Com chocolate, bacalhau e azeite mais caros, comércio prevê queda nas vendas de Páscoa

Cesta de oito produtos e serviços mais consumidos na data está 7,4% mais cara; chocolate lidera a lista, com aumento de quase 20% no preço, a maior variação em 13 anos, diz a CNC

Foto do author Márcia De Chiara

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A desvalorização do real em relação ao dólar e a disparada do preço do cacau, a matéria-prima básica do chocolate, no mercado internacional devem provocar neste ano a primeira queda de faturamento nas vendas de Páscoa desde a pandemia.

Em 2025, o varejo deve faturar por ocasião da Páscoa R$ 3,36 bilhões, segundo projeções da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É uma cifra 1,4% menor em relação à data de 2024, já descontada a inflação do período.

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“É a primeira queda desde o tombo de 2020”, afirma o economista sênior da CNC e responsável pelos cálculos, Fabio Bentes. Em 2020, na pandemia, houve um recuo de quase 50% no faturamento.

Até o ano passado, as vendas de datas comemorativas do varejo vinham crescendo baseadas no bom desempenho do mercado de trabalho, que é o principal lastro do consumo, diz Bentes. Agora, no entanto, esse dinamismo está se esgotando, por conta do desemprego muito baixo. “O principal fator que explica essa queda é o choque de preços dos produtos relacionados à data”, afirma o economista.

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Ovos de Páscoa estão mais caros principalmente por conta da alta do cacau Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Choque de preços

No ano passado, a cotação do cacau no mercado internacional subiu 189% e foi a commodity agrícola com maior valorização no período. Isso fez o preço do chocolate explodir, com reajuste de quase 20% neste ano, a maior variação em pelo menos 13 anos.

Outro fator que turbinou não só os preços do chocolate, mas também de outros itens muitos demandados nesta época, o bacalhau e o azeite de oliva, que são importados, foi a desvalorização do câmbio.

Na Páscoa do ano passado, o dólar estava perto de R$ 5 e hoje gira em torno de R$ 5,80. É uma desvalorização de 17%. Isso encarece os produtos da cesta de Páscoa e faz com que os varejistas repassem essa alta para os preços ao consumidor, observa Bentes.

O estudo da CNC mostra que uma cesta de oito produtos e serviços mais consumidos na data está neste ano 7,4% mais cara em relação a de 2024. Pelo terceiro ano consecutivo, o custo da cesta de Páscoa supera a inflação em geral do período, que é de 5,8%, segundo o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor-15), acumulado em 12 meses até março.

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Além do chocolate, que lidera o ranking dos maiores aumentos, com alta de 18,9%, constam na lista o bacalhau, que ficou 9,6% mais caro, e o azeite de oliva, com 9% de alta. “Se o consumidor se depara com preços subindo 10%, 20%, ele pensa duas, três vezes antes de consumir. Esse é o cenário da Páscoa deste ano.”

Um sinal de que o varejo está menos otimista para as vendas deste ano aparece nas importações de produtos típicos para a data. De acordo com registros da Secretaria de Comércio Exterior tabulados pela CNC, em março, mês que antecede a Páscoa, a quantidade importada de chocolates totalizou 1,43 mil toneladas, com recuo de 17,6% em relação ao ano passado.

Outro item importado muito consumido nesta época é o bacalhau, que registrou queda de 11,7% nas importações na comparação com março de 2024. “Se o varejo estivesse apostando em aumento de vendas, certamente estaria importando mais”, diz Bentes.

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