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Prates, indicado para a Petrobras, é visto como conciliador, mas política de preços deve ser desafio

Futuro presidente tem planos de transformar a estatal em uma empresa integrada de energia, com forte presença em fontes renováveis, como vêm fazendo petroleiras estrangeiras como Shell, Total e Equinor.

Atualização:

RIO - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou hoje o nome do senador Jean-Paul Prates (PT) para a presidência da Petrobras. O Estadão/Broadcast antecipou no dia 31 de outubro a escolha para a estatal do nome de Prates, que agora precisa passar pelo crivo dos órgãos internos de governança da petroleira.

Nos bastidores, Prates liderou a corrida pelo comando da estatal desde o resultado das eleições. Depois de iniciada a transição de governo, ele assumiu a coordenação do subgrupo de petróleo e gás e, nos últimos dias, superou desconfianças de alas do PT sobre a viabilidade do seu nome para a Petrobras ante a Lei das Estatais.

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O senador fez carreira como consultor de óleo e gás no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte antes de entrar para a política naquele Estado, chegando ao Senado em 2019 para substituir Fátima Bezerra (PT-RN), então eleita governadora. Antes, ocupou a secretaria de governo de Energia e foi dirigente do sindicato patronal do setor. Como senador, teve atuação marcada por projetos ligados à energia, sendo autor do projeto de lei que regulamenta a geração de energia eólica em alto mar. Aprovado no Senado, o texto tramita na Câmara dos Deputados.


Aos 54 anos, o carioca Jean Paul Prates é escolhido para comandar a Petrobras Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado 


Ao contrário do que reza a cartilha para quem atua em transições de governo, o senador se colocou como o nome mais forte para a Petrobras desde o primeiro momento. Abriu sua visão para o futuro da empresa em entrevistas e artigos à imprensa, momentos em que revelou simpatia por uma entrada forte da estatal em fontes de energia renováveis, diversificação de portfólio e ampliação da capacidade de refino.

Com acesso direto a Lula, Prates recebeu o apoio de correntes internas do PT e da cúpula da Federação Única dos Petroleiros (FUP), maior entidade sindical da categoria e voz importante na indicação do representante dos funcionários no Conselho de Administração da estatal, uma das 11 cadeiras do colegiado, que já conta com seis indicações do governo.

Não bastasse, o senador colecionou apoios fora do novo governo, ganhando o respaldo de colegas no Congresso Nacional, além de executivos e conselheiros da própria Petrobras e do setor de óleo e gás. Para essas fontes, Prates era o mais indicado ao cargo entre os nomes especulados por acumular conhecimento técnico e habilidade política. Ele é frequentemente descrito como “moderado e conciliador”.

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Capacidade técnica

“Jean-Paul (Prates) está envolvido com a indústria do petróleo desde antes do fim do monopólio. Participou e acompanhou a evolução do setor, e sabe o que é necessário para que uma empresa de petróleo, gás e energia seja exitosa”, disse o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro (PL), Décio Oddone, hoje presidente da petroleira independente Enauta.

Opinião semelhante tem o diretor da ANP no governo Fernando Henrique, David Zylberstein. “Ele (Prates) não é um estranho no ninho. Em relação às últimas indicações para a Petrobras, inclusive, é o que tem mais proximidade com segmento de óleo e gás.”


Planos e desafios na Petrobras

Sede da Petrobras no centro do Rio de Janeiro. REUTERS/Sergio Moraes 

Prates tem planos de transformar a Petrobras em uma empresa integrada de energia, com forte presença em fontes renováveis, como vêm fazendo petroleiras estrangeiras como Shell, Total e Equinor.

Em meio à transição energética, a empreitada é bem avaliada por especialistas como Zylberstein e o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, que atuou ao lado do senador na transição.

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Tocar um plano desse vulto em paralelo ao desenvolvimento da frente de exploração e produção de petróleo vai exigir volume de investimentos incompatível com os atuais super dividendos pagos a acionistas.

No curto prazo, porém, o desafio de Prates à frente da Petrobras será honrar o compromisso de campanha de Lula de “abrasileirar” os preços dos combustíveis sem causar grandes choques ao mercado que levem a desequilíbrios e ameaça de desabastecimento. Hoje o Brasil importa entre 20% e 30% do diesel que consome e reduções abruptas nos preços praticados pela Petrobras desestimulam importadores privados.

Prates tem indicado a intenção de ampliar a capacidade de refino da Petrobras, mas acredita, principalmente, em soluções de Estado, como a criação de um fundo estabilizador de preços.

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Ex-diretores gerais da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP), como Zylberstein, Oddone e Magda Chambriard, que esteve cotada para a Petrobras, são céticos em relação a essa estratégia, porque seria de difícil execução e consumiria recursos públicos com possíveis destinações sociais mais nobres.

Para a política de preços de combustíveis, diz Zylberstein, em que pese a competência técnica de Prates e a visão de futuro coerente com a transição energética, ele segue uma “incógnita”.

“Neste ponto (preços) ele é uma incógnita. Temo artificialismos que prejudiquem a lógica de mercado, mas falo sob ressalva, porque não parece haver nada definido”, diz o ex-diretor geral da ANP.

Especificamente sobre o PPI, Prates tem indicado a interlocutores que não planeja exatamente a sua extinção, mas sim adaptações a partir da mudança de parâmetros para evitar exposição à volatilidade do mercado externo e ajuste de valores à realidade de cada região do País.

Biografia

Jean Paul Prates é carioca e tem 54 anos. Ele se formou em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e em Economia pela PUC-RJ. Depois, fez mestrados em planejamento energético e gestão ambiental pela Universidade da Pensilvânia (EUA), e em Economia de Petróleo e Motores pelo prestigiado Instituto Francês do Petróleo (IFP), com sede em Paris.

No fim dos anos 1980, Prates teve passagem pela assessoria jurídica da Petrobras Internacional, a Braspetro. Depois, em 1991, fundou uma das primeiras consultorias especializadas em petróleo, que chegou a ter 120 consultores associados. Atuou como consultor de energia até 2018.

Embora tenha dado contribuições à redação da Lei do Petróleo, de 1997, e depois à criação do Contrato de Concessão e ao desenho da ANP, conforme assinala Zylberstein, Prates só ingressou formalmente na vida pública no início dos anos 2000, no Rio Grande do Norte.

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Então, elaborou um plano de planejamento energético para o governo do estado, onde depois se tornou secretário de energia. Em sua gestão, ele afirma ter atraído para a região mais de R$ 10 bilhões para investimentos ligados à energia, inclusive eólica. Filiado ao PT, fez carreira política e, em 2019, assumiu mandato como senador porque era o 1.º suplente de Fátima Bezerra (PT-RN), que deixou o Congresso para ser governadora, novamente com atuação dedicada ao setor energético.

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