao consumo por meio de crédito mais barato e corte de IPI promovidos pelo governo terão efeitos mais fortes a partir de agora. Rochlin avalia que o dólar mais valorizado, em torno de R$ 2, também pode impulsionar a atividade por conta do desestímulo às importações que, segundo ele, ficam 15% mais caras com a moeda nesse patamar.

Já no aumento das exportações, a apreciação da divisa deve demorar mais para ter efeito. "As relações comerciais internacionais levam mais tempo para serem formadas e para serem reestabelecidas", lembra Rochlin, ao justificar que deve demorar mais a recuperação desse lado da balança, inclusive por conta da crise internacional.

Considerando todos esses fatores, Rochlin acha que a economia deve acelerar já a partir deste segundo trimestre e somar alta de até 3% neste ano, carregando para 2013 a um avanço superior a 3%. O desempenho, nesse caso, seria melhor do que os 2,7% de 2011 e a alta de 2,5% prevista para este ano pela pesquisa Focus, mas é distante dos 7,5% de 2010.

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Newton Rosa lembra que o cenário externo continuará sendo um fator limitante, mas a aceleração interna do segundo semestre deve garantir que o PIB de 2013 tenha uma expansão de 4,6%. Nesta segunda-feira, o Boletim Focus voltou apontar redução da previsão do PIB em 2012, de 2,72% para 2,53% e de 2013, que passou de 4,5% para 4,3%

Essa retomada, no entanto, terá como ônus a geração de inflação e a possibilidade de novas doses de aperto monetário por parte do Banco Central. Esse movimento apenas confirmaria, segundo Rosa, que os ciclos de crescimento que dependem do ou do rumo do mercado externo ou de impulso a consumo interno são passageiros e pouco sustentáveis. Na avaliação do economista, o PIB potencial do Brasil, capacidade de crescer sem inflacionar a economia, é de 3% a 3,5%.

Para reduzir a exposição ao cenário internacional e buscar um crescimento mais firme e longo, os economistas concordam que a receita é o governo ampliar a poupança doméstica, investir mais e melhorar as condições de aporte também para o setor privado. Rochlin acredita que o governo está mais sensível nesse tema e que a gestão de recursos para investimentos deve melhorar quando os ministérios voltados para aportes em infraestrutura, como o de transportes, voltem a operar "normalmente".

"Caberia ao Estado melhorar a capacidade de investimento e rever também as despesas públicas", reitera Newton Rosa. Com proximidade de Copa, das Olimpíadas Rochlin acredita que deverá melhorar a coordenação de investimentos que ajudem a reaquecer a economia.

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